Se o mundo do automobilismo fosse uma família, o rally seria aquele primo meio maluco que curte saltar de pontes preso a uma corda de rapel ou descer corredeiras em um barril. Todas as categorias do esporte motor podem até exigir reflexos rápidos e muito sangue frio, mas esta é a única que coloca os pilotos para dirigir ao lado de penhascos ou em condições extremas de neve, areia ou lama.
Entretanto, em Sébastien Loeb Rally Evo, não são necessariamente os aspectos ambientais ou o fator implacável dos cenários que serão seu maior desafio. O título faz com que ele mesmo seja seu maior rival, trazendo uma diversão até interessante para os iniciantes e iniciados no esporte, mas cheia de bugs e defeitos inadmissíveis para quem procura um bom jogo de corrida para levar a sério.
A principal falha, aqui, são os bugs. O game está cheio deles, permeando os mais diversos aspectos da experiência. A começar pelo, felizmente, raro problema no qual o carro simplesmente se teletransporta durante a corrida, normalmente acabando enfiado dentro de uma árvore (pode parecer que o vídeo acima está cortado, mas acredite, é exatamente assim que acontece o problema durante o game). Ver isso acontecer em uma prova particularmente difícil, como muitas das que estão disponíveis no game, é de deixar qualquer um louco.
O jogo funciona bem, principalmente se for encarado mais como um arcade e menos no formato de um simulador.
Falhas desse tipo também afetam, eventualmente, o sistema de física. O jogo não prima por uma mecânica fiel, mas mais do que isso, muitas vezes apresenta um comportamento errático. Não se surpreenda se, ao passar bem rente a uma barreira de pneus ou muro, você acabar batendo, mesmo sabendo – e vendo claramente – que havia espaço para passar.
E se efetivamente bater, não espere ver o carro sofrendo algum tipo de queda de performance. Aqui, as quebras são apenas cosméticas, e por mais que seu carro chegue ao final de um circuito parecendo que foi mastigado por alguém, ele quase não sofrerá alterações de performance a não ser que você realmente seja um barbeiro. E, ainda assim, dificilmente as quebras serão graves o bastante para que se abandone a corrida.
Apesar dos bugs e problemas físicos, o jogo funciona bem, principalmente se for encarado mais como um arcade e menos no formato de um simulador. Os controles são precisos, tanto no joystick quanto no volante, e pilotar não será um problema até mesmo para os novatos que, por algum motivo, decidiram experimentar o mundo da velocidade a partir de uma de suas categorias mais desafiadoras.
Os elementos climáticos não deixam a desejar, pois não existem. Cada corrida tem sua configuração ambiental pré-definida.
É aqui, inclusive, que Sébastien Loeb Rally Evo acaba se diferenciando um pouco de outros jogos do gênero. Tecer comparações com DiRT Rally, lançado para consoles poucos dias depois, serve também não apenas para evidenciar os problemas com o jogo da Milestone, mas também suas qualidades.
E se o título da Codemasters é apenas para os fortes, este abre as portas para todos. É possível configurar opções de pilotagem que facilitam a vida, como assistência de freios, controles de tração, indicadores na pista cobre o melhor traçado a seguir ou até mesmo controles que detectam movimentos erráticos da roda e fazem correções. Ou, então, desabilitar tudo isso e correr como os profissionais.
A existência desse tipo de auxílio é uma necessidade, principalmente em títulos tão desafiadores como os de rally. Por mais que os puristas torçam o nariz para elas, funcionalidades como flashbacks, retornos rápidos à pista e similares são necessárias para permitir que mais gente participe da brincadeira. Todos precisam começar de algum lugar, e essa é uma boa forma de dar o pontapé inicial.
Sébastien Loeb Rally Evo também faz um bom trabalho em permitir uma progressão rápida no modo carreira. Tudo segue de acordo com o desejo do jogador, e categorias avançadas são abertas rapidamente, com a possibilidade de aluguel de veículos caso o carro possuído não esteja de acordo com as especificações da prova. Se não desejar seguir em frente, sempre dá para cumprir cada uma das corridas de ponta a ponta, desde as mais simples até mais complexas, ganhando reputação, dinheiro para compra de novas máquinas e, claro, experiência para as competições mais difíceis.
O jogo traz uma diversão até interessante para os iniciantes e iniciados no esporte, mas cheia de bugs e defeitos inadmissíveis para quem procura um bom jogo de corrida
Não é tão ágil, porém, o processo de carregamento. Mostrando uma otimização um tanto mal acabada, o game tem loadings que chegam a ultrapassar um minuto em alguns casos, sendo velozes em outras. Não há um padrão, e nem sempre uma competição mais longa exigirá maior espera. Aparentemente, não existem fatores que justifiquem isso, o que nos faz pensar em uma falha de desenvolvimento que não incomoda tanto, mas com certeza será notada.
A maioria das provas de rally acontece em pistas estreitas e com baixa dirigibilidade. E por mais que estejamos falando de uma competição aqui, na maioria do tempo você estará correndo sozinho, disputando não diretamente contra outros corredores, mas sim, em tomadas de tempo que colocam, ao final, os mais habilidosos no pódio.
Isso não quer dizer que não temos corridas tradicionais, e nelas, a rivalidade é ainda maior, não apenas pelo fato de todos quererem chegar na frente, mas também devido à agressividade dos oponentes. Muitas vezes, eles agem como se o jogador não estivesse lá, e batidas que jogam o carro para fora da pista ou impedem o acesso a uma curva são comuns – e irritantes.
O conjunto visual é mais um dos pontos baixos de Sébastien Loeb Rally Evo. No título, temos cenários até interessantes, com gráficos medianos, que nem puxam todo o potencial dos consoles da atual geração, nem deixam a desejar. Entretanto, esse fator se encaixa única e exclusivamente à pista, e se você tirar brevemente os olhos da rota pré-determinada, verá que a realidade é outra.
Pilotar não será um problema mesmo para os novatos que decidiram experimentar o mundo da velocidade a partir de uma de suas categorias mais desafiadoras.
A plateia, por exemplo, parece ter saído diretamente de um jogo de PlayStation 2, fazendo movimentos repetitivos e aparecendo em baixa definição e qualidade. Os elementos espalhados pela pista também são pouco impressionantes, com uma baixa riqueza de detalhes em cenários bastante irregulares, onde tudo o que temos é cascalho, barro, água ou neve.
Os elementos climáticos não deixam a desejar, mas é porque não existem. Cada corrida tem sua configuração ambiental pré-definida, e ao jogador, resta apenas selecionar se a prova acontecerá durante o dia, ao entardecer, ou à noite. Se vai chover bastante ou dar aquela nevasca, entretanto, é o game quem escolhe.
E esse último aspecto, aliás, quase nunca acontece. Em Sébastien Loeb Rally Evo, você nunca verá aquelas provas em que a visibilidade é tão ruim que dá vontade de ir embora, ou os momentos em que há tanta água caindo que o carro parece estar submerso. Tudo o que temos em termos de efeitos climáticos é o que o veículo deixa para trás depois de passar, normalmente, uma fumaceira branca ou bege que indica neve ou areia.
Passando a linha de chegada, Sébastien Loeb Rally Evo acaba ficando bem aquém não apenas do que se tem em termos de jogos de rally, mas também em todo o universo de games de corrida para a atual geração. Pode ser um bom ponto de partida para os novatos que querem experimentar títulos da modalidade, mas assim como no caso de uma autoescola, você rapidamente vai querer deixar tudo aquilo para trás, seguindo por conta própria em veículos e situações bem melhores.
Sébastien Loeb Rally Evo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Milestone.