Por ter nascido na geração PlayStation 3 e Xbox 360, Assassin’s Creed é um daqueles jogos que surgiram grandiosos. A série sempre foi marcada pelo tamanho e a variedade de seus cenários, pela quantidade de detalhes e pela possibilidade de fazer muita coisa com tudo isso. Ainda que o primeiro jogo fosse repetitivo, a liberdade oferecida era algo diferente e que conquistou muita gente na época.
Porém, como seria imaginar isso uma geração antes? Parece estranho, mas é um pouco do que acontece com Assassin’s Creed Identity. Lançado para iOS e Android, o game é basicamente um título da série caso ele fosse lançado para PlayStation 2 e isso está longe de ser um problema. Na verdade, essa comparação não só é bastante justa como ainda destaca a principal qualidade do título que, mesmo com as limitações oferecidas pelas plataformas mobile, consegue entregar uma experiência completa e digna de um grande game — ainda que de uma década atrás.
E parte desse feito está no fato de que Identity não se apoio nos vícios aos quais a maioria dos jogos para smartphone e tablete recorre. Não há tentativas de empurrar conteúdo para microtransação e nem soluções simplistas para aproveitar um ou outro recurso. Com este novo Assassin’s Creed, a Ubisoft decidiu seguir pelo caminho mais honesto de adaptar sua popular série para uma plataforma mais simples, mas sem abrir mão das características que definem a franquia.
O principal acerto nesse sentido foi que o estúdio realmente se preocupou em entender as particularidades da plataforma móvel e adaptou a jogabilidade a isso. Desse modo, foi possível recriar aquela mesma experiência que os fãs já estão acostumados a ver, mas dentro de um ambiente mais limitado. E não apenas na parte gráfica ou na dimensão do cenário, mas no próprio modo como tudo é construído.
O sistema de missões que tanto vimos nos jogos principais está de volta, mas de maneira muito mais direta e simplificada. Se o seu objetivo é chegar até determinado ponto da cidade e eliminar determinado alvo, não há uma enorme volta ou passeio pela cidade para anteceder a ação. Tudo acontece ali em missões relativamente curtas e simples de serem realizadas.
É um pequeno detalhe, mas que faz toda a diferença quando lembramos que estamos falando de um título móvel. Por mais que Assassin’s Creed: Identity seja muito maior que a maioria dos títulos para tablet que temos por aí, ele ainda parte da lógica de um game portátil. Assim, de nada adianta oferecer grandes missões ou uma experiência mais complexa e próxima do que os consoles oferecem. O jogador procura algo rápido e que pode ser interrompido a qualquer momento.
Nesse sentido, Identity une muito bem o estilo da série a essa necessidade. Ele consegue ser mais direto até do que jogos da série fizeram no PSP ou no Vita, mas não esquece daquilo que é básico em qualquer Assassin’s Creed, como o stealth, os ataques silenciosos e o parkour. Tudo está presente, ainda que simplificado e em menor escala.
Ser menor não quer dizer que Assassin’s Creed Identity seja um game vazio como muitas outras tentativas de adaptar franquias dos consoles no mobile. Na verdade, o ele impressiona exatamente pela ótima conexão que ele faz com os games principais. Ele ainda se apega à história de Assassin’s Creed 2 e ao legado de Ezio, mas consegue fazer isso de maneira bastante natural ao mesmo tempo em que nos mostra que há uma trama sendo contada por ali.
Ao início e término de cada missão, um pequeno trecho do enredo é liberado durante a tela de loading e também no Códex. Essa é uma solução bastante inteligente para dispensar as cutscenes, mas sem abrir mão de construir essa narrativa. E a história vai sendo construída aos poucos e se amarrando muito bem com o que vimos com Ezio, passando inclusive por Firenze e Roma e encontrando algumas figuras conhecidas, como o próprio Leonardo Da Vinci.
Para dar forma a isso tudo, somos apresentados à figura de um assassino contemporâneo ao clássico protagonista e que também viveu em Monteregionni durante o século XV, tendo sido um dos aprendizes de Mario Auditore. E, com a debandada dos assassinos da região, cabe a esse novo personagem impedir a ação de templários na região.
Esse é um ponto bastante interessante, pois representa uma inovação dentro da franquia. Pela primeira vez em Assassin’s Creed, podemos criar nosso próprio protagonista. É claro que, por ser um jogo mobile, ele não oferece tantas opções de personalização, se limitando apenas a alguns modelos de rosto, nome e estilo de combate. Porém, já é o suficiente para que você crie variações que nem mesmo nos consoles são permitidas.
É claro que essa solução acaba tornando as coisas bastante impessoais, algo que vai contra tudo aquilo que a série desenvolveu. Porém, isso está longe de ser um problema. Mesmo sendo um herói muito mais “distante”, a parte que realmente importa em Identity não é desenvolvimento desse personagem, mas a ampliação do mundo dos assassinos e as coisas que ele pode fazer.
Porém, apesar das boas soluções para a narrativa e mesmo para a jogabilidade, Assassin’s Creed Identity ainda tropeça na hora de levar o jogo dos consoles para a tela touch de um tablete. Na verdade, ele despenca com a cara no chão em uma ladeira repleta de caco de vidro.
Isso tudo porque os controles se revelam o maior problema do jogo. Por mais que toda a experiência tenha sido muito bem adaptada, os comandos são completamente truncados e parecem não funcionar. E ele tenta solucionar isso de diferentes formas e nenhuma funciona direito. Seja com o joystick virtual na tela do dispositivo ou com os comandos por toque, nada parece funcionar perfeitamente e é muito provável que você vá bater cabeça, seguir por um caminho que não era o desejado e sair xingado o seu personagem.
É claro que, em muitos momentos, essa imprecisão acaba passando despercebida, mas se torna muito incômoda quando atrapalha o desenvolvimento da própria missão. Em um dos desafios iniciais, por exemplo, seu assassino deve avançar sem matar nenhum soldado inimigo. Porém, que disse que isso é possível? A movimentação problemática faz com que você entre em praticamente todos os confrontos possíveis e sair deles é tão burocrático quanto um Final Fantasy de Nintendinho.
Assassin’s Creed Identity é basicamente um título da série caso ele fosse lançado para PlayStation 2 e isso está longe de ser um problema, mas sim, sua maior qualidade.
Em outro momento, você precisa perseguir um alvo pelas ruas da cidade e a câmera ruim, aliada aos péssimos controles, faz com que essa corrida seja quase que literalmente às cegas. E isso é parte fundamental do gameplay, o faz com que todo o bom conceito construído até então desmorone. E o assistente de movimento que deveria ajudar, em muitos casos, se torna seu maior inimigo.
É claro que esses problemas podem diminuir caso você possua um controle Bluetooth para conectar ao tablet e jogar como se estivesse em um videogame. O jogo possui suporte a esses acessórios, o que pode minimizar essas dores de cabeça. Contudo, vale lembrar que é uma parcela mínima de jogadores que tem esse tipo de recurso em casa, o que faz com que o caos seja o padrão por aqui.
No fim das contas, Assassin’s Creed Identity é um ótimo jogo, mas que falha em algo básico. Toda a adaptação das mecânicas à logica mobile funciona muito bem e até mesmo as limitações de hardware são muito bem contornadas. Porém, ele esbarra nos controles e faz com que todo esse bom trabalho se transforme em algo truncado e arruína parte da experiência.
É claro que esse fator pode ser minimizado graças à estrutura fragmentada do game. Quem for jogar uma ou duas missões por dia, por exemplo, pode simplesmente não se dar conta de como os comandos são ruins e tratar isso apenas como uma dificuldade ou coisa parecida. Porém, se dedicar um pouco mais ao jogo mostra como usar a touchscreen para substituir um joystick em uma série em que controles são tão importantes não funciona tão bem assim.
E é uma coisa bem triste de se ver. Identity tem muito potencial, principalmente ao apostar em coisas novas. A criação de seu assassino, as ferramentas de personalização e a própria ideia de expandir o universo que já conhecemos funciona bem e te deixa com vontade de ir além. Só é um problema que os controles ruins logo façam você querer desistir.
Mesmo limitado em vários aspectos, Assassin’s Creed: Identity é uma ótima prova de como a série se sairia muito bem também no PlayStation 2. O ponto é que, pelo menos por aqui, você precisaria ter duas mãos esquerdas para aproveitar de verdade tudo isso.
O jogo foi testado no iOS, em cópia cedida pela Ubisoft.