Estamos em uma época em que todo game é difícil é colocado ao lado de Dark Souls. Essa comparação tem menos a ver com estilo e mais com o fato de que, hoje, é muito difícil travar em um game por conta do desafio. Há sempre um caminho, uma artimanha, uma habilidade ou até uma forma de comprar continuidade. É por isso que o game da From Software chama tanta atenção.
Dada essa explicação, é hora de categorizar o brasileiro Eliosi’s Hunt da mesma maneira. Não da forma pobre como isso é feito hoje em dia, nem em termos de zoeira, mas sim, por ele ter provocado, pelo menos neste que vos escreve, as mesmas sensações. É um jogo daqueles que te prende por horas em um único desafio, para, quando você acha que está bem, te jogar outro ainda maior.
Desenvolvido pela TDZ Games, de Belo Horizonte (MG) é definido desde o começo como um shooter hardcore. E, aqui, há pouco espaço para moleza, com os bonitos gráficos da animação inicial logo substituídos por uma sombria floresta, na qual o desafio não demora a esmagar o jogador – literalmente.
Eliosi’s Hunt representa uma proposta diferente em termos de jogo nacional, mas sua dificuldade deve acabar afastando muita gente.
E aí você vai seguindo, enfrentando oponentes que morrem com um só tiro e até um miniboss que apresenta certa resistência, mas não sobrevive por muito tempo. E aí, quando você está tranquilo e dominando os comandos, é que Eliosi’s Hunt começa a colocar as garras de fora, não parando de fazer isso até o final.
Como na vida real, os ferimentos são fáceis de serem obtidos e difíceis de se curar. Basta encostar em um inimigo – e eles, muitas vezes, são muitos – ou estar no raio de uma explosão para sofrer um dano, perdendo uma preciosa barra do total de três. Para recuperar, entretanto, é preciso atirar em muitos itens amarelos, que podem ser vegetação, latões e outros.
E não é nada raro ver a tela sendo tomada de pássaros ou cachorros assassinos. Robôs inimigos preenchem a tela de tiros enquanto aranhas deixam teias explosivas. Tudo quer te matar, o tempo todo, e você, com certeza, será vítima muitas e muitas vezes. Habilidade, sangue frio e agilidade nos controles são essenciais para, pelo menos, tentar sobreviver.
A TDZ Games ainda encontrou formas de tentar o jogador durante o percurso. Felizmente, as vidas são infinitas, então não é preciso se preocupar com o progresso sendo resetado. Em Eliosi’s Hunt, por outro lado, a velocidade é imprescindível, e é aqui que o título te pega – a todo momento há uma opção, ativar um checkpoint ou destruí-lo em prol de uma movimentação mais rápida. Na maioria das vezes, nos arrependeremos das escolhas, independentemente de quais sejam.
Felizmente, toda essa jornada de morte e destruição da alma é exibida em gráficos bonitos e que chamam a atenção, principalmente, pela iluminação. A desenvolvedora independente evita o caminho fácil e confortável da Pixel Art para investir em um estilo mais contemporâneo, mas com um festival de neon, luzes e explosões que remetem aos títulos antigos para PC.
Há problemas, por outro lado, na escolha pela jogabilidade. Eliosi’s Hunt é um twin-stick shooter – um dos analógicos serve para controlar o personagem, enquanto outro trabalha com a mira. A arma principal do protagonista, entretanto, é nada precisa e os tiros sempre espalham, algo que pode ser minimizado por meio de upgrades.
Entretanto, muitas vezes, os disparos não seguem exatamente para a direção indicada pelo jogador, algo que contrasta e muito com a proposta de precisão e agilidade do game. Não é nada interessante ver Eliosi morrendo quando apenas um pixel de energia faltava para a derrota do vilão, que obteve uma vantagem quando o sistema de mira não funcionou como deveria. É de jogar o controle na parede e abandonar o game.
Dá para perceber, também, que ao criar um título hardcore, a desenvolvedora acabou perdendo a mão no balanceamento. Existem momentos simplesmente insanos nos quais a ameaça diante do herói é muito maior do que a capacidade dele de lidar com isso – e o primeiro exemplo aparece logo nos momentos iniciais da segunda fase, para se ter ideia.
Assim, o usuário acaba tendo de contar muito com a sorte, além da habilidade extrema, para sobreviver. Não é a melhor forma de se seguir em frente, principalmente quando pensamos que um game, na teoria, fica mais complexo na medida em que avançamos nele. E se logo no começo já há tamanho desespero, imagine o que vem por aí.
Eliosi’s Hunt representa uma proposta diferente em termos de jogo nacional, algo que, por si só, já faz com que o título mereça sua atenção. Ao seguir por um caminho além das propostas facilmente digeríveis que vemos por aí, a TDZ Games também criou um título que deve agradar aos fãs dos twin-stick shooters, um gênero que nem sempre merece a atenção que merece. Ganham os fãs.
Ao mesmo tempo, entretanto, o título deixa a desejar em um dos quesitos mais importantes, talvez, para a indústria independente, que é sua acessibilidade. Ao tornar Eliosi’s Hunt tão difícil e desbalanceado, a companhia pode acabar afastando uma parcela significativa de seu público, que deixará de ver os avanços e, principalmente, a qualidade gráfica exibidos aqui.
O game foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela TDZ Games.