A pouco tempo atrás, a Nintendo anunciou um revival do seu clássico de 8-bits, o NES numa versão miniaturizada:

nes-classic-edition

Ok, atitude louvável, mas nada de novo. A engenharia chinesa já vem nos trazendo tais dispositivos há anos, e mesmo versões oficiais como a do Atari ja apareceram antes:

Mas como todos, ou melhor, alguns sabem, a Nintendo desperta um fenômeno conhecido como “campo de distorção da realidade”, já citado antes em relação a Apple. Isso faz com que a maior parte das pessoas simplesmente esqueçam qualquer coisa que tenham visto e fiquem maravilhadas com a “novidade” em questão.

Bem, o fato é que, por U$ 60 (cerca de R$ 195), você terá acesso a uma miniatura do NES, com 30 jogos na memória. Dentro da nossa realidade atual, é praticamente impossível e muito inviável produzir os componentes originais da fabricação do Nintendinho, logo, presume-se que tal aparelhinho funcionará através de emulação. Penso eu aqui com os meus botões, se é pra emular, por que pagar caro e por uma quantidade limitada de jogos? E foi assim que dei inicio a mais um projeto pessoal: apresento a vocês, meu Mini SNES.

mini_snes

A partir de agora, vou explicar passo-a-passo como você pode preparar um mini console retrô capaz rodar mais de 20 sistemas diferentes.

Hardware

Nosso mini console sera construído com base no Raspberry Pi, um mini-microcomputador de baixo custo, com uma área equivalente à de um cartão de crédito, abrigando processador, GPU, slot para cartões de memória, interface USB, HDMI e seus respectivos controladores.

Existem basicamente duas possibilidades, variando a potência e o preço do hardware. Elas são:

Raspberry Pi Zero

Processador 1Ghz, Single-core
512MB RAM
Portas Mini HDMI e USB On-The-Go
Micro USB power
HAT-compatible 40-pin header
Composite video and reset headers

Preço: U$ 5 (cerca de R$ 17)

Raspberry Pi 3

Processador 1.2GHz 64-bit quad-core ARMv8 CPU
802.11n Wireless LAN
Bluetooth 4.1
Bluetooth Low Energy (BLE)
1GB RAM
4 portas USB
40 GPIO pins
Porta Full HDMI
Entrada Ethernet
Entrada 3.5mm audio e vídeo composto
Camera interface (CSI)
Display interface (DSI)
Micro SD card slot
VideoCore IV 3D graphics core

Preço: U$ 35 (aproximadamente R$ 120)

Existe ainda o Raspberry Pi 2, porém, seu custo não é muito inferior à versão 3, logo não representa um bom investimento.

Falando agora da realidade brasileira, por aqui, você encontra o Raspberry Pi Zero com valores entre R$ 80 e R$ 100. Já a versão 3 dai a partir de R$ 194.

Fazendo uma breve análise, as vantagens do Raspberry Pi Zero ficam apenas no custo, mas o preço mais baixo e tamanho reduzido se refletem na potência. Sendo assim, fica inviável emular sistemas mais “pesados” como PlayStation 1, Nintendo 64, Dreamcast e PSP. No mais, para consoles antigos, ele segura bem a onda. Outras desvantagens do Zero são a necessidade de adaptadores para utilizar suas portas e na questão do case, pois não consegui encontrar capas temáticas para ele, somente genéricas.

Ja o Raspberry Pi 3 é realmente surpreendente. Primeiro pelo hardware completíssimo, com quatro USBs, Bluetooth, Wireless, porta ethernet, HDMI full e processamento de gráficos 3D, isso garante o funcionamento de praticamente todos os sistemas, apesar de os emuladores de Dreamcast e PSP ainda estarem em fase de implementação e apresentam problemas. Já o de Nintendo 64 roda boa parte da biblioteca, pelo menos os mais populares, sem problemas. Outro ponto positivo é o suporte da comunidade, são sites e mais sites, vídeos e mais vídeos, acessórios, cases, tudo muito acessível.

O próximo item de hardware necessário é um cartão micro SD, recomenda-se, no mínimo, um de 16 GB e classe 5, nesse caso quanto mais melhor, um de 64 classe 10 seria o ideal. Eu fiquei no meio termo, optando por um de 32 GB classe “só deus sabe”. Você encontra esses produtos a partir de R$ 14. Para alimentar nosso pequeno console, será necessária uma fonte de energia bem comum, são 5V e dois amperes, com plug micro USB, com valores entre R$ 20 e R$ 25.

Os controles

Para meu projeto, optei pelo Raspberry Pi 3, já que desde o início tinha a intenção de utilizar um case temático de algum console. Optei pelo SNES por ser um que pessoalmente acho muito bonito, mas este ponto é mais do que apenas uma escolha estética, já que o numero de botões e alavancas dos controles escolhidos impactam diretamente nos games que poderão ser jogados.

Como meu console tem foco mais na retro emulação e jogos de luta, nesse sentido, o controle do SNES supre facilmente minhas necessidades. Se você pretende jogar jogos de PlayStation e Nintendo 64, recomendo que opte por controles de PS2 ou PS3 que funcionam sem fio. Usar controles que você já tem pode representar uma boa economia no seu projeto.

Controles com interface USB são facilmente encontrados e existem em diversos formatos, SNES, NES, Mega Drive, sendo os mais comuns de Xbox 360 e PlayStation. Eles tem um preço razoável, paguei R$ 18 em cada um dos de Super Nintendo.

Case

Não existe nenhuma obrigatoriedade nesse quesito, aqui, vale seu gosto. Como disse antes, para o Raspberry Pi Zero, as opções são poucas, mas existe uma gama enorme de cases para o Raspberry Pi 3, sendo as mais legais, na minha opinião, essas abaixo:

Os cases variam de R$ 10 a R$ 89. As que são em formato de console iniciam em R$ 45, sendo a mais cara a versão SNES com LED, R$ 89.

Software

A plataforma Raspberry Pi é conhecida pela sua versatilidade, graças a uma enorme comunidade que dá suporte a ela. É possível emprega-lo nas mais diversas funções, desde um notebook impresso em casa, uma câmera fotográfica que captura GIFs e claro, nosso retro console.

Para esse objetivo, existem duas solucões, o RetroPie e o Recalbox. Vamos colocar da seguinte forma: o primeiro te dá mais controle sobre as configurações e opções do seu mini console, já o segundo é uma solução mais amigável aos leigos, tudo mais simplificado, e, por isso, será esse o sistema que utilizaremos.

O link para baixar o sistema operacional esta disponível em https://github.com/recalbox/recalbox-os/releases, baixe sempre a versão mais recente. Outro software necessario é o SD Card Formatter, ele é essencial para o processo, pois se o cartão SD não for formatado por ele, o Recalbox pode não funcionar corretamente. Ele pode ser baixado gratuitamente em https://www.sdcard.org/downloads/formatter_4/

Mãos à Obra

  1. Formate o seu cartão SD. Para isso, você deverá inseri-lo no seu computador e iniciar o SD Formatter, selecionar a unidade correspondente ao seu cartão e formatar.
  2. Descompactar o Recalbox que você baixou e copiar o conteúdo para o cartão SD.
  3. Inserir o SD no seu Raspberry, liga-lo à TV e na energia. O processo de instalação é totalmente automático, basta aguardar a barrinha ser preenchida e reiniciar.

Pronto, em teoria, seu Recalbox está pronto, vamos agora para a configuração.

Plugue seu controle, o console automaticamente vai identificar que há um joystick ligado e abrirá uma tela de configuração de controle, bem simples, muito familiar a quem já mexeu com emuladores. As funções correspondem aos comandos do controle, e quando aparecer alguma que não esta disponivel no seu, L2 e R2, por exemplo, basta segurar qualquer botão por alguns segundos e ele será ignorado.

Atenção especial para o ultimo botão, HOTKEY, ele é o responsável por ativar funções especiais como SAVE STATE, LOAD STATE e sair de um jogo. Minha recomendação é utilizar o SELECT para essa função, assim quando desejar sair de um jogo basta pressionar SELECT e START simultaneamente.

A lista de comandos é bem simples:

  • Hotkey + Y → Save State
  • Hotkey + X → Load State
  • Hotkey + Up → Select Save Slot -1
  • Hotkey + Down → Select Save Slot +1
  • Hotkey + Start → Finalizar game e voltar ao menu
  • Hotkey + A → Reset
  • Hotkey + B → Retroarch Menu
  • Hotkey + L1 → Screenshot

Os Games

Para colocarmos os games no nosso mini console, precisaremos primeiro colocá-lo na mesma rede de nosso computador. Isso pode ser feito com um cabo de rede ou via Wi-Fi, lembrando que para configurar a conexão sem fio, será necessário ter um teclado plugado para digitar a senha.

Estando ele conectado à rede, no seu computador você deve acessar através do explorer o endereço “\\recalbox” ou utilizando o IP do seu recalbox Ex.\\192.168.0.2 Quando acessá-lo, você verá uma série de pastas, procure pela de nome “roms”. Nela estarão os diretórios de cada sistema, onde você deverá colocar as respectivas ROMs. Lembre-se, sempre que adicionar novos títulos, é necessário reiniciar o console para que elas sejam detectadas.

Existe também a possibilidade de jogar seus games a partir de um pen drive, para isso basta um ormatado em Fat 32. Plugue-o no seu mini console e aguarde alguns segundos, depois o remova e plugue no seu computador. Você verá uma estrutura de pastas semelhante à que vemos quando acessamos via rede, ai é basicamente o mesmo, você entra na pasta ROMs, lá estão os diretórios dos sistemas e, dentro deles, você coloca seus jogos. Depois, plugue novamente o pen drive no console e reinicie para ele detectar os jogos. Agora é só jogar.

Mamilos… Digo, polemica

Não vamos enfeitar nada, vamos ser honestos: qualquer coisa que você faça com um jogo, que não seja coloca-lo no seu console e jogar, é uma infração. Você não pode fazer backup do seu jogo e usá-lo em um emulador, você não pode modificar o código do jogo, traduzi-lo, etc

Entretanto, tratamos aqui de um material velho, os quais na sua maioria não se tem mais acesso para adquiri-los legalmente. Muitos estão perdidos num vácuo legal. pois seus detentores de direitos não existem mais ou já foram revendidos e repassados tantas vezes que foram até esquecidos.

A verdade é que ninguém será prejudicado se você baixar ROMs. Todavia, se você sentir algum tipo de culpa ou remorso, procure por algum “humble bundle”, que dificilmente terá esses jogos disponíveis, e se tiver, gaste U$ 5 em forma de gratidão. Ou melhor, contribua propagando esse conhecimento e repasse para seus amigos, parentes e qualquer entusiasta dos jogos antigos.

Montar seu mini console é bem mais simples do que parece, não requer nenhum conhecimento fora do normal. Além disso, existe uma infinidade de material sobre o assunto, desde os mais básicos até coisas complexas como recompilar o sistema operacional, montar arcades usando as interfaces integradas do Raspberry Pi, e etc. Se mesmo assim você ainda tiver alguma duvida, fique à vontade para perguntar na área de comentários logo abaixo.

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