Na história dos jogos de luta, sempre existem os títulos obscuros divididos em três tipos: os cancelados, os não distribuídos no Ocidente e os exclusivos de consoles não-competitivos. Assim, ótimos jogos ficam relegados ao esquecimento, com fãs ficam ávidos para ter nas mãos algo que não valeria a pena a compra de um video game por si só. No meio destes dilemas gamers está o fantástico Tatsunoko vs. Capcom: Cross Generation of Heroes.
Já acostumada a enfrentar todo mundo, em 2008 a Capcom decide desafiar o estúdio de animação Tatsunoko, que retém os direitos de muitos animes antigos como Casshern, Yatter-Man e Gatchaman, por exemplo. Quem for mais antiguinho vai lembrar desses personagens que chegaram às telas brasileiras com nomes trocados, como o Gênio Maluco (Hakushon DaiMao), Gatchaman (G-Force: Defensores do Espaço), Speed Racer, Macross, Zilion, Shurato e afins. Infelizmente, só alguns estão no jogo devido à problemas autorais que acabaram gerando até uma continuação: Ultimate- All-Stars, em 2010.
A união dos heróis
Yami, o monstro devorador de dimensões do jogo Okami, está abalando as estruturas da realidade fazendo com que os heróis de ambas franquias se unam para combater este mal em comum. O problema é que nem todos estão de acordo com essa resolução e vão atrapalhar os mocinhos e até tentar tirar vantagem da situação. Cabe a você usar do meio mais democrático no mundo dos games, a porrada, para colocar as coisas no lugar.
Além da história geral do jogo, cada personagem tem seu final, que soma e complementa como seria a fusão dos dois universos em um, no cotidiano de cada personagem. Existe uma versão com cenas estáticas desenhadas pelo estúdio UDON, responsável pelos quadrinhos oficiais da Capcom no Ocidente e uma versão em anime para a versão japonesa de console, que é uma ótima merda.
Elenco de sucesso
Um dos grandes fatores que fazem cair lágrimas de tristeza de Sonystas e Caixistas fãs de jogos de luta é a grande variedade de personagens raros escolhidos para o lado Capcom, e como a jogabilidade dos personagens da Tatsunoko é variada e divertida. Sem falar que você pode controlar gigantes. SIM, Gold Lightan e PTX (de Lost Planet), com suas características de serem lentos e fortes, alta resistência e claro, sem a possibilidade de formar dupla, como acontece com os personagens comuns, para fins de equilíbrio.
Primeiro, o mais esperado personagem desde Street Fighter III 3rd Strike: Alex e seu wrestling destruidor. Representando a paixão da Capcom pela luta-livre no lugar do Zangief e Haggar, ele usa seu arsenal de cabeçadas e botinadas contra ninjas espaciais, vilãs e até robôs gigantes podem ser arremessados. Rockman Wolnutt, direto de Rockman Dash (Mega Man Legends nos EUA), com sua releitura do clássico robozinho azul e suas armas rústicas como furadeira, escudo e claro, tiros ininterruptos. Outra surpresa é a Roll com seu visual clássico dos jogos 8 bits, usando seu poder de faxineira contra marmanjos com o triplo de seu tamanho, com direito até a bolinha de recarga de energia.
Batsu, de Rival Schools, reacende o desejo dos fãs que ainda sonham com um novo capítulo da saga dos estudantes briguentos. Saki, que muita gente não lembrava, vem de um antigo jogo da Capcom e se revelou uma queridinha dos jogadores profissionais de anos atrás com suas granadas e rajadas apelonas. Morrigan já é uma velha conhecida, mas Viewtfull Joe, Soki, de Onimusha 4, Zero e Frank, de Dead Rising, ninguém esperava. Do lado Tatsunoko, pouca nostalgia e mais gratidão pelos personagens mais originais em um jogo de luta da Capcom desde Star Gladiators.
Polêmica e nova versão
Esse mundo dos negócios é complicado, e o dos direitos autorais, mais ainda. Percebam que Tatsunoko vs. Capcom originalmente não pôde ser lançado nos EUA, pois o antigo e sem nenhum apelo comercial desde 1970, Hakushon DaiMao, tinha seus direitos autorais no país limitados pela licenciadora, acima do próprio estúdio criador. Dado este impasse, a Capcom decidiu lançar a versão ocidental sem o Gênio Maluco, mas com quatro outros lutadores novos, e com o sub-título Ultimate All-Stars. A troca agradou a quase todos, menos a quem fazia a apelação do Hyper Combo do rodopio anti-aéreo que tirava muito Life.
Outro grande assunto que até hoje rende discussões seria a quebra da exclusividade do título para que chegasse aos consoles da Sony e Microsoft, o que a princípio nunca acontecerá, pois já foi dito que era uma exclusividade vitalícia. O jogo foi lançado para alavancar as vendas do Nintendo Wii, e certamente essa limitação ajudou a obscurecer este game maravilhoso que, apesar do 3D básico, não incomoda. Tanto a trilha sonora e efeitos especiais são bem empolgantes. Às vezes, o excesso de cores pode incomodar às vistas mais sensíveis, pois tudo brilha na tela.
Divisor de águas
Apesar da grande divulgação e poucos jogadores ocidentais, na época, no Japão se podia jogar nos Arcades e o game teve sua certa fama até o lançamento do sucessor Marvel Vs. Capcom 3, que usou muitos atributos da aprovação construída pelo seu antecessor. Nele, foram firmadas mudanças de jogabilidade em relação aos crossovers anteriores, como o sistema de 3 botões de ataque e ação específica, o cancelamento imediato durante um combo, troca de personagens durante um Air Combo e o uso específico do OTG (Off the Ground), ataques que atingem o oponente caído, que caiu no descontrole no título seguinte. Pena não terem mantido também a oportunidade de se controlar personagens gigantescos, visto que o PlayStation 3 e o Xbox 360 têm mais potencial que o Nintendo Wii
Outro fator importante sobre Tatsunoko vs. Capcom foi a mudança de hábito dos jogadores que, antes, recebiam primeiro os grandes jogos de luta nos Arcades, e, se eles tivessem sucesso, dariam às caras nos consoles. Dado o falecimento deste costume no Ocidente, não espere trombar com um fliperama rodando este título por aí. Fliperamas originais do título só existem no Japão e Coreia do Sul, infelizmente, e se você encontrar alguns destes por aqui, pode ter certeza de que é um video game adaptado.
Se você conhecer alguém que tenha o Nintendo Wii encostado ou à venda baratinho, recomendo este game que mistura o nostálgico, o desconhecido e a inovação dentro de um único jogo de luta cheio de possibilidades.