A disputa entre Marvel X DC não é mais recente que a vontade dos fãs de quererem impor sua vontade pessoal sobre os amiguinhos. Como essa guerrinha entre consumidores alavanca muito as vendas, essa rivalidade também chegou ao universo dos games. Foi assim que a cena dos jogos de luta conheceu os bons e terríveis títulos que apresentaremos a seguir.
Neste artigo, recapitulamos toda a saga das editoras no entretenimento eletrônico e quanto tempo levou até que Marvel e DC se equiparassem – ou não – no mundo das lutas virtuais.
X-Men: Children of the Atom – 1994
https://youtu.be/375xGC8aPNA?t=11s
Enquanto o mundo ainda sentia o sabor dos jogos mais recentes da disputa entre Street Fighter e Mortal Kombat, a Capcom pega a todos de surpresa e lança o estonteante X-Men: Children of the Atom, que abriria as portas para os maiores crossovers do mundo gamístico. “Xis meim”, para os ratos de fliperama, era muita adrenalina de uma vez só para a garotada, pois trazia os personagens da série animada que passava na TV, gráficos e trilha sonora numa qualidade superiora aos jogos anteriores, cenários que estavam sempre em transição e lutadores com tantos quadros de animação que pareciam desenhados à mão, com a arte do renomado Jim Lee, o mais requisitado ilustrador da Marvel na época.
Ver aqueles personagens clássicos do desenho e do gibi pulando mais de duas telas de altura, com rajadas gigantescas e os poderes bem desenhados, tudo com a jogabilidade de Street Fighter, fez com que esse título um divisor de águas na era de ouro dos jogos de luta. Ele começou um segmento, o de jogos de luta de heróis americanos.
Justice League: Task Force – 1995
Percebendo o impacto causado pelo jogo dos X-Men, a DC tratou de se mexer e encontrou na Acclaim, mesma publisher da série Mortal Kombat, um campo onde poderia entrar nesse combate. Assim, é criado pela Sunsoft junto com a Blizzard o primeiro jogo de luta da DC; Justice League: Task Force, trazendo muitos personagens famosos e, de vilão, somente Darkseid. Apesar da intenção, o jogo saiu simplório e com poucos lutadores, mesmo tendo algumas séries de TV fazendo sucesso na época como “Lois & Clark” e “The Flash”.
O sistema de jogo era do tipo “bata como der”, usando os golpes clássicos dos personagens famosos. Apesar de divertido de início, logo fica chato pela repetição. Com gráficos medianos e nenhum impacto visual, apesar de ter sido lançado para Super Nintendo e Mega Drive, rivais da época, Task Force não foi continuado e virou mais um joguinho de churrasco para gamers nostálgicos.
Marvel Super Heroes – 1995
https://youtu.be/PNRI58AV07Q?t=28s
Já no ano seguinte ao lançamento de X-Men: Children of the Atom, a Capcom lançou um segundo título, baseado na saga Guerra Infinita. Qual não foi a surpresa ao ver que o jogo estava melhor, com combos sólidos, mais personagens da Marvel e o sistema de Gemas, onde cada personagem utilizaria as pedras do poder para mudar os rumos do combate, sem falar pela disputa pelas joias e os chefes do jogo anterior, controláveis sem o uso de truque.
Porta de entrada de muita gente para o mundo dos quadrinhos, Marvel Super Heroes pavimentou as intenções da DC fazer jogos de luta por mais de 10 anos, até o lançamento de Mortal Kombat Vs. DC Universe, que falaremos mais adiante.
X-Men Vs. Street Fighter – 1996
Quando eu era um jovem mancebo que amarrava o tênis Kichute até as canelas, me falaram que havia saído um fliperama que misturava Street Fighter com os X-Men. Achei uma lorota incrível, mas paguei com a língua ao visualizar a máquina do momento, coberta por marmanjos de índole questionável e que ficou inacessível para mim até a encontrar perto do mercado onde fazia as compra do mês. Ali, estavam máquinas incomuns como Super Sidekicks 3, Tekken 3, Marvel Super Heroes, Real Bout Special e a tão sonhada X-Men vs Street Fighter.
Usando um sistema de duplas copiado de Savage Reign – Kizuna Encounter, era possível trocar de personagens durante a luta, e, o mais incrível, fazer os Hypers ao mesmo tempo. Isso sem falar do sistema de combos herdado do jogo anterior, agora pelos personagens de Street Fighter, com seus poderes aumentados de um modo incrível. O sucesso foi tanto que os crossovers entre a Marvel e a Capcom se provaram uma ótima parceria.
Marvel Super Heroes Vs. Street Fighter – 1997
https://youtu.be/vImtBikSw9g?t=13s
Sequência direta de X-Men vs Street Fighter, Marvel Super Heroes vs. Street Fighter é praticamente um upgrade que trouxe alguns personagens de Marvel Super Heroes e Children of the Atom, adaptando-os para o novo sistema de duplas e Air Combos. Apesar de algumas novidades, não impressionou ninguém e acabou perdendo a atenção do público para outros títulos que lançavam naquele ano, como The King of Fighters 97.
Marvel Vs. Capcom – 1998
https://youtu.be/qPY_7uG86G8?t=17s
Tentando reconquistar a atenção dos fãs de quadrinhos e Street Fighter, é lançado o novo crossover entre as empresas. Marvel Vs. Capcom chega arrebentando o coração dos fãs com Venom e War Machine do lado Marvel e personagens raiz da Capcom como Strider, Jin Saotome, Megaman, Morrigan e o Capitão Commando. Como se já não fosse empolgação demais, foram introduzidas duas novidades: o sistema de controlar ambos os personagens ao mesmo tempo, com Hyper Combos à vontade por curto período de tempo, e os Assists, que botavam mais nostalgia e estratégia no combate.
A Capcom havia ganhado de volta a atenção dos fãs de uma forma tão absurda que o pedido por mais crossovers desse tipo se tornaram constantes.
Marvel Vs. Capcom 2 – 2000
Mesmo levando o dobro do tempo de espera, Marvel 2, como ficou conhecido, fez uma proeza incrível ao utilizar a nova placa da SEGA, Naomi, que era a força motriz do finado Dreamcast. Isso reuniu grandes sucessos dos arcades e outros originais de luta num mesmo console, além de torná-los mais poderosos graficamente. Outro fator, aqui, era a incrível quantidade de personagens jogáveis e o sistema de trios, que tornou a experiência de combate muito mais frenética que antes.
A avalanche de protagonistas de ambos lados tornou o título uma das grandes atrações nos prematuros torneios mundiais de jogos de luta. Lançado no mesmo ano que o primeiro filme dos X-Men, Marvel Vs. Capcom 2 foi o jogo de consolação para os fãs da franquia por 10 anos, até o lançamento da tão aguardada sequência.
Mortal Kombat Vs. DC Universe – 2008
https://youtu.be/4zE8P-e3Cr0
A DC não desistiu da missão de emplacar um jogo de luta com seus personagens e aceitou o pedido da Midway, criadora de Mortal Kombat, de fazer um crossover entre seus personagens mais icônicos. Com dois filmes de sucesso do Batman no gosto do povão e a série Mortal Kombat ainda lançando jogos, parecia o melhor momento para lançar um jogo trazendo os protagonistas mais conhecidos de ambos lados, para ter bastante apelo ao público
Assim, foi criado um sistema em que Heróis e Kombatentes se equiparariam, mas os personagens dos gibis não poderiam ser mortos em Fatalities. Com gráficos terríveis e sistema de combate desestimulador, somado ao “Free-Fall Kombat”, além de Fatalities e Heroic Brutalities infames, o título não conseguiu emplacar no gosto de ninguém. Mortal Kombat Vs. DC Universe fez com que a chance de ocupar a vaga deixada por Marvel Vs. Capcom 2 fosse por água abaixo.
Marvel Vs. Capcom 3 – 2010
Após uma década de viúvez, enquanto Street Fighter IV reinava supremo e solitariamente, a Capcom anuncia o retorno da série de crossovers com a Marvel, após um curto affair que gerou Tatsunoko vs Capcom. Impulsionado pelo recém-nascido universo Marvel nos cinemas e presença obrigatória nos torneios de jogos de luta, Marvel Vs. Capcom 3 virou um dos títulos mais divertidos de se assistir, mesmo com sua mecânica quebrada e personagens desbalanceados.
Trazer os personagens dos filmes e quadrinhos da Marvel, mais os personagens clássicos da Capcom e os “necessários” do anterior, foi um tiro certeiro. O produtor Ryota Niitsuma ainda teve a brilhante ideia de deixar em aberto uma votação de popularidade, para que os fãs escolhessem os personagens, além daqueles que já estavam definidos obrigatoriamente, o que foi uma mensagem poderosa de “damos importância a vocês”. Como participei das pesquisas votando em Haggar obstinadamente, posso afirmar que a atualização que saiu logo em seguida, Ultimate Marvel Vs. Capcom 3, mesmo que para raiva dos que haviam comprado a mídia física não fazia nem um ano, possuiu em sua maioria personagens votados pelos fãs, pelo menos do lado Capcom.
Injustice: Gods Among Us – 2013
Com o sucesso de Mortal Kombat 9, agora produzido pela NetherRealm Studios, a DC permitiu a criação de mais um jogo de luta usando seus personagens, mas adotando padrões mais convencionais para o cenário competitivo. Com jogabilidade parecida com a de sua principal inspiração, assim nasceu Injustice: Gods Among Us.
Premiado pela VGX Awards como melhor jogo de luta de 2013, trouxe 30 personagens dos universos que mais fazem sucesso para a DC, como o desenho da Liga da Justiça, filmes do Superman e Batman, sem falar dos quadrinhos que haviam se tornado de menor importância. Com jogabilidade sólida e ótimos gráficos, se destacou como novidade entre os rivais da época, em sua maioria jogos japoneses. Mesmo assim, Injustice, que ainda trazia jogabilidade de “um contra um”, ficou no limbo em pouco tempo, apesar do ótimo modo história e de ter Scorpion como personagem secreto.
Injustice 2 – 2017
Assim como o primeiro game teve a jogabilidade baseada no Mortal Kombat anterior, Injustice 2 puxa para a mais recente versão da sangrenta franquia de luta. O título recebeu boas melhorias no sistema de combate, como os golpes EX, que deixaram de ser exclusivos da Capcom, sistema de habilidade individual – uma soma de V-Skill e V-Trigger ao mesmo tempo. Apesar de um sistema de níveis e armaduras, o título manteve-se voltado à competitividade dos torneios.
Com gráficos e modo história ainda melhores que o anterior, Injustice 2 trouxe personagens que muitos queriam vez há tempos, com golpes e sequências criativas sem as falhas de equilíbrio entre os personagens ou desvantagens, dependendo do cenário escolhido. Mesmo sem abusar dos efeitos visuais e poderes gigantescos, o título conseguiu a atenção que a DC tanto merecia depois de 22 anos insistindo nos jogos de luta. Sua missão, agora, é permanecer como concorrente para o futuro.
Marvel Vs. Capcom Infinite – 2017
Ainda não lançado, Marvel Vs. Capcom Infinite é o novo jogo da série de crossovers da Capcom com a Marvel, que começou dando esperança todos os fãs – primeiro por chegar em menos de 10 anos, e segundo por trazer personagens que todos pediam há tempos, como Megaman X e os Guardiões da Galáxia. O porém é que, além de a jogabilidade não corrigir as falhas do predecessor, a modelagem de muitos personagens está feia. O sistema das Jóias do Infinito não empolgou como antes, apesar de influenciar mais nos combates, que voltaram a ser em duplas, e não trios.
Apesar dos anúncios recentes e até uma demo do modo história, os fãs sentem a falta dos queridos X-Men, a origem de todo esse sucesso lá em 1994. a desestimulante declaração dos produtores Pete Rosas e Michael Evans, de que “ninguém se lembra dos X-Men” fez os fãs virarem a cara e começarem a temer se o futuro dos crossovers estará limitado aos personagens da Marvel nos cinemas.
Enquanto a DC sobe e a Marvel desce, acho que encontraremos uma boa rivalidade no meio termo dessa batalha dos heróis. Quem sabe as editoras não se unam e lancem um Marvel vs. DC num futuro próximo? Que seja feito pela Arc System Works, por favor!