Não é novidade para ninguém que Life is Strange é uma de minhas franquias preferidas da atualidade. Não é uma série que tem roteiros mirabolantes ou personagens altamente complexas, nem reviravoltas intensas. É uma história sobre a vida, sobre as mudanças, as relações pessoais e familiares e, acima de tudo, sobre os conflitos internos que eu, você e qualquer pessoa trazemos dentro do peito.
Essa descrição também se encaixaria muito bem com “Lady Bird – A Hora de Voar”, cujo péssimo subtítulo nacional (apesar de totalmente adequado com a proposta) vamos ignorar daqui em diante. É a história da personagem que dá nome ao filme, que está terminando o ensino médio e se encontra naquela fase em que a vida exige decisões pesadas sobre tudo o que está por vir.
Em meio à escolha de uma faculdade e a intensa vontade de sair da pequena cidade em que mora, no estado americano do Sacramento, Christine McPherson (Saoirse Ronan), que decidiu batizar a si mesma como Lady Bird, se vê em meio a dilemas e decepções amorosas, além das dificuldades no relacionamento com a mãe (Laurie Metcalf). Em meio a tudo isso, entra também a questão financeira, já que a família já não tem muito dinheiro e, agora, tem de lidar com a recente demissão do pai (Tracy Letts), e suas dificuldades em encontrar trabalho por conta da idade.
Não se engane com a cara de drama adolescente bobinho que o trailer e até mesmo a descrição acima podem deixar. É uma história incrivelmente empática, com elementos autobiográficos da própria roteirista e diretora Greta Gerwig. Todos nós já passamos, vamos passar ou estamos no meio de uma situação como a de Lady Bird. Todo mundo enfrenta problemas familiares, sofre para manter amizades sadias ou se esforça para provar ser diferente do que realmente é. Com raras exceções, as dificuldades financeiras são uma realidade comum.
Essa é a história de Lady Bird, mas também é a minha, a sua, a de Max Caufield ou Chloe Price. São dilemas simples, muitas vezes até bobos, mas que, muitas vezes, se tornam grandes bolas de neve dentro das nossas cabeças. Assim como em Life is Strange, “Lady Bird” nos coloca diversas vezes em situações nas quais vemos a solução rápida para os conflitos, mas esse caminho simplesmente não é cogitado pela protagonista. Aqui, é ainda pior, pois no filme, não temos controle nenhum sobre o que está acontecendo.
É justamente esse aspecto que levou “Lady Bird”, assim como Life is Strange, à aclamação pública. Até o momento, o filme já levou dois Globos de Ouro, de melhor filme e atriz, para Saoirse Ronan, além de tantos outros prêmios de sindicatos, associações ou academias americanas. O longa também é um dos grandes cotados para o Oscar, cujos indicados serão anunciados em 23 de janeiro.
Muita gente falou nesse como um dos melhores filmes do ano passado, o que é bem verdade. A unanimidade, porém, vai passar longe aqui. O ideal é que você assista a “Lady Bird” e deixe suas próprias interpretações e vivências fluírem. O envolvimento com a trama vai depender de cada um, assim como a qualidade percebida, mas, com certeza, você não deixará de se ver na tela, nem que seja por um breve momento.
Além disso, é o que mais próximo temos de um filme baseado em Life is Strange, pelo menos, até que a série oficial da franquia seja lançada – se é que isso realmente vai acontecer algum dia.