Em 2000, a Capcom anunciou o cancelamento de uma versão do primeiro Resident Evil para Game Boy Color. Interessada em expandir a série para consoles portáteis, o game acabou tendo seu desenvolvimento interrompido por estar fora dos padrões de qualidade da empresa. A produção de um título para o console de mão, então, passou para a desenvolvedora M4 que, em 2002, lançou RE Gaiden.
Durante o curto período de vida do título para o Game Boy, pouco foi se falado, além do fato de que o port seria fiel ao Resident Evil original. Apesar de a Capcom ter liberado várias imagens e vídeos do título ainda em produção, quase não se comentou sobre como a desenvolvedora estava realizando esse trabalho. Afinal de contas, o game tinha várias peculiaridades como finais diversos, cutscenes, encontros com personagens secundários, inimigos e opções de estratégia variadas.
Quase doze anos depois, em 2012, o mundo finalmente teve acesso à versão cancelada. Após uma campanha de arrecadação de fundos que durou alguns meses, Resident Evil para Game Boy Color pôde ser baixado gratuitamente e jogado por todos aqueles que se interessarem em conhecer essa parte obscura da história da franquia.
O tanque real chegou
Joguei o game em um celular Sony Ericsson Xperia Play, de meu uso pessoal, para ter uma experiência o mais próxima possível de utilizar um console portátil. E logo após a primeira cena de corte – a versão liberada não possui a abertura e inicia já no hall da mansão – entendi uma das razões pelas quais a Capcom cancelou o título. Os controles são incrivelmente ruins, com personagens pesados e movimentos nada naturais.
A impressão que fica é que o sistema de jogabilidade tradicional da franquia não funciona em um console desse tipo, incapaz de criar uma simulação 3D real. O que temos é um 2D que tenta, por meio de perspectivas e jogo de câmera, emular a sensação de se estar em um espaço aberto, no qual é possível se mover para todos os lados.
O Game Boy Color tem apenas dois botões, pouco para as necessidades de Resident Evil. Enquanto um seria responsável por correr e empunhar a arma, o outro serviria para ações como atirar ou coletar itens. O inventário poderia ser aberto pelo Select, enquanto o Start pausaria o game.
A capacidade do aparelho também impede que o movimento seja fluído e natural. Em vez disso, o personagem se move em blocos, e a mesma coisa é aplicada na hora de girar Jill ou Chris. Imagine que o protagonista é uma rosa dos ventos e só pode ficar de frente para os pontos cardeais e colaterais. Atirar em um inimigo à distância é tarefa difícil, já que ele provavelmente irá ficar entre duas diagonais possíveis e não será atingido.
Duas aventuras
Assim como na versão original, Resident Evil teria as aventuras de Chris e Jill em um mesmo cartucho de Game Boy Color. Pela aventura, eles também encontrariam outros personagens como Barry, Wesker e Rebecca, em diálogos idênticos aos do game para PlayStation.
Infelizmente, a versão liberada na internet não é completa e permite que o jogador chegue apenas até a Guardhouse, travando na porta que dá acesso à sala de drenagem do tanque dos Neptunes. Até lá, porém, é possível realizar todos os enigmas e coletar os mesmos itens da versão original, bem como ter os mesmos tipos de interação com os personagens.
A Beta de Resident Evil para Game Boy ColorUm problema que já era perceptível nas imagens de divulgação permanece nas duas versões incompletas liberadas: Chris e Barry são idênticos, com apenas a barba – na verdade, uma espécie de “sujeira” no rosto do parceiro de Jill – para diferenciá-los. Rebecca ainda aparece com graves problemas de proporção em relação a Chris, sendo bem mais alta do que ele. Estas questões, porém, não podem ser alvo de crítica pois não sabemos se elas seriam transportadas para a versão final.
Na Beta, é interessante notar também que não existe mesa na sala de jantar. As armas são infinitas e apenas a Handgun e a Shotgun funcionam. É até possível coletar a Bazooka com Jill, mas a moça não é capaz de equipar o equipamento.
Os cenários impressionam. Os desenvolvedores fizeram o melhor trabalho possível levando em conta as limitações do Game Boy Color e criaram reproduções fieis dos aposentos vistos no título original. Todos são facilmente reconhecíveis e, se você é um veterano do Resident Evil original, vai se sentir em casa.
Nem todos os itens espalhados pelos cenários podem ser coletados. Para pegar aqueles que são permitidos, é preciso estar exatamente em cima do artigo, caso contrário, você ficará pressionando o botão como bobo e se perguntando exatamente por que não funciona.
Melhor assim
Mesmo antes das Betas serem disponibilizadas na internet, já dava para ter uma noção de que Resident Evil para Game Boy Color não era um bom jogo. Ao experimentar pessoalmente o game, essa ideia é apenas confirmada. O título realmente é bem ruim e certos problemas, apesar de poderem ser minimizados em uma versão final, ainda estariam lá.
O sistema adotado pela M4 para criar Resident Evil Gaiden pode não ser ótimo, mas, pelo menos, funciona melhor no portátil. Apesar da aventura não-cronológica de Leon e Barry também não constituir um bom game, poderíamos ter tido algo bem pior.
Este artigo foi publicado originalmente no Resident Evil SAC.