Yakuza Kiwami

por Edes WR

A cólera do dragão!

Paixão, companheirismo, fraternidade, ganância e vingança. Todo esse caldeirão de emoções é emoldurado por muita violência, artes marciais e negócios obscuros, filtrados pela cultura criminosa oriental do inicio do século XXI. Esse é o retrato do memorável jogo de PlayStation 2, que retorna totalmente refeito como Yakuza Kiwami (Extremo, em tradução livre).

Porta de entrada para a franquia, continuação direta de um prequel lançado no inicio do ano, ou, ainda, um título para os saudosistas da época do PS2, resta saber se Kiwami é um game que se sustenta na geração atual.

Lealdade

Diante de um crime cometido por seu melhor amigo e companheiro Akira Nishiki, Kazuma Kiryu assume total responsabilidade no lugar do parceiro, sendo acusado do assassinato de um dos chefes da própria organização a qual pertencem, a Yakuza. Esse fato desencadeia uma série de acontecimentos que serão a chave de toda a trama do jogo.

Dez anos se passam e Kazuma Kiryu ganha a liberdade, encontrando tanto uma cidade quanto uma organização muito diferente da que conhecia antes. Seu amigo se tornou um grande figurão dentro da organização enquanto Kiryu, que foi expulso, encontra-se à margem da sociedade, com poucos companheiros a quem recorrer, além de descobrir que seu amor de infância, a jovem Yumi Sawamura, desapareceu sem deixar pistas.

Todas essas tramas e subtramas são tão atemporais, com temas como lealdade e vingança, que mesmo doze anos depois do lançamento do jogo original, a história continua envolvente e interessante. Até mesmo os seus momentos mais sérios, em que as atuações podem parecer canastronas, são dignos de um grande drama policial tal qual os filmes de ação orientais do John Woo.

Uma cidade (quase) viva

A estrutura do jogo continua praticamente a mesma que a da sua contraparte original, com um mapa repleto de localidades a explorar, missões atreladas à trama e secundárias, além de atividades variadas como lojas, clubes noturnos, bares, karaokes e casas de arcades com jogos excêntricos. Porém, o fato de ser um remake de jogo de PlayStation 2 fica bem claro quando nos deparamos com inúmeras paredes invisíveis ou quando o personagem se recusa a entrar em alguma rua especifica, artifícios fracos usados para nos guiar por onde a trama exige que o protagonista esteja.

Graficamente, tanto personagens quanto cenários estão muito bonitos e bem detalhados, mas aqui cabe ressaltar que se trata de um remake feito originalmente para PS3, e depois portado para a atual geração, deixando tudo abaixo do que poderíamos esperar de um jogo da série desenvolvido diretamente para a geração atual. Isso é coisa que só veremos no já anunciado Yakuza 6.

Muitos ambientes foram remodelados ou criados do zero, ampliando as opção de exploração do jogo. Porém, eles só ficam disponíveis de fato após as primeiras horas de Yakuza Kiwami, momento em que ele deixa de de ser extremamente linear e se torna mais parecido como um game de mundo aberto, mesmo que esteja longe de ser comparado com a série GTA, algo muito comumente feito na época do jogo original.

Yakuza Kiwami traz para os dias de hoje um ótimo título que ficou esquecido pelo Ocidente, atualizando certos aspectos mas deixando a desejar na forma como a trama se desenvolve.

Certos eventos também ganharam um tratamento mais cinematográfico, com novas cenas, diálogos e ambientação elaborada, incluindo uma maior interação com acontecimentos de Yakuza 0. Com relação aos diálogos, assim como aconteceu com o prequel, a versão ocidental de Kiwami possui apenas a dublagem em japonês com legendas em inglês, nada de localização em português do brasil.

O efeito “Metroid”

Um artifício bastante comum no mundo dos games e que tem como objetivo nivelar por baixo poderes e habilidades dos personagens é o apelidado de “efeito Metroid”. Tendo em vista que, na trama, Kazuma já é um excelente lutador, conhecido “Dragon of Dojima”, é dito que os dez anos que ele passa na prisão acabam por atrofiar suas habilidades. Isso deixa a cargo do jogador a evolução dos estilos de luta presentes no game, que são herança direta do jogo anterior, alem da árvore de evolução na qual podemos comprar novos golpes, resistência, entre outras perícias de combate.

Yakuza

Os estilos de lutas são a grande novidade em comparação ao combate do original. Variando entre rápido, equilibrado e pesado, todos podem ser evoluídos gastando o equivalente a pontos de experiencia adquiridos durante o game. Já o modo Dragon só é evoluído ao se derrotar o rival de Kazuma, Goro Majima, personagem jogável em Yakuza 0 e que, aqui, surge de tempos em tempos pela cidade a fim de nos desafiar, outra novidade da edição Kiwami.

Os golpes especiais que desencadeiam animações especificas também estão presentes e mais variados, principalmente os que usam o ambiente e objetos dos cenário como arma. Lutas aleatórias estão mais frequentes e se dão no mesmo ambiente que estamos explorando, sem necessidade de telas de loading, uma excelente adequação padrões atuais.

Extremo, mas nem tanto…

Yakuza Kiwami traz para os dias de hoje um ótimo título que ficou esquecido pelo Ocidente na sexta geração de consoles, atualizando certos aspectos óbvios como gráficos e jogabilidade, mas, por outro lado, deixando a desejar na forma como a trama se desenvolve.

Trazendo personagens carismáticos com atuações propositalmente intensas, filtradas pela própria cultura oriental de seus criadores, a série segue firmando seus passos deste lado do mundo com esse excelente título, que em breve recebera sua continuação direta, fechando a trilogia inicial com todos os jogos disponíveis em HD. Altamente recomendado tanto para novatos quanto velhos fãs da série.

O jogo foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida de SEGA