Shadow Warrior 2 começa com tudo. O protagonista Lo Wang está descendo uma colina em um carrão e parece nem tomar conhecimento dos demônios que já começam a persegui-lo antes mesmo de chegar a seu destino. Ele aceitou uma missão, mesmo que meio a contragosto – não dá para saber, pois ele parece odiar tudo o tempo todo – e vai completa-la, não importa o que houver.
Sempre cheio de piadolas e com tiradas na ponta da língua, ou simplesmente mostrando o dedo do meio quando fica sem ter o que dizer, sua personalidade é tão afiada quanto a espada que empunha e potente como as metralhadoras no inventário. Bem preparado e com poderes mágicos, ele segue adiante, sem parar de tagarelar, pelas cerca de 10 horas da campanha do título.
O protagonista se acha o fodão – mas acaba soando apenas como um insuportável. Lo Wang é o cara, e provavelmente cortaria minha garganta se lesse o começo dessa análise. Eu ficaria satisfeito, pois assim não precisaria mais ouvi-lo.
E é assim, por conta de um roteiro mal escrito e com um humor que está lá simplesmente por uma grande necessidade de ser “cool”, que Shadow Warrior 2 deixa de ser um shooter bem interessante para se tornar um game daqueles que você fica feliz de terminar. Não pela sensação de dever cumprido, mas por finalmente ficar livre do personagem.
É uma pena quando se leva em conta o combate muito divertido e extremamente caótico. Inimigos gerados proceduralmente criam um ambiente que favorece tudo isso, com o jogador nunca sabendo se encontrará uma verdadeira tropa pela frente ou simplesmente um corredor vazio. No último caso, a recompensa é a tranquilidade, do outro, a gigantesca quantidade de itens que caem por aí.
Shadow Warrior 2 funciona como jogo. Mas é difícil olhar além de seu protagonista, que não para de falar e serve de apoio para um roteiro fraco e cheio de piadas péssimas.
Caso escolha o caminho da agressão, é preciso dominar o simples sistema de troca de armas e correr sem parar para escapar de inimigos que atacam em sucessão. É bastante empolgante atirar à distância em um mostrengo e, instantaneamente, também retalhar outro que está logo ao lado, com a espada, voltando à ação anterior logo na sequência.
Muitas vezes, tem tanta coisa acontecendo que fica até difícil enxergar um caminho, rota de fuga ou até mesmo o inimigo em meio ao sangue jorrando e artefatos espalhados pelo chão. Colecionáveis de vários tipos estão em todos os lugares, fazendo a festa dos complecionistas e também daqueles que gostam de explorar cada cantinho.
E como há espaço para isso. Shadow Warrior 2 não é nada linear, com cenários amplos e abertos associados a um indicador do caminho a seguir. A escolha, então, fica com o próprio jogador, que pode seguir diretamente para o objetivo, ou então navegar por aí estripando oponentes e coletando o loot, que pode render armas novas – muitas delas, sim, extremamente “cools” –, upgrades ou melhorias, além de pontos de experiência para evoluir o protagonista.
Em um título vasto, entretanto, não tem como cair na repetição. Contrastando com o hub central do jogo, onde cada cantinho esconde uma piadinha ou referência – elas estão em todos os lugares, então, olho vivo! – estão alguns cenários repetitivos, principalmente quando se fala em áreas internas. Sem seguir o indicador, fica fácil achar que se está rodando em círculos. Aparentemente, não dá para ser criativo o tempo inteiro.
Enquanto Shadow Warrior 2 se destaca por suas mecânicas e jogabilidade – principalmente em modo coperativo, onde a ação fica ainda mais divertida –, os seres humanos parecem não serem realmente o forte. Modelos ruins e mal desenhados, que parecem, muitas vezes, saídos da geração passada, gritam em meio aos cenários bem construídos e cheios de elementos.
Quando se lê, o roteiro do jogo é até interessante – Wang é uma relíquia do passado, vivendo renegado após suas ações no primeiro game darem errado. O mundo, agora, tem uma ordem na qual humanos e demônios convivem, enquanto o herói serve de mercenário para missões de alta periculosidade, ganhando pouco para isso. Ele acaba no caminho de uma megacorporação ligada, justamente, às criaturas, que tentam mudar esse balanço.
Entretanto, existe uma preocupação muito maior em fazer com que o protagonista solte uma tirada a cada cinco segundos. Mesmo artifícios interessantes, como o fato de Wang, em determinado momento, passar a dividir o corpo com a alma da garota que deseja salvar, servem para deixar o mundo interessante. Todas as falas da moça servem apenas como plataforma para mais piadinhas dignas da escola de cinema “banana na bunda”.
Entre todas as referências lançadas ao longo de Shadow Warrior 2, “Deadpool” é a maior de todas. Ambos os personagens são ninjas e gostam de dilacerar seus inimigos, mas as semelhanças param por aí. Lo Wang, provavelmente, gostaria de ser como o mutante, mas lhe falta carisma, acima de tudo.
Shadow Warrior 2 funciona como jogo. Mas é difícil olhar além do estereótipo ruim e racista que constitui suas entranhas. Pegue numa promoção das boas, caso contrário, é melhor voltar a Borderlands ou assistir ao filme do mercenário tagarela.
O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Devolver Digital.