A poucos meses de a série de filmes baseados na franquia Resident Evil completar 15 anos de existência, temos enfim o aguardado capítulo final da famigerada heroína Alice – o que não significa que a espera tenha sido de uma maneira positiva, entretanto. A última aventura da poderosa personagem vivida pela querida Milla Jovovich chegou aos cinemas em dezembro de 2016, em uma première exclusiva no Japão, e ao Brasil em 26 de janeiro de 2017.

É de se louvar, porém, como esta saga conseguiu se manter por seis filmes que, apesar de não serem grande sucessos pelos olhos da crítica especializada, ainda assim são capazes de entreter a família toda, garantindo sempre um grande faturamento pelo público. Este sexto longa-metragem, por sinal, segue bem a fórmula dos antecessores, com roteiro repleto de inconsistências, personagens nada memoráveis, muitas cenas de ação (incluindo combate corpo a corpo e contra alguns monstros), e diversas referências aos jogos.

Em “Resident Evil: O Capítulo Final”, continuamos (quase que) exatamente onde o último filme terminou, mas com uma sutil diferença: a protagonista, Alice, desta vez está sozinha. Não há inimigos ao redor, tampouco amigos ao seu lado. Aparentemente, muito tempo se passou desde o final do último longa-metragem, mas todos estes momentos entre um filme e outro permanecem nublados.

Por outro lado, é citado que dez anos se passaram desde o incidente em Raccoon City. A história da vez, inclusive, se desenrola com Alice tendo que retornar até os escombros da cidade onde tudo começou, enquanto a Corporação Umbrella reúne suas últimas forças para um ataque final contra os remanescentes do apocalipse que destruiu o mundo e transformou mais de 90% da população em zumbis. A nossa protagonista, claro, abraça a causa e recruta velhos e novos amigos para esta derradeira batalha, em prol de salvar o que restou da raça humana.

Tudo aqui gira em torno de um ponto final nos principais acontecimentos da saga de Alice… E por principais, entenda que nem tudo foi resolvido; ou não foram considerados relevantes o bastante para tal. O resultado em cima das resoluções de todo o main plot também não foi satisfatório, uma vez que tentaram interconectar (e solucionar) tudo de uma só vez, mas ignorando completamente fatos e até mesmo personagens de filmes anteriores.

No fim das contas, as respostas geraram apenas mais dúvidas, e abriram ainda mais buracos no roteiro. Não que a esta altura do campeonato alguém esteja ligando para o enredo destes filmes da franquia, mas me intriga muito que durante 15 anos as palavras “coesão e coerência” continuem sendo completamente ignoradas desta forma.

 

“É hora de ligar a suspensão de descrença?”, você me pergunta. E eu respondo: já deveria estar ligada há muito tempo. Contudo, mantê-la assim por tanto tempo, cansa. Ainda restam muitas dúvidas soltas no ar neste capítulo final da saga de Alice, e alguns acontecimentos ficam abertos para interpretação, deixando aquele gosto amargo de história muito mal contada na boca.

Se tem algo que infelizmente a franquia de filmes de Resident Evil não conseguiu adaptar ou até mesmo mostrar de maneira semelhante aos jogos, é a simpatia e o carinho pelos personagens, sejam estes originais ou trazidos diretamente dos games. Os títulos para videogames sempre focam em algum incidente biológico, é verdade; mas são os personagens vivenciando aquela experiência, que fazem toda a diferença – ainda que não sejam aprofundados como deveriam, o público consegue se apegar de alguma forma a eles.

Nos filmes, ocorre justamente o contrário, infelizmente. Não há desenvolvimento, não há apego, não há sequer uma finalização decente para a grande maioria deles (e isto de um modo geral, considerando todos os longas-metragens). Em “O Capítulo Final”, aliás, dá pra sentir que há empenho por parte do elenco; boa parte deles parece realmente estar se divertindo enquanto interpreta. Porém, seus personagens são como lenços de papel descartáveis.

Falando agora de aspectos mais técnicos do filme, devo ressaltar o quanto a montagem do filme foi dinamizada, para que tudo pudesse caber em 1h47m. Tudo acontece rápido, e exige um raciocínio rápido e olhos atentos para entender tudo que rola entre uma cena e outra, e isso não é algo necessariamente ruim, mas está longe de ser bom também. Um exemplo disso são as cenas de ação, sempre picotadas quando chegam em seu ápice, com ângulos de câmera esquisitos e uma sensação de aquecimento que nunca termina. O jogo de luzes utilizado em muitas destas cenas repletas de adrenalina também é um grande incômodo.

Na trilha sonora do longa, saem as batidas eletrônicas/industriais de Tomandandy e entra a dramaticidade das músicas de Paul Haslinger, que já fez seu nome na indústria com composições para obras como Prom Night e Underworld, as séries Halt and Catch Fire e Fear the Walking Dead, e jogos das franquias Rainbow Six e Need for Speed, dentre outros.

Por fim, se você for muito fã da franquia como um todo (jogos, filmes, livros, quadrinhos, etc.) ou até mesmo consiga a proeza de encarar o universo dos filmes como alternativo (e se manter bem com isso), então vale ver “Resident Evil: O Capítulo Final” sim; afinal, ele é até segunda ordem, a última aventura da heroína Alice. E mesmo que você não acompanhe toda esta gigantesca série, mas por ventura se interessou em assistir a este longa-metragem para saber como tudo acaba, esteja avisado: desligue TOTALMENTE o cérebro e se divirta. Ao menos engraçado o filme é, isso eu posso garantir.

Encontrou um erro?

Envie um email para contato@newgameplus.com.br com a URL do post e o erro encontrado. Obrigado! ;-)