Eu não acredito em análises formais de consoles. Em um mundo onde atualizações de sistema são constantes, os aparelhos de hoje podem ser bem diferentes do que eram no lançamento. O mesmo vale para os títulos, que moldam a vida de um video game muito mais do que suas especificações técnicas. Ainda assim, depois de vários dias lidando diariamente com o Nintendo Switch, dá para comentar algumas coisas sobre essa nova geração. Mas a verdade é que, no fim das contas, ficam mais perguntas do que conclusões.
A principal dúvida, aqui, se relaciona a o que, exatamente, é o Switch. A Nintendo fala da plataforma como um console de mesa, mas manipulando-o, percebemos que o contrário se aplica bem melhor. O novo aparelho é muito mais um portátil e tudo gira em torno da pequena tela de 6,2 polegadas, pouco maior que muitos celulares de topo de linha.
Isso significa que os controles se conectam, sem fio, diretamente a ela, que também é usada para recarga dos Joy-Cons. A doca que o conecta à televisão faz apenas um trabalho de transferência da imagem, sem grandes melhorias. Na sua mão, os games do Switch rodam a uma resolução de 720p. Quando plugado ao acessório, o console tem um incremento em seu desempenho, que pode ser usado pelos desenvolvedores para aumento de resolução, chegando até 1080p nativo, por exemplo. Cabe a cada um utilizar esse potencial extra como desejar.
Por dentro, estão um processador NVIDIA Tegra customizado, mas semelhante ao que temos hoje em smartphones e tablets potentes ao unir CPU e GPU em um único componente. A unidade é acompanhada de 4 GB de memória RAM, uma combinação que torna a experiência com The Legend of Zelda: Breath of the Wild, o game mais exigente da line-up de lançamento, fluida e bonita. Os gráficos, entretanto, não são tão bons quanto os vistos no PS4 ou Xbox One, mas talvez essa nem seja a intenção da Nintendo.
Existem, sim, alguns problemas visuais, como pop-ins aqui e ali ou uma queda na taxa de quadros por segundo quando a câmera faz um movimento mais rápido. Ainda assim, a nova aventura de Link compensa com um dos mundos mais interessantes e imersivos já vistos em um título do estilo sandbox. Vale a pena comprar um Switch por causa de Zelda? Vale demais, palavra de quem não é nem muito fã da franquia.
Arroz com feijão
No restante, há muito pouco para demonstrar do que o Switch é capaz. Aqui no NGP, também tivemos contato com Super Bomberman R, da Konami, que traz diversas lembranças divertidas do passado da franquia, mas é um título extremamente simples. O console oferece também 1-2-Switch, para mostrar do que os Joy-Cons com sensores de movimento são capazes.
Ainda assim, não tem como afastar muito a ideia de que o novo console da Nintendo é uma máquina que, no momento, só roda Zelda. Avaliar se isso é suficiente ou não cabe a cada um.
Acessórios e conectores
A simplicidade permeia a maioria dos aspectos do Nintendo Switch. Ele é, hoje, um video game em sua definição mais básica, pois roda jogos, e pouco mais do que isso. A rede online da Nintendo ainda inexiste, pois deve ser lançada no futuro, e o dispositivo não dá acesso a serviços de streaming como Netflix ou Spotify. Nem mesmo um navegador de internet está disponível, o que reforça ainda mais essa noção.
Não vamos entrar aqui em questionamentos sobre a necessidade ou não de recursos desse tipo, principalmente devido ao fato de que tais fatores devem, e provavelmente vão, mudar no futuro. O eShop, atualmente, também apresenta apenas versões digitais dos títulos de lançamento da plataforma, com o Virtual Console, que traz games clássicos da biblioteca da Nintendo, chegando também no futuro. Fora esse recurso, não existe nenhum tipo de retrocompatibilidade aqui, e o Switch não é compatível com acessórios, discos ou cartuchos antigos – a única exceção são os Amiibos.
Por fora, entretanto, essa simplicidade é deixada de lado pela quantidade de possibilidades de jogo. Além dos já citados modo portátil ou TV, games compatíveis também permitem que os Joy-Cons sejam usados como controles individuais. Em Super Bomberman R, por exemplo, a experiência foi divertida e interessante, além de confortável, apesar de os controles parecerem um pouco pequenos demais. Quem tem as mãos grandes pode sofrer.
Ambos os acessórios podem se tornar um joystick convencional quando unidos a uma peça que acompanha o Switch, e aqui, as dimensões são semelhantes às de um DualShock 4, com diferenças milimétricas na altura e largura. Um direcional convencional até faz falta, ainda mais quando se pensa que jogos de luta também chegarão ao console, mas dá para entender porque eles não estão lá. O controle é extremamente leve e confortável, encaixando bem na mão e permitindo horas ininterruptas de jogatina.
A bateria também comporta essas longas sessões. São mais de 20 horas nos Joy-Cons, e realmente passamos um fim de semana inteiro com Zelda no modo TV sem precisar recarregar os controles. Já o console em si tem uma autonomia de duas a seis horas, de acordo com o game. A aventura de Link cai nesse tempo mínimo, enquanto Super Bomberman R pode ser jogado por 3h30 antes de vermos o aviso de que a energia estava acabando.
O carregador é USB-C, o que significa que fontes de notebooks ou até mesmo os próprios dispositivos podem ser usados para recarregar o Switch. O lado ruim, entretanto, é que os controles não possuem conectores individuais, e precisam ser conectados à tela do console para carregamento.
De resto, o video game possui conexões Bluetooth, apenas para os Joy-Cons, e Wi-Fi. O uso de cabos de rede só é possível com o uso de um adaptador vendido separadamente, uma alternativa adotada pela Nintendo desde o Wii U. O console traz ainda entrada P2 para fones de ouvido estéreo e um botão dedicado à produção de screenshots, que podem ser compartilhadas facilmente nas redes sociais pelo próprio aparelho.
A aparência de frágil e leve do Nintendo Switch não se aplica à realidade. Existem, claro, preocupações quanto à resistência dos conectores que prendem os controles à tela. A retirada dos protetores e alças dos Joy-Cons individuais também exigem um pouco de força, que dá medo de aplicar. O formato do aparelho, basicamente um tablet, também o torna mais vulnerável que os consoles tradicionais, mas basta dedicar a ele o mesmo cuidado dado a outros eletrônicos do tipo, com aplicação de películas e manipulação delicada, que os problemas não existirão.
As questões relacionadas à longevidade do Nintendo Switch se aplicam mais ao suporte que será dado a ele, principalmente, pelas desenvolvedoras third parties. Por ser bem inferior ao PS4 e Xbox One, além de apresentar uma arquitetura diferente, o trabalho de lançamento de um jogo para ambas mais o console da “Big N” se torna mais difícil, um fator que foi o principal motivo para a derrocada do Wii U.
Mais uma vez, a Nintendo parece estar apostando na força de suas próprias franquias e nas capacidades diferenciadas de sua nova geração para atrair a atenção dos jogadores. Tem dado certo neste começo, com quase dois milhões de unidades vendidas neste lançamento, algo bem próximo do que a companhia esperava. Mas e o futuro, como será? Essa é uma questão que nenhuma análise atual é capaz de responder.
Especificações técnicas
- Tamanho: 10,2 cm altura x 1,4 cm profundidade x 23,9 cm largura (com os Joy-Cons);
- Tamanho Joy-Con: 9 cm largura x 3,5 cm altura x 1,4 cm profundidade cada;
- Tela: 6,2 polegadas capacitiva multi-touch;
- Resolução: 1280 x 720 pixels, até 1080p no modo TV;
- Peso: 300 g;
- Memória: 32 GB de armazenamento interno, suporte a cartão microSD de até 2 TB;
- CPU: NVIDIA Tegra ODNX02-A2 SoC customizado;
- RAM: 4 GB LPDDR4 DRAM;
- Conexões: Wi-Fi, Bluetooth (somente para Joy-Cons), HDMI, USB-C (para recarregamento), P2 3,5 mm (áudio);
- Sensores: Acelerômetro, giroscópio e luminosidade;
- Autonomia: de 2h a 6h de acordo com o jogo;
- Bateria: Li-Ion 4310 mAh, 3h para recarga completa em modo de repouso;
- Conteúdo da caixa: Console, doca, dois Joy-Cons (esquerdo e direito), grip para controle, duas alças protetoras para os joysticks, cabo HDMI, fonte de energia.
CORREÇÃO 20/03/2017 12h45: Conforme apontado por alguns leitores, existe sim um aumento de performance quando o Nintendo Switch está acoplado na doca. Fica a cargo de cada desenvolvedor utilizar esse poder adicional como desejar, seja por meio de um aumento nativo na resolução, um upscalling ou outros métodos. Além disso, em The Legend of Zelda: Breath of the Wild, a Nintendo utilizou um sistema que altera a resolução do game em tempo real, de acordo com o que está acontecendo na tela, de forma a manter uma taxa de quadros o mais estável possível. O texto original foi alterado para refletir tais alterações, esclarecidas aqui em maior detalhe.