Call of Duty 4: Modern Warfare foi um marco no gênero de tiro em primeira pessoa. Enquanto os jogadores ainda se impressionavam com a transição da sexta para a sétima geração, a Activision e a Infinity Ward também realizavam uma transição por si só, levando o combate dos cenários europeus da Segunda Guerra Mundial para o mundo contemporâneo, em uma batalha que parecia retirada diretamente do telejornal.
Uma era bem antes de armamentos futuristas, armaduras esquisitas e muita decepção. Um tempo em que o combate era real, palpável, mesmo que distante. Glamurizado, é verdade, sem demonstrar os horrores do conflito, mas ainda assim, passando o caos que ele representava para os soldados envolvidos. O início de uma dominação que durou anos e levou Call of Duty a se tornar referência não apenas para o mercado de jogos, mas também para toda a indústria do entretenimento. Esse é o legado de Modern Warfare.
Nove anos depois de seu lançamento original, o game volta em versão remasterizada, mas servindo como um extra a Infinite Warfare, o novo lançamento da saga. Em uma decisão que desagradou muita gente, ainda não é possível comprar o game separadamente – pelo menos até o momento em que este review é escrito – e o acesso à nova versão está disponível apenas para quem comprou edições especiais do mais recente jogo.
Revisitar Modern Warfare remasterizado, depois de tanto tempo, evidencia o quanto é bizarra a situação atual da série Call of Duty.
Mais do que uma escolha que deixou muita gente descontente, colocar Call of Duty: Modern Warfare como um adendo depõe até mesmo contra o próprio Infinite Warfare. Afinal, mesmo quase uma década depois, ainda estamos falando de um game fantástico, com grandes momentos e personagens carismáticos. Todos fatores que, para muitos, faltam nos games atuais da franquia.
Quem jogou na época, não se esquece dos momentos iniciais, com a invasão furtiva a um cargueiro e a corrida para sobreviver enquanto ele afunda. Lembra também de soldados como Price e Soap, cuja história roda o mundo e apresenta, aqui, os eventos que, mais tarde, nos levaram a uma Terceira Guerra Mundial. Não sabíamos disso na época, mas depois, ao observar o desfecho a que nossas ações levaram, é difícil não ficar impressionado.
As bases de tudo isso estão aqui, aliadas a gráficos repaginados que dão um frescor de novidade ao título. É claro, estamos falando de um game dos primórdios da geração passada, e isso fica claro. Ainda assim, temos em mãos uma remasterização bastante competente, principalmente na campanha principal. Quedas na taxa de frame acontecem aqui e ali, e podem dificultar a vida principalmente no multiplayer, mas acontecem de forma esporádica.
Quem se cansou de jogar a versão original, vai perceber também uma jogabilidade mais fluida, com pequenas melhorias, mas que não mexem muito no conjunto original. Outra novidade é que, agora, Modern Warfare aparece localizado para o português, com menus e legendas em nosso idioma, facilitando o entendimento da história e a imersão nos eventos que levariam a um combate de proporções mundiais.
Apesar de ainda contar com poucos mapas, o modo multiplayer também traz uma ação bem diferente, mas de maneira diferente. O que Modern Warfare apresenta é um combate, por incrível que pareça, mais lento que seus posteriores, muito por causa dos controles – aqui, inalterados – mas também por conta do formato das arenas.
Correr como um louco, ao contrário das propostas mais recentes, acaba não sendo a melhor alternativa, e a remasterização nos mostra que Call of Duty, um dia, teve um quê de tática. Claro, nada como um Battlefield da vida, em que o trabalho em equipe é essencial, mas ainda assim, um game em que posicionamento e oportunismo trazem muito mais vantagens do que um gatilho rápido.
Modern Warfare marca o início de uma dominação que levou Call of Duty a se tornar referência não apenas para o mercado de jogos, mas também para a indústria do entretenimento.
Revisitar Modern Warfare depois de tanto tempo evidencia o quanto é bizarra a situação atual da série Call of Duty. A partir das bases de um shooter interessante e com pé em fatos reais, chegamos a um combate futurista, sem graça e, acima de tudo, sem personalidade. Enquanto temos títulos bastante genéricos e esquecíveis na história recente, temos, do passado, um jogo que envelheceu muito bem.
O interesse maior na remasterização, em relação ao novo lançamento, esperamos, pode acabar servindo como uma lição para a Activision, juntamente com a onda de dislikes nos vídeos de Call of Duty: Infinite Warfare. O novo título tem, sim, suas qualidades, mas a cada lançamento, a empresa parece se distanciar mais e mais daquilo que não apenas os fãs desejam, mas que também torna a franquia especial para eles.
O jogo foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Activision.