O Brazil’s Independent Games Festival (BIG Festival, para encurtar) encerrou-se neste domingo (02) com mais um recorde quebrado, o de visitantes: 18 mil pessoas interessadas em jogos, principalmente nacionais. Mas este não é o melhor dado do evento ainda. Mais de 2.400 profissionais participaram das rodadas de negócios com empresas nacionais e internacionais, pois o evento não é exclusivo para títulos nacionais e o interesse na nossa crescente indústria e do tamanho do nosso mercado foi colossal. Além da parte estatística, existe um aspecto muito importante que foi ressaltado em muitas palestras de que participei, o fator social que os games têm e de que forma podem ajudar o sistema educacional brasileiro.

A roda do destino está girando

Antes que alguém torça e retorça o nariz por ter lido “social” e/ou “educativo” e lembre dos lastimáveis Mario is Missing e similares, saiba que você, menino maroto, já está sendo educado ao aprender inglês (e às vezes japonês) jogando games. Você, hoje, sabe muito mais de história dos EUA, Japão e Segunda Guerra Mundial do que do Brasil. Sem falar na capacidade de raciocínio matemático, estratégico e coordenação motora que os jogos te obrigam a dominar, senão é Game Over.

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Além de estimular a leitura e a cultura dos jogadores, os games têm que ser divertidos. E foi a junção da diversão e informação que levou a NASA a se filiar à Rovio Studios e criarem Angry Birds Space, aumentando o acesso do site da agência espacial em 70%, por redirecionamento do jogo. Quem falou sobre foi Fábio Florencio (foto), o pernambucano que trabalhou como diretor de conteúdo digital na desenvolvedora e vive na Finlândia. Outro exemplo é  o estímulo da educação como algo divertido, e não pesaroso e chato. Para isso, existe o Manifesto Ludoativista, apresentado por Mario Lapin, designer e diretor da Virgo Games, que vai além do Gamification e quer realmente fazer as pessoas se interessarem pelo que estão estudando, pois essa se tornou uma tarefa divertida. Com interesse, vem a paixão às coisas que serão realizadas acadêmica e profissionalmente.

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Como o Brasil está recebendo muita atenção internacional devido à qualidade de seus games indies e o crescimento do interesse empreendedor dos nossos jovens, o BIG estava muito focado nas questões de Business e função social, atraindo um público que antigamente seria taxado de não-gamer, ou ainda, “anti-gamer”. E eu tive o prazer de vê-los jogarem e se divertirem como… pessoas felizes e não “crianças”, pois a diversão é um fator pleno dos seres vivos e não exclusivos de faixas etárias.

Portadores da nova era

Chegando no Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo, que já é um ambiente multi-cultural onde podemos ver todo tipo de gente ensaiando passos de K-Pop entre aulas de Salsa em um espaço vazio, até jovens empreendedores usando o Wi-Fi grátis para reuniões de negócios, temos o espaço subterrâneo reservado para um dos eventos mais bem organizados que já visitei. E a audiência colaborou: sem lixo no chão, sem controles sujos e danificados e, principalmente, sem distúrbios, mesmo em um espaço lotado e pequeno. Antes que o senso comum o faça pensar que havia um “público diferenciado e higienizado”, fico feliz em decepcionar, pois havia todo tipo de pessoas de diferentes classes sociais, etnias, faixas etárias, em perfeita harmonia.

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Quem visita um evento de games já tem a perspectiva de encontrar muitos meninos e adolescentes jogando enquanto suas mães e namoradas ficam sentadas entediadas, esperando para irem embora, mas o que mais se via eram os adultos jogando com seus filhos, e contra os dos outros também, vibrando com a vitória. Nesta categoria, Tricky Towers, da holandesa WeirdBeard (que ganhou o prêmio de Jogabilidade), merecia o prêmio de jogo de inclusão parental, com seu gameplay que mistura Tetris com construção de torres,  formando filas de espera gigantes, mesmo permitindo quatro jogadores simultaneamente por partida.

Outro merecedor é Inversus, da americana Hypersect LLC, com seu jogo de peças brancas contra as negras num tiroteio conceitual de cores e espaços a serem dominados, que fez pessoas que nunca jogaram games na vida se divertirem e se sentirem inclusos naquele ambiente de alegria sem julgamentos, graças à entrada livre e a inteligência emocional dos presentes.

O diferencial do BIG Festival

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Partindo do óbvio, os games indies têm menos recursos monetários, e por isso, seus desenvolvedores precisam criar alternativas para atingirem seus objetivos. Esta criatividade estratégica caminha para o lado da inovação, sendo assim, muitos games ali presentes fugiam do conceito tradicional dos jogos aclamados, proporcionando novas experiências e trazendo de volta velhas emoções, como o vencedor de melhor jogo do evento, o brasileiro Horizon Chase, ou outros como NinJin ou My Night Job.

Mas, além deles, havia um simulador de construção de linhas do metrô (Mini Metro), um gorila aprisionado em um laboratório que precisava fugir dos humanos (Ape Out) e até um simulador de hacker (HackNet).Mas o meu preferido mesmo foi Dandara, clássico de plataforma com ação intensa de uma ninja com black power e uma arma que varia entre ganchos e projéteis.

Dandara

A nova leva de indies terá a inteligência do jogador como principal ferramenta para superar puzzles focados em solução de problemas que estimulam a superação e não a desistência por parte do jogador de qualquer idade, pela dificuldade. Minha satisfação não poderia ser maior ao perceber que as pessoas de todas as idades e classes sociais têm interesse em um crescimento e desenvolvimento de um fator muito desprezado pela sociedade, que é a cultura. Ao ver os patrocinadores do evento, minha surpresa foi ver o Ministério da Cultura federal, estadual e municipal ao lado de organizações privadas como as gigantes Google, Intel e Cartoon Network, ao lado de IGN e Novelis, além do BNDES e ABRAGAMES. Todos uniram-se no propósito de consolidar uma indústria de games brasileira com viés educativo e social, não só monetário.

A imagem da senhora de (possivelmente) 50 anos, sozinha no evento, feliz ao usar o nitro e chegar em 2º lugar em uma corrida de Horizon Chase não se apagará da minha mente jamais…

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