Todas as brigas e desavenças mais sérias são apenas questões de pontos de vista. Isso vale tanto para os conflitos entre os assassinos e os templários quanto para a necessidade do lançamento de Assassin’s Creed: Rogue pela Ubisoft lá em 2014. Entre uma tempestade e outra de críticas comparativas com o seu irmão gêmeo um ano mais velho, Assassin’s Creed IV: Black Flag, a história de Shay Cormac, embora lembrada sempre de maneira elogiosa, ia sendo fixada em segundo plano.

Ainda que, entretanto, todas as observações duras sobre a reciclagem completa de um jogo para o outro sejam indiscutíveis, a mudança de paradigmas em toda narrativa da série, expondo os erros e as fragilidades do credo, foi mais intrigante do que uma boa história de piratas temperada com hidden blades. Com a devida vênia ao Kenway e seus chegados, o caminho para o surgimento de uma versão para o PlayStation 4 e Xbox One era plausível desde o seu lançamento.

Sem nenhuma razão aparente, porém, o remaster demorou para sair e sem grandes motivos para isso. Assassin’s Creed: Rogue Remastered chegou à lojas apenas com o jogo padrão e um conteúdo adicional limitado, se resumindo às duas missões bônus e alguns itens de personalização, aquele tipo de material extra – nada muito relevante – que normalmente consta em pré-vendas simples. O foco do título repaginado, no entanto, está no jogador que não aproveitou o game na geração passada, por qualquer que seja o motivo.

Sobre a jogabilidade e os gráficos na remasterização, com o dever de casa feito, tudo se tornou bem mais fluido e agradável de se jogar, com as ruas mais movimentadas e cheias, deixando cada cidade mais viva. O detalhamento de quando partimos para os confrontos em mar aberto, juntando à diversão do inconfundível combate naval com a iluminação caprichada do sol sobre a água ou com as inúmeras partículas durante as tempestades de neve, tudo fopi muito bem trabalhado no game.

O único problema aqui é a utilização secundária desse sistema. Mesmo que todo aparato esteja disponível para o embate, este mais empolgante, otimizado e, por isso, um pouco mais fácil, dá-se a impressão que ele está inserido apenas como forma de locomoção. Afinal, por não tratar-se de um enredo sobre piratas, as batalhas ficam meio sem sentido, como um templário roubando e assassinando outros de sua ordem ou membros do exército britânico apenas pelo espólio do navio. Mais uma herança do quarto jogo da franquia que destoa da narrativa de Rogue.

De inédito, agora, Shay Cormac sob as vestes templárias torna-se alvo constante dos seus antigos aliados. Pela experiência adquirida e graças ao Eagle Vision, podemos perceber os ataques antes de eles ocorrerem. É interessante imaginar o contexto das emboscadas da qual somos a mira, quase um exercício de afinidade e compreensão ao lembrar dos jogos anteriores e testemunhar que algum templário já esteve no papel em que hoje atuamos. Talvez, até mesmo, com argumentos mais sólidos em estar ali.

Essa dualidade é o principal motivo que faz de Assassin’s Creed: Rogue essencial para a série como um todo, por mais incômodo que isso seja. E, em paralelo, esse é o problema crucial do título, que nenhuma remasterização poderia resolver. Uma proposta inovadora depois de mais de sete anos de confrontos históricos, mas em um invólucro amassado e reaproveitado.

Diferentemente do que ocorreu com Assassin’s Creed IV: Black Flag, que abraçava a antiga e a atual geração logo no lançamento, a demora de quatro anos até a versão remasterizada soa como cautelosa, deixando a má impressão inicial se dissipar e, mais tarde, voltando com um jogo polido, gráficos detalhados e uma ótima história de um dos protagonistas mais críveis de toda série.

O retorno dos conflitos em Assassin’s Creed: Rogue Remastered [Análise]

Shay Cormac personifica o próprio jogador, descobrindo aos poucos que nem tudo que sempre nos contam é a incontestável verdade. Embora o ponto de virada do título seja acelerado, ele é bastante verossímil. O acontecimento cataclísmico que desencadeia toda dúvida no credo, na remasterização, é um deleite.

Longe de custar o preço salgado de antes – saindo por um valor até abaixo do padrão dos grandes jogos remasterizados –, Assassin’s Creed: Rogue Remastered retorna quase como exclusivo para quem nunca o jogou. Entretanto, o relançamento acaba não trazendo nenhum motivo mais expressivo ou pertinente para regressar a um dos jogos mais polêmicos da franquia para quem já conhece o desfecho da história.

Um remaster que destaca ainda mais os conflitos deixados pelo título, mantendo o que era atrativo e esmerilhando o que faltava. Para quem acompanha a saga, desde 2007, é um título necessário no qual, dessa vez, reencontrar velhos rostos conhecidos, navegar novamente e trocar o capuz branco pela casaca vermelha vale cada centavo.

O jogo foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Ubisoft.

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