Remakes, não de hoje, são temas de acaloradas discussões entre os amantes das mídias, principalmente, de games e cinema pelo mundo afora. Nos jogos, temos tanto exemplos bons – Resident Evil, Tomb Raider, Crash Bandicoot, Shadow of the Colossus – quanto maus – Sonic The Hedgehog 2006, Golden Axe: Beast Rider, Bomberman Act Zero). Com a mais recente versão de Secret of Mana, a Square Enix consegue, para a tristeza dos fãs, ampliar a segunda lista.
Em um mundo de fantasia, uma antiga civilização fez uso da “Mana” afim de atingir os mais variados feitos tecnológicos e mágicos. Consumindo quase todos os recursos, aquela civilização teve de arcar com a ira dos deuses, entrando em uma guerra global contra tais divindades, que acabou por extinguir quase todo rastro dessa inovação e energia.
Eras mais tarde, o jovem Randi, órfão da cidade de Potos, acaba por descobrir um artefato na forma da espada de Mana, e, assim, acaba por receber o chamado para a aventura que irá partilhar com mais dois amigos improváveis; a jovem e empoderada Primm, que busca fugir do destino que outros tentam lhe impor, e o pequeno Popoi, um duende da vila dos anões que está em busca do seu próprio passado.
Uma trama básica, mas com elementos funcionais, que à época de seu lançamento original nem de longe soaria tão clichê quanto nos tempos atuais. Esse fato poderia muito bem passar despercebido se os demais aspectos do jogo tivessem sido melhor atualizados, e não apenas refeitos, ignorando aspectos que motivaram suas contrapartidas no game original.
No remake de Secret of Mana (Senkei Desetsu 2 no original japonês, para Super Nintendo), as expressões faciais dos personagens são um exemplo gritante de atualização realizada sem propósito. Na era dos 16-bits, a limitação gráfica forçava os games a transmitirem emoções em diminutos frames de animação pixelados. Por isso o formato SD (Super Deformed) dos personagens, seus olhos enormes e exagero nas reações.
Ao repetir essas “técnicas artísticas” em modelos de personagens 3D muito mais detalhados, tais exageros só se prestam ao desserviço quando a intenção é transmitir alguma emoção. Um exemplo é visto logo no início, com a expressão paralisada e imutável do personagem Elliot apenas imitando o original de 16-bits, não importa o que aconteça.
Secret of Mana foi um marco na história dos RPGs e, até hoje, figura entre os melhores jogos de sua geração. Seu remake, entretanto, é um desperdício de recursos, tempo e dinheiro.
A jogabilidade da grande maioria dos RPGs anteriores a Secret of Mana se dava por exploração de mapas e batalhas em turnos, sendo a série uma das primeiras a usar combates em tempo real. Mais uma vez, devido às limitações técnicas, elementos como o impacto das armas, respostas a comandos e menus de magias e itens careciam de precisão e uma interface amigável. Décadas de aprendizado depois é inaceitável que um RPG de ação em tempo real sofra dos mesmos problemas.
Mais uma vez, o principal problema desse remake é se apegar ao passado e repetir seus feitos, sem entender porque o jogo era e se apresentava de tal maneira na era 16-bits.
Secret of Mana foi um marco na história dos RPGs e, até hoje, figura entre os melhores jogos de sua geração. Entretanto, com um estilo artístico de gosto duvidoso, jogabilidade datada e vozes não condizentes com seus personagens, além de mal atuadas, seu remake é um desperdício de recursos, tempo e dinheiro.
Se o atual faz algo de correto, é nos lembrar o quanto o game original foi e continua sendo bom, seja para quem jogou na época ou até mesmo para aqueles se interessaram ao jogar a versão para geração atual. Uma pena.
O jogo foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Square Enix.