O mundo da Fórmula 1 está em constante mutação. A cada ano, novas regras entram em vigor, mas não apenas isso – os carros também continuam sendo desenvolvimentos ao longo de uma temporada, com as máquinas que a iniciaram sendo bem diferentes daquelas que disputam na última corrida. Também é assim com a franquia F1, da Codemasters.
Desde os primórdios da geração passada, a desenvolvedora especializada em games de corrida é a proprietária da marca e cria a versão oficial da competição para os games. E assim como uma escuderia de verdade, evolui e realiza mudanças a cada iteração, não apenas para trazer novidades ou adaptar as regras do mundo real, mas também para entregar algo novo aos jogadores.
Apesar da ampla presença na velha geração, entretanto, é nas plataformas atuais que a companhia encontrou o seu auge. E após um deslize em 2015, quando fez sua estreia no Xbox One e PlayStation 4, a Codemasters mais uma vez mostra a que veio e entrega, neste ano, não apenas um dos melhores games de Fórmula 1 já lançados, mas também a mais completa simulação desse circo a dar as caras no mundo dos jogos.
Tudo é fruto de um desenvolvimento intimamente ligado a quem mais ama a categoria. De um lado estão os fãs, que fornecem informações durante todo o ano e auxiliam a Codemasters a encontrar o melhor caminho, indicando o que funcionou ou não. De outro, está o fato de F1 2017 ser um game oficial, o que permite que os próprios pilotos, os poucos que efetivamente vivem a modalidade, deem seu feedback. E o game só vai para as prateleiras quando ambos estão satisfeitos.
Ajuda bastante, também, o fato de que a empresa trabalha sobre bases sólidas. Em termos de estilo e jogabilidade, a franquia F1 permanece a mesma há anos, não porque não existem mudanças a serem feitas, mas porque um estilo ideal foi encontrado muito cedo. O desenvolvimento jamais começa do zero, e a cada ano de acerto, a Codemasters pode focar em trazer novidades e corrigir eventuais falhas, uma vez que o arroz com feijão já está pronto.
É justamente a miríade de opções que torna F1 2017 o melhor de sua série. As opções personalizadas continuam lá, com o jogo sendo amigável para novatos e extremamente desafiante para veteranos, bastando que cada um configure dificuldade e simulação ao próprio gosto. Os velhos conhecidos, ainda, contam com um sistema de importação de save que traz as especificações do ano passado para este, permitindo que os jogadores pulem diretamente para a ação.
E, acredite, há muita aqui. Não são apenas as provas, carros e pilotos da temporada deste ano, mas também uma incrível coleção de carros clássicos, de todas as épocas. Não é necessariamente uma novidade para a franquia, mas ao contrário do que aconteceu em 2013, a Codemasters não se prendeu a épocas desta vez. Em vez disso, transformou os eventos comemorativos em parte integrante da campanha, o que também a obrigou a dar a mesma atenção a ambos os aspectos.
O resultado é uma lista bastante variada de veículos, que vão desde as McLarens pilotadas por Ayrton Senna nos anos 1990 até as recentes Renault ou Red Bull que deram os títulos a Fernando Alonso e Sebastian Vettel, respectivamente. E cada uma tem seu próprio estilo, o peso adequado e uma pilotagem diferente, mesmo correndo todas juntas em algumas corridas.
Ser convidado para um evento desse tipo é um sopro de ar fresco em meio a um campeonato que, assim como na vida real, é acirrado e disputado. São longas sessões de testes e corridas extremamente desafiadoras, que se tornaram ainda mais neste ano com os carros maiores e mais velozes. Tudo isso também está refletido aqui, e em F1 2017, o caminho para a glória não será nada fácil.
Boa parte disso se deve ao fato de, agora, termos um sistema completo de peças e uma árvore de evolução gigantesca e complexa, com mais opções de desenvolvimento de carros e melhorias. Ao longo das corridas, é bom adaptar o estilo de pilotagem para preservar componentes como motores, caixas de câmbio e tudo mais, pois ser agressivo demais em uma corrida pode deixar você na mão na seguinte.
Após um deslize em 2015, a Codemasters entrega um dos melhores games de Fórmula 1 já lançados e também a mais completa simulação da categoria a dar as caras no mundo dos jogos.
E acredite, você vai entender Alonso e outros pilotos que, ao se depararem com uma quebra, saem com cara de poucos amigos de dentro do carro. Em uma adição bastante aguardada pelos fãs, os veículos agora podem apresentar panes durante o percurso, o que faz com que o jogador tenha que lidar, em tempo real e andando a 300 quilômetros por hora, com problemas como marchas faltando, falta de potência do motor ou falhas na mistura de combustível.
Enquanto isso, fora das pistas, é preciso saber gerenciar as peças para não receber punições nem ficar pelo caminho. As regras da Fórmula 1 com relação a isso estão bem aplicadas, mesmo que simplificadas, passando até mesmo ao jogador mais leigo a tensão de pilotar um carro pouco confiável e a alegria de um desenvolvimento bem feito se convertendo em resultados na tabela.
F1 2017, entretanto, perde um pouco de sua força nos detalhes. Um dos elementos mais interessantes dos jogos anteriores eram os cenários, eventos online liberados pela Codemasters com objetivos especiais, muitas vezes, inspirados em acontecimentos das corridas reais. Eles forneciam jogatinas rápidas e pequenas pílulas de desafio para quem quer mais do que apenas a campanha.
A quantidade de opções torna F1 2017 o melhor da série. Não são apenas as provas, carros e pilotos, mas também uma incrível coleção de carros clássicos.
Entretanto, na versão PlayStation 4, não foi possível acessá-los a partir do menu principal. Em nossos testes, ou os cenários apareciam como indisponíveis, ou quando estavam ativos, bugavam na tela de carregamento ou antes da largada. Uma atualização liberada enquanto essa análise era escrita, por outro lado, corrigiu parcialmente o problema.
Outro problema frequente acontece com algumas texturas, que não carregam ou surgem em baixa resolução. Estranhamente, a falha ocorre sempre nos mesmos elementos, como o capacete de Daniel Ricciardo, da Red Bull, ou as luvas dos competidores da Renault. O aspecto acaba sendo feio, principalmente quando se junta isso às animações recicladas dos títulos anteriores e à cara de cera de mecânicos, engenheiros, chefes de equipe e pilotos.
Repito aqui, ainda, uma crítica que venho fazendo há anos sobre a falta de moderação no modo online. Em um título tão competitivo e preciso como F1 2017, o multiplayer poderia ser uma experiência das mais divertidas, não fossem os jogadores que só querem brincar de carrinho de trombada. Um sistema que unisse fanfarrões e jogadores sérios durante as partidas faria muito para aumentar o fator replay da franquia, mas é um aspecto sempre negligenciado pela Codemasters.
As críticas, entretanto, são uma mostra da qualidade de F1 2017. São pequenos detalhes ou falhas gráficas que aparecem aqui e ali, e que por mais que enfeiem o pacote, não interferem no foco principal do game, que é a adrenalina sobre rodas. Ao mesmo tempo em que dá para dizer que a versão deste ano é a melhor da série, fica ainda mais a expectativa pelas melhorias que serão trazidas no ano que vem.
O jogo foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Deep Silver.