Quando o primeiro Assassin’s Creed Chronicles chegou, houve um misto de esperança e decepção que fizeram a viagem da série a China carregar um gosto amargo de frustração. Mesmo com seu estilo mais simples, o título era a promessa de renovação dentro de uma série que já demonstrava sinais de cansaço. No entanto, o que vimos foi algo bem mediano e que, apesar de bonito, não empolgava.
E, por mais que isso tenha derrubado as expectativas em torno do episódio do game na Índia, a verdade é que essa segunda parte de Chronicles se revelou como uma evolução e tanto em relação àquilo que tínhamos visto anteriormente. Ainda que ele se baseie praticamente na mesma estrutura de seu antecessor, a Ubisoft conseguiu desenvolver vários pontos e melhorar praticamente todos os aspectos que deixaram a desejar no lançamento anterior.
Prova disso é que temos um personagem bem mais interessante e uma trama que se encaixa muito bem dentro da mitologia da série, aproveitando muito bem o período histórico em questão. Estamos na Índia, em pleno século XIX, com as forças do Império Britânico ainda oprimindo o povo do país asiático. E é meio a esse cenário bastante conturbado que encontramos Arbaaz Mir, um assassino que, entre um flerte e outro com a princesa, precisa recuperar uma Peça do Éden das mãos dos Templário na região.
Esse breve resumo já mostra o quanto Assassin’s Creed Chronicles: India consegue se diferenciar do capítulo na China ao nos trazer tanto um protagonista com personalidade e elementos históricos que se encaixam na fantasia criada pela Ubisoft. É o tipo de brincadeira que faz com que a série tenha se transformado no fenômeno que é, e que agora volta com força.
Depois de se reencontrar com Assassin’s Creed: Syndicate, a Ubisoft parece ter conseguido se ajeitar também com a linha Chronicles.
É claro que, por ser quase como um projeto menor dentro da franquia, o título deixa a desejar em desenvolvimento de personagens e na própria narrativa. Contudo, mesmo com as limitações impostas, consegue criar bons momentos e nos apresentar motivações interessantes e que justificam tudo o que está acontecendo. Seguir as vontades do credo é o básico, mas é preciso dar um passo a mais para criar um protagonista com personalidade — e isso Arbaaz Mir faz muito bem.
Assassin’s Creed Chronicles: Índia consegue ampliar também as mecânicas do capítulo anterior. Em termos de estrutura, o jogo segue basicamente o mesmo, mantendo a exploração em 2,5D com um foco muito maior no stealth. Contudo, enquanto China desperdiçava esses bons conceitos com cenários poucos criativos e que pouco exploravam essas características, as coisas são bem diferentes por aqui.
A Ubisoft parece ter ouvido as várias críticas feitas à primeira parte desta trilogia e correu para corrigi-las — o que justificaria o atraso em lançar Chronicles: Índia. Com um visual que homenageia diretamente a cultura indiana, o game oferece ambientes bem variados e que exploram muito bem a ação invisível do herói, evitando que as coisas fiquem repetitivas. Você sente estar passando por áreas diferentes e isso o motiva a sempre seguir por mais uma fase.
Assassin’s Creed Chronicles: India é o tipo de brincadeira que faz com que a série tenha se transformado no fenômeno que é.
Além disso, Arbaaz Mir conta com novas armas ao seu dispor, o que cria novos tipos de situações. As chakrams são discos que o herói pode arremessar tanto para acertar inimigos à distância quanto para criar armadilhas ou liberar seu caminho. É o tipo de acessório que aproveita o contexto local e expande as mecânicas — ainda que, na prática, você não dependa tanto dessa novidade.
Depois de se reencontrar com Assassin’s Creed: Syndicate, a Ubisoft parece ter conseguido se ajeitar também com a linha Chronicles. Se o game anterior era um amontoado de boas ideias em um jogo completamente sem alma, Índia consegue fazer com que esses conceitos se tornem mais interessantes ao trazer uma identidade própria. Com um personagem cativante e uma história relevante, ele é tudo aquilo que faltou no primeiro game.
É claro que isso não esconde suas limitações, mas isso está longe de ser um grande problema. Com um level design atraente e que mascara esses pequenos erros, você mal percebe a falta de variedade nas missões ou a pouca utilização de algumas armas. No todo, tudo funciona bem e de maneira orgânica — e é isso o que importa.
Assassin’s Creed Chornicles: Índia pode não ser o mais icônico game da série, mas mostra como a mudança de fórmula pode funcionar muito bem. E, acima de tudo, ele é a confirmação de que não há um toque de Midas por trás da série e que, na verdade, basta um pouco de cuidado e esmero para deixar os fãs felizes novamente.