Ao longo da vida, todos nós passamos por evoluções. Você, hoje, lendo esta análise, provavelmente não é mais a mesma pessoa que era quando o game da Dontnod foi lançado, há quase um ano. Muito aconteceu desde então, e Polarized, o quinto episódio de Life is Strange, leva isso às últimas consequências. E acredite, por mais experiência que você tenha acumulado, ela não será suficiente para o que está por vir.
O jogo recomeça exatamente onde paramos no capítulo anterior – não se preocupe, vamos evitar os spoilers nesta análise – e, mais do que nunca, as habilidades recém-descobertas e ainda pouco compreendidas por Max são colocadas à prova. Ela, como o jogador, é colocada em uma situação de extrema pressão, e depende apenas de si mesma para se livrar daquilo.
Mais do que tudo isso, estamos vivendo as consequências de boa parte das decisões que tomamos ao longo dos quatro capítulos anteriores, e enxergando o desfecho de todos os nossos atos. Como nos momentos mais importantes da vida, quem você foi e as escolhas que tomou lá atrás definem o que acontece hoje. E, muitas vezes, a solução para tudo pode se encontrar lá no passado, em um único momento que mudou tudo.
Essas palavras iniciais podem dar a impressão de que estamos diante de um dos capítulos mais pesados da trama, e a resposta pode ser positiva e negativa, dependendo do seu ponto de vista. Life is Strange continua falando sobre abuso, danos, perdas e, principalmente, consequência. Ao mesmo tempo, muito acontece dentro da cabeça do jogador, ao mesmo tempo que na tela. Sabemos que estamos diante do desfecho, e a pressão para conseguir respostas só é equivalente ao medo de estragar tudo no final.
Ao mesmo tempo, temos aqui também aqueles momentos simples, outra das grandes marcas de Life is Strange, e porque não dizer, até engraçados. Mesmo em meio ao apocalipse que está tomando conta de Arcadia Bay, a Dontnod ainda consegue construir certas situações que podem parecer um tanto cômicas aos olhos do jogador, adicionando uma leveza mais do que necessária a todo o clima de tempestade que se avizinha.
Mais do que isso, algo que é raro em toda a trama: bons momentos. Por um breve período, parece que tudo vai acabar bem, com o vilão sendo encarcerado, a mocinha vencendo e os objetivos sendo alcançados. Mas como já falamos inúmeras vezes por aqui, Life is Strange é como a vida, e nada nunca fica totalmente tranquilo por muito tempo.
Se você é desses que espera ver tudo sendo resolvido e se tornando claro como água, é melhor colocar as barbas de molho.
Em clima de final de temporada, Polarized cumpre o que promete e entrega altos e baixos que não acontecem de repente, mas sim, de maneira natural. Aproveitando o último capítulo, a Dontnod brinca com a consciência de quem está jogando, entregando um trecho bastante tenso, digno dos principais jogo de stealth, e também uma viagem por um túnel do tempo que dá vontade de sentar e chorar.
Por outro lado, se você é desses que espera ver tudo sendo resolvido e se tornando claro como água, é melhor colocar as barbas de molho. O último capítulo de Life is Strange não entrega todas as respostas que deveria, e uma das principais delas, a razão pela qual Max desenvolveu os poderes que deram movimento à história, não vem.
Sabemos que estamos diante do desfecho, e a pressão para conseguir respostas só é equivalente ao medo de estragar tudo no final.
Se isso é um ponto negativo ou não, depende de cada um. Por um lado, é sim a ausência de um ponto importante da trama, que acaba não sendo elucidado. De outro, emite a ideia de que a nossa história, assim como a da protagonista, não se refere única e exclusivamente à gente, e sim, a tudo o que nos cerca. E, em muitos momentos, deixar o que nos interessa de lado para atender à necessidade do outro é o melhor a ser feito.
E então chegamos ao tão esperado desfecho, aqui, um dos únicos pontos a serem criticados em Polarized. Na hora de entregar um desfecho, a Dontnod faz questão de deixar claro exatamente qual é a melhor resposta para a pergunta final. Isso se dá pela diferença entre os dois encerramentos possíveis, um extremamente fraco, vazio e pouco conclusivo, enquanto o outro realmente é um encerramento com os elementos, cenas e, principalmente, trilha sonora necessárias para um fim de temporada como esta.
Parece esquisito pensar que um jogo tão baseado em escolhas e consequências, que nos fez repensar nossas próprias decisões e pensar em diversos caminhos possíveis, seja tão maniqueísta em seu final. Ao longo de toda a experiência de Life is Strange, sempre estivemos no limiar entre o que é “correto” ou “errado”. Ao final, entretanto, a produtora peca ao dar mais atenção e evidência para um suposto jeito certo de fazer as coisas, mesmo que aos olhos do jogador, essa não seja a melhor decisão possível.
Isso, de forma alguma, tira o brilho de Polarized ou da experiência de Life is Strange como um todo. O jogador, claro, é perfeitamente capaz de escolher aquilo que bem entender, mas a opção pode acabar não tendo o desfecho satisfatório. Uma pedra ao final do caminho, sem dúvida alguma, mas não suficiente para tirar do jogo o título de um dos melhores de 2015.
O jogo foi analisado na versão PlayStation 4.