Existem histórias que contam com começo, meio e fim. Seja em filme, série ou game, essas são histórias que nos levam por uma jornada específica e que não foram necessariamente feitas para se tornarem uma série. Aí elas fazem sucesso, tanto que os responsáveis pela marca decidem expandi-la. E aí vem o medo de que aquilo que tanto nos encantou se transforme em uma mera maquininha para gerar alguns trocados.
Essa foi uma possibilidade que, com certeza, passou pela cabeça de muitos fãs desde o anúncio de Life is Strange: Before the Storm. Primeiro, foi a alegria de ver Chloe de volta, agora protagonizando seu próprio game. De outro, a noção de que a história, desta vez, estava nas mãos da Deck Nine, e não da desenvolvedora original, a Dontnod – que, inclusive, trabalha em mais um game da franquia.
Esse temor é deixado de lado logo nos primeiros minutos do episódio inicial, Despertar. Logo percebemos que, no controle de Chloe, ainda há uma história a ser contada, e que por mais que estejamos na familiar e pacata Arcadia Bay, cheia de gente conhecida e ainda no prelúdio de um de seus maiores sacodes, há muito a descobrir aqui.
Em um episódio com 2h30 de duração, relativamente mais longo do que aqueles vistos na temporada inicial de Life is Strange, testemunhamos o primeiro encontro de Chloe com Rachel Amber, uma garota daquelas especiais, que chamam a atenção e, quase como o Norvana, reúne todas as tribos. Ela é popular, mas aqui, como nos filmes adolescentes mais clichês, parece se interessar pela garota rebelde e deslocada.
O primeiro capítulo de LiS: Before the Storm serve como o início de uma linha da vida, só que, agora, sabemos as tragédias que estão adiante e simplesmente não é possível evitar que aconteçam.
É uma história teen típica, mas acredite, essa sensação de “já vi tudo isso antes” termina na sinopse. Assim como na primeira série de Life is Strange, Before the Storm aposta na sutileza e na sensibilidade para contar uma história cheia de facetas, que são desenvolvidas quase que ao mesmo tempo. Despertar fala sobre relações familiares, perdas, saudades, amor, insatisfação e rebeldia.
Mas, acima de tudo, o prequel repete o grande acerto do primeiro, que é focar em temas que são comuns a todos os jogadores. E por mais que a viagem no tempo não esteja envolvida dessa vez, é sempre presente a sensação de como tudo seria se as coisas fossem diferentes. Como estaria a vida de Chloe se o pai não tivesse morrido? E se Max não tivesse ido embora?
É justamente esses fatores que tornam Before the Storm mais interessante para quem já jogou o primeiro Life is Strange, afinal de contas, sabemos as respostas para algumas dessas perguntas. Conhecemos as consequências que esperam aqueles que mexem com a linha temporal e sabemos que aceitar a realidade é sempre a melhor maneira de seguir. O que não significa que é fácil.
Logo percebemos que ainda há uma história a ser contada, e que por mais que estejamos na familiar e pacata Arcadia Bay, cheia de gente conhecida e no prelúdio de um de seus maiores sacodes, há muito a descobrir aqui.
Permanece, também, o talento de Life is Strange de simplesmente destruir o jogador, mesmo quando tudo parece que vai acabar bem. Até mesmo um veterano se verá com um sorriso no rosto quando as coisas parecem estar dando certo, em um capítulo que segue trajetória ascendente. A realidade, entretanto, é uma maldita, e logo chega para dar um tapa na cara de Chloe, Rachel e também de quem está no controle.
Esses aspectos aparecem ao lado de novidades que adicionam à fórmula. Além de falar de sentimentos, Life is Strange: Before the Storm também é um game sobre fachadas. Ao deixar a velha geração de plataformas de lado para focar apenas no PS4, Xbox One e PC, a Deck Nine pôde investir em visuais melhores e, principalmente, nas expressões faciais. As emoções são transmitidas com mais fidelidade durante os diálogos, mesmo que isso se aplique apenas às personagens principais.
Sai a viagem no tempo, entra um recurso curioso, mas que está longe de ser um substituto: as batalhas verbais. Chloe tem uma opinião sobre tudo, algo que é evidenciado sempre que se checa qualquer coisa no cenário, e esse ímpeto é levado a extremos quando somos levados por um diálogo completamente controlável, e cheio de insultos, com o objetivo de convencer o adversário sobre o próprio ponto de vista.
É um recurso interessante, tanto ao trazer linhas mais claras para resolução de conflitos quanto para revelar mais sobre a história em si. Entretanto, neste primeiro capítulo, fica a impressão de que o recurso não serve de muita coisa a não ser permitir que o jogador seja tão espertinho quanto à personagem, uma vez que os resultados reais de vitória ou derrota não ficam muito claros caso o jogador teste ambas as possibilidades.
Mesmo com essa falha, que, esperamos, seja corrigida nos próximos dois capítulos, Life is Strange: Before the Storm volta a mostrar como se trabalha com o peso das consequências em um game. Mais uma vez, temos a sensação de que cada passo dado ou palavra proferida pode ter um reflexo, mesmo que o prompt indicando essa relação claramente não apareça sempre. Permanece, nesse prequel, a velha história do efeito borboleta, onde uma pequena decisão pode acabar gerando resultados gigantescos.
E mais do que um aquecimento do que está por vir, Despertar já deixa isso bem claro. Sua história com grandes altos e enormes baixos, como sabemos, vai terminar em eventos que mudarão as vidas não somente de Chloe e Rachel, mas também de outros habitantes de Arcadia Bay, e até mesmo de Max, que nem lá está ainda.
O primeiro capítulo de Life is Strange: Before the Storm serve como o início de uma linha da vida. Saber onde ela vai terminar, entretanto, não só não vai te ajudar como fará com que você fique mais desesperado, pois, não importa o que faça, as tragédias ainda assim não poderão ser evitadas.
O jogo foi testado no PlayStation 4.