Flat Kingdom Paper’s Cut Edition é um jogo plataforma tradicional que traz uma arte linda e uma história clichê contada de forma interessante. No game, você é Flat, o herói conhecido por todos e que é chamado pelo rei para salvar sua filha, a princesa. Ela foi sequestrada por um ladrão que roubou as joias mágicas da coroa. Cabe a você correr atrás do bandido, usando seus poderes para superar os desafios antes que o mundo achatado se transforme em três dimensões.
A primeira coisa que me chamou a atenção no jogo foi o tutorial, que segue as discussões modernas do desenvolvimento de jogos, onde parte da história é mostrada enquanto se ensina os comandos. Esse começo te cativa, pois entendemos que existe um sentimento de Flat para com a Princesa sequestrada, e isso é mostrado com tanta sutileza que realmente nos inspira a salvá-la. Uma situação muito diferente do que temos com Mario e a Princesa Peach, cujo relacionamento não fazemos ideia de como funciona.
Após entendermos como Flat muda de forma para resolver os desafios – Círculo com seu pulo duplo, Quadrado e sua força e peso e Triangulo com a velocidade pontuda -, e de como essas formas interagem com o mundo (Círculo vence Quadrado, que vence Triangulo que vence Círculo), podemos correr atrás da Princesa. E assim começa um jogo plataforma convencional.
O que achei interessante e me manteve curioso é como o mundo vai virando em três dimensões e os NPCs do jogo vão interagindo com isso, tudo com um humor infantil e agradável. Além disso, algo fica em nossa cabeça ao longo do jogo: como que um herói em duas dimensões será afetado por um mundo em três dimensões? O jogo propõe essas novidades progressivas, o que torna joga-lo uma experiência constante de aprendizado.
Vejo em Flat Kingdom um título muito mais próximo de Mario do que de Braid ou Super Meat Boy, afinal, esses outros jogos propõem evoluir as mecânicas e criar uma nova experiência para aqueles que já estão familiarizados com esse gênero, ou seja, é mais fácil jogá-los caso você já tenha experimentado jogos de plataforma antes. Flat Kingdom, por outro lado, é introdutório.
Títulos dessa categoria são difíceis de se encontrar hoje em dia e até mesmo as grandes empresas estão empenhadas a fazer jogos para jogadores veteranos, sendo difícil para uma criança, ou mesmo um adulto que não tenha o hábito de jogar, começar pelos títulos mais recentes. Existe uma grande discussão sobre como lidar com esse público, enquanto a maioria dos veteranos não querem serem ensinados novamente a como jogar e buscam a evolução de experiências que já tiveram. Os iniciantes, aqueles que mal possuem coordenação motora entre olhos e dedos, acabam caindo em jogos como The Witcher, GTA V, Super Meat Boy e sentem-se frustrados por não conseguirem sair do lugar.
Sem dúvida, eu e muitos que leem reviews de jogos não somos o público alvo de Flat Kingdom, mas aquele seu amigx / namoradx que nunca jogou antes encontrará aqui um ótimo jeito de começar e aprender quão legais videogames são.
Flat Kingdom não se preocupou tanto com sua história, apesar de reviravoltas acontecerem e só vamos entender exatamente o que está acontecendo ao longo do jogo; mesmo assim, o começo parece se mostrar mais do mesmo. No entanto, a arte é caprichada, fazendo todo os cenários lembrarem aqueles livros que você abre e todo um mundo de papel se desdobra na sua frente. Todos os personagens no jogo são feitos de papel, parecendo um origami com colagens, tudo com escolhas de cores lindas e charmosas que dão sentido ao mundo de formas do jogo, navegando entre Círculo, Quadrado e Triangulo.
Essa, para mim, é a grande sacada do jogo – como saber qual forma geométrica a criatura representa? Afinal, descobrir isso permite você conseguir atacar sem se machucar. Muitas vezes me peguei olhando para um bicho tentando visualizar qual a forma dele para poder atacá-lo, e esse tipo de desafio de cognição é algo bem novo e muito interessante. Ver como tudo foi feito com tanto cuidado nos permite ver sentido em todos os detalhes do jogo.
E detalhes são o que não faltam. Os cenários são repletos de pequenas histórias, não existe arte decorativa que não ajude a melhorar a narrativa do jogo, nos fazendo entender sempre melhor a profundidade do jogo e desse fantástico mundo achatado.
Enquanto a batalha contra as criaturas se resume a uma partida de jokenpô, as batalhas contra os chefões são mais elaboradas. Sua troca de formas precisa estar na ponta dos dedos, e exige atenção redobrada. Claro que, após pegar o jeito, a luta se torna simples e jogadores experientes entenderão rapidamente o que fazer nas batalhas iniciais e até se aproveitarão de pequenos erros do jogo para vencer facilmente. Mas ao longo do game, as batalhas ficam mais elaboradas e épicas.
A construção desses momentos também mostra o quão bem trabalhado foi o jogo, pois a falta de desafios e de ação foram completamente resolvidas nesses encontros. Um bom contraponto à simplicidade constante que existe no jogo, e muitos combates assim ocorrem.
Flat Kingdom é um jogo bom para indicar àqueles que estão começando a se aventurar no mundo dos videogames. O jogo possui legendas em português, uma arte fantástica e uma história clichê, mas para que aqueles que não têm o hábito de jogar, talvez nunca tenham vivido essa narrativa; além de desafios simples, mas progressivos, e uma trilha sonora bem legal.
Se você é fã de jogos plataforma, talvez só vá gostar do jogo após algum tempo, e vale muito se aventurar por essa arte incrível. Porém, se sua praia não é feita de jogos fáceis e lentos, melhor deixar esse jogo de lado.
O game foi analisado em cópia cedida pela Fat Panda.