Lá se vai um longo tempo desde a última vez que Resident Evil me causou um medo de verdade, e por causa do próprio jogo – temores pelo futuro da franquia, entretanto, temos aos montes. E se nós, que somos fãs, sabemos muito bem disso e não cansamos de repetir internet afora, finalmente chegou a hora de a Capcom atender tais pedidos. E se a demonstração do novo game da série que vimos na Brasil Game Show 2016 for prova de alguma coisa, amigos, é melhor prepararmos as fraldas.
Enquanto o público do lado de fora tinha acesso à mesma demo que está disponível para todos no PlayStation 4, e sem VR (acredite, nem mesmo os próprios organizadores do estande estavam felizes com isso), a portas fechadas, tivemos acesso à demo Lantern. Ela representa não apenas um trecho completamente novo de Resident Evil 7, mas também um primeiro olhar sobre um conteúdo que fará parte da versão final do jogo.
Ou não necessariamente, pois como deixou claro o porta-voz da Capcom na BGS, Fabio Santana, por mais que aquele seja efetivamente um trecho do próprio título, ele se comportará de forma um pouco diferente na versão final. A sensação de terror constante, essa sim, aparece exatamente como será em Resident Evil 7 quando chegar às lojas. E só por isso já dá para ficar bem satisfeito.
O que vimos foi uma versão expandida do trailer liberado recentemente na gamescom. Controlamos uma personagem feminina chamada Mia, sendo perseguida durante todo o tempo por Marguerite Baker, esposa do “Homem de Família” que vimos em Begining Hour. Não dá para saber se ela está infectada, possuída, ou simplesmente muito nervosa com você. Mas uma coisa se percebe rapidamente: ela quer o seu sangue.
Ecos do passado
Logo de início, já ficamos sabendo de uma novidade – Resident Evil 7 não terá arquivos em texto para complementar a história, e em seu lugar, estarão as fitas que remontam acontecimentos do passado, mais ou menos como na demo lançada há alguns meses. Além de enriquecerem o enredo e trazerem pistas, esses “files” jogáveis também servirão para resolver enigmas, com ações realizadas nas gravações tendo influência no presente do game – como no caso da gaveta que, destrancada, libera um machado.
Na demonstração, entretanto, não pudemos verificar nada disso, e nem conseguiríamos, pois estávamos sendo perseguidos durante todo o tempo. Por mais que Marguerite não necessariamente corresse atrás de Mia, ela sempre estava no encalço, como um vilão de filme de terror antigo. E durante todo o tempo, berrava impropérios, algo que torna toda a situação, já bastante tensa, ainda mais macabra.
Algo sobre o fato de que a personagem deveria estar agradecida pelo que a família está fazendo por ela. Menções a religião e fanatismo, como o fato de que ela deveria estar fazendo suas orações em vez de tentar fugir e jogar tudo o que foi dado a ela fora. Tudo isso pontuado com pés batendo no chão e um andar ao mesmo tempo devagar e violento, de alguém que quer realmente arrancar a cabeça de alguém com as próprias mãos.
E então, ela se vira. E mesmo com todo o barulho do estande da Warner, não teve como não se assustar. Em diversos momentos, Marguerite olha na direção do jogador como se soubesse onde ele está escondido, observando entre frestas, e causando um frio na espinha. Ao sairmos do campo de visão da vilã, também deixamos de enxerga-la, torcendo, apenas, para que ela realmente não tenha localizado a personagem.
A junção do estilo visual dos cenários com essa perseguição implacável remete imediatamente a Lisa Trevor, a implacável e, infelizmente, subutilizada cobaia de testes do remake do primeiro Resident Evil. A sensação, aqui, é a mesma – não temos chance, e uma vez que somos vistos por Marguerite, e somente aí, é que ela aperta o passo, atacando Mia com uma ferocidade que, antes, só víamos em suas palavras. E se na mansão de Spencer as armas que tínhamos para nos defender não adiantavam de nada, aqui, estamos completamente indefesos e vulneráveis.
Por mais que os combates e as armas já tenham sido confirmados em Resident Evil 7, eles não estarão disponíveis neste trecho. A Capcom parece até mesmo brincar com isso, pois em um único momento, dá ao jogador uma posição de vantagem sobre a oponente, quando a vemos de costas, distraída, em uma das salas da misteriosa fazenda em que estamos. “Aquele machado da outra demo seria muito útil aqui”, comentei com o representante da empresa, que só respondeu com um sorriso e um sinal negativo com a cabeça.
Outra característica do passado da série que faz um retorno aqui são os puzzles, que até existiram nos jogos mais recentes, mas estavam bem longe de serem desafiadores. Na demonstração, desbloqueamos uma passagem secreta e uma possível saída utilizando a luz de um projetor e a sombra de um objeto, que deveria ser compatível à de um quadro pendurado na parede. Nada muito complicado, mas também não básico demais, bem aos moldes do que víamos nos primeiros títulos da saga.
E quando finalmente Mia deixa de ser perseguida ao entrar pelo caminho escondido, e tudo parece que vai ficar bem, o game faz questão de provar que não. A fuga, no fim das contas, nos levou diretamente para uma armadilha criada por Marguerite. A personagem é capturada e vemos uma tela preta. Ao fundo, apenas os gritos de agonia da personagem. Fim da demonstração, e uma vontade enlouquecedora de jogar muito mais.
Finalmente ouvidos
É por meio de elementos como os enigmas, o clima tenso, a evolução mais vagarosa da jogabilidade, a perseguição e, principalmente, o terror, que a Capcom deseja passar uma mensagem bem clara aos fãs. À primeira vista, esse pode até não ser o Resident Evil ao qual todos se acostumaram nos últimos tempos, mas ao mesmo tempo, representa muito mais a essência da série do que esses mesmos títulos recentes.
A Capcom está ciente, inclusive, das alegações de que Resident Evil 7 seria nada mais do que uma cópia de Outlast ou Silent Hills. E por mais que tenha seu desenvolvimento iniciado antes do lançamento de P.T., por exemplo, reconhece as semelhanças com o game da Red Barrels. Com o tempo, entretanto, a Capcom acredita que mostrará aos jogadores que está trazendo uma proposta que pode até ser parecida com outras, mas também é inovadora o bastante para se sustentar por si só, e entregar uma experiência digna da franquia que representa.
Esse cuidado de retornar às origens da saga também deve se refletir na divulgação do jogo. Daqui até janeiro, quando Resident Evil 7 chega às lojas, veremos sim novos trailers e imagens, mas eles devem ser liberados como os disponíveis até agora, exibindo mais o clima do título e sua jogabilidade, mostrando trechos curtos, do que falando sobre a história, seus personagens e desenrolar.
Prova disso era o fato de que a demo jogada, de acordo com Santana, também tem um andamento diferente do que vai acontecer no próprio jogo. Qual a diferença exata, entretanto, vamos ter que esperar o lançamento para descobrirmos.
Felizmente, não falta muito. E não apenas por isso. Resident Evil 7 se mostra um título merecedor do hype que está sendo criado em torno dele, e pelo menos no que foi demonstrado até agora, digno da alcunha de salvador da pátria que está sendo atribuída a ele por muita gente. O jogo pode até não ser o bastante para tirar de nossa boca o gosto amargo de outros lançamentos recentes, mas pelo que vimos, deve apresentar uma experiência de alto nível como há algum tempo não vemos.
Resident Evil 7 chega no dia 24 de janeiro de 2017 para PC, Xbox One e PlayStation 4 – o console da Sony também permitirá que o game seja jogado em realidade virtual.