Acho difícil um gamer brasileiro já não ter ouvido falar do game que os YouTubers Irmãos Castro estavam planejando há alguns anos. Mas, caso exista alguém assim, fique tranquilo que explicarei tudinho. Eles são famosos por fazerem paródias e piadas com games e cultura nerd, até que um dia decidiram simular um game em uma animação enquanto cantavam os clichês e absurdos desse mundo de forma épica, como um bardo. Dado o sucesso disso, decidiram avançar um passo mais ousado: transformar essa ideia num jogo completo e independente.
Com o sucesso dos vídeos, veio também o apoio dos famosos da internet brasileira, com divulgação aos quatro ventos digitais, e o projeto no site Catarse foi um sucesso. Uma equipe se formou para a criação do game, com nomes de peso no roteiro, trilha sonora, canções e o estúdio Dumativa tornou o game a maravilha gráfica que veremos a seguir. Tanto hype fez a expectativa ir às nuvens, e, como dizem, quanto maior a empolgação, maior a queda.
O game é uma homenagem aos antigos jogos da era 8 e 16 bits, com seus desafios simples de encarar, que vão gradativamente ficando infernais.
Somando a influência dos irmãos Castros com seus fãs, mais o apoio de outros ídolos da cultura da internet nacional como o Jovem Nerd, BRKS Edu, Felipe Neto, Kauê Moura, Felipe Castanhari e Galo Frito, o projeto ficou grandioso e esperado por todos que queriam ver um game nacional ganhar destaque tanto aqui quanto lá fora. O investimento na divulgação não foi pouco.
Lançado em março de 2016, o game é uma homenagem aos antigos jogos da era 8 e 16 bits, com seus desafios simples de encarar, inicialmente, que vão gradativamente ficando infernais, enquanto fazem referência a games clássicos. O diferencial fica por conta da trilha sonora, cantada para cada situação que aparece no caminho ou até mesmo quando se fica parado muito tempo no mesmo lugar, um fator que não contribui tanto assim para a diversão.
Quem procura alguma novidade além da cantoria pode ficar um pouco decepcionado, pois A Lenda do Herói é um clássico jogo de plataforma em que se vai da esquerda para a direita, matando quem vier pela frente com sua espadada única e ganhando novos itens ao encontrar baús pelo caminho. Além de coletar moedas para comprar artigos na vila, o jogador encontrará também tokens e pergaminhos com notas musicais, mas o importante mesmo são as habilidades extras que estão no caminho para facilitar.
Pode-se dizer que cada fase é uma referência à um game antigo diferente. A primeira é de Mônica no Castelo do Dragão com suas cobras e plataformas, depois o castelo clássico de Castlevania, com mais serpentes, ou o deserto de Super Mario Bros. 3. Em uma caverna vulcânica, na água, o herói se comporta como Sonic, precisando respirar em bolhas de ar que saem do chão e nadando como o encanador da Nintendo. Na fase da floresta, temos as clássicas jangadas que se movem e precisamos acompanhar, subir em cipós como escadas no estilo Mega Man. Já o mapa das fases é muito parecido com o de outro Indie, Shovel Knight
Os gráficos são ótimos, pixel art de qualidade e muitos detalhes no cenário. A composição também é muito boa, mas os inimigos são repetidamente irritantes, principalmente nas três primeiras partes, onde haverão serpentes de todo tipo. Os puzzles são simples e as canções mudam em cada estágio, e às vezes te dão dicas sobre o que fazer. Mas, na maioria das vezes, são rimas pobres sobre qualquer coisa, e se tornam irritantes depois de um tempo, pois as fases são muito compridas e o personagem é lento. Essa falta de velocidade torna a repetição de trechos, caso o jogador morra, maçante. Deveria haver um jeito de desligar as canções, mas não encontrei o botão de Pause.
Os gráficos são ótimos, com pixel art de qualidade e muitos detalhes no cenário. A composição das fases também é muito boa, mas os inimigos são repetidamente irritantes.
Certamente, por ser um jogador das antigas, eu já esteja calejado de ver jogos de plataforma onde, com sua espada e escudo, avançamos infinitamente adquirindo itens que ajudam no progresso. É a mesma fórmula que muitos criadores indie, com poucos recursos, estão usando. Mas em A Lenda do Herói, percebe-se muito foco nas canções, acabamento gráfico e referências, mas o fator diversão ficou relegado à “consequência”, e não como prioridade.
Não vejo motivos para jogar depois de terminar, e não tive apego nenhum pelo personagem, que tem um design genérico, enquanto enfrenta chefes fáceis de manjar.
Caso você não tenha jogado os clássicos games de plataforma antigos, este título pode ser sua porta de entrada para o mundo “gamer old school”, gerando mais empatia pelo seu tio, que fica se gabando por ter terminado Valis 3 ou Ghost’n Goblins sem continues. Para quem já jogou, porém, A Lenda do Herói pode passar despercebido ou não causar apego algum depois de jogado.
Este é o primeiro título dos irmãos Castro, e, caso haja um segundo, dá para melhorar muito. Mas para uma estreia, está muito bom, e, principalmente, inovador, como um game de trova constante. Talvez seja, até, o começo de um segmento de mercado. Mas um botão de corrida ajudaria muito!