É um período de convulsão em toda a Europa. O rei Artur o Grande foi bem-sucedido em seu combate contra as forças vikings, afastando a ameaça e espalhando os nórdicos pela Bretanha. Reinos estão bem estabelecidos em países como a Escócia, Irlanda, Gales e a própria Inglaterra, mas a sensação é de que, sob a frágil paz, está um verdadeiro caldeirão em ebulição.
Foi esse ensejo riquíssimo em histórias, tensões e, claro, conflitos, que a desenvolvedora The Creative Assembly escolheu para criar uma nova iteração da franquia Total War. Em Thronres of Britannia, seguimos os enredos de diferentes facções, em vez de acompanhar um único e gigantesco império. São campanhas menos extensas, mas não menos contidas e violentas.
Afinal de contas, por mais que tenhamos mudanças de abordagem e jogabilidade, que alteraram drasticamente as dinâmicas da franquia, sua faceta mais primordial não foi deixada de lado. Assim como o restante de sua franquia, este não é um jogo simples, com Total War Saga carregando aquela característica de complexidade que a tornou uma marca tão popular, mesmo que apenas em seu nicho.
Esse aspecto se estende a todo o conjunto de Total War Saga: Thrones of Britannia. Logo de início, o jogador seleciona uma entre dez diferentes facções que vão desde os vikings até os anglo-saxões, todas com suas características específicas, vantagens e desvantagens, além de um pequeno histórico da posição em que se encontram no começo da aventura. E, então, o enredo se estende ao longo de alguns séculos, com o jogador no comando das engrenagens da história.
O senso de que há muito acontecendo, mesmo que isso seja apresentado em fatias menores, garante que a gigantesca escala que se tornou a marca da franquia também dê as caras aqui. Tudo é enorme e todo mundo está fazendo um monte de coisa ao mesmo tempo, armando estratégias, forjando alianças, traindo companheiros ou criando artinhas, sempre, de olho no trono.
A saga, por si só, já não é das mais fáceis e acessíveis do mercado, e Thrones of Britannia, definitivamente, não é um game para iniciantes.
É uma troca, basicamente, que pode agradar a alguns e decepcionar outros, mas que não depõe contra uma das principais marcas de Total War. Em troca de mais histórias, pontos de vistas diferentes e, principalmente, uma grande variedade de facções, temos campanhas menores e focadas, podendo ser finalizadas em algumas dezenas de turnos pelos mais experientes.
Nem tudo, porém, funcionou dessa maneira plástica e objetiva, com o maior desafio, tanto em termos de dificuldade em si quanto de problemas, aparecendo na jogabilidade. Total War Saga: Thrones of Brittania, ao mesmo tempo em que é, simultaneamente, contido e gigantesco, é também bem difícil de se dominar.
A saga, por si só, já não é das mais fáceis, e Thrones of Britannia, definitivamente, não é um game para iniciantes. Suas novas e velhas mecânicas convergem em opções que exigem inteligência e estratégia, tanto durante os combates quanto fora deles, na criação de alianças e no trabalho de diplomacia. O tempo todo, na tela, está uma enorme quantidade de menus, textos, ícones e outros indicadores nem sempre compreensíveis, principalmente, para quem esta chegando agora.
O jogador já vai perceber isso logo na missão de tutorial, quando não entender porque suas tropas, mesmo em superioridade numérica, está debandando. Posicionamento e estratégia são fundamentais, é claro, mas também é preciso lidar com a moral e as habilidades de cada um, de forma a não transformar um combate ganho em uma missão suicida. A inteligência artificial também não dá moleza, mesmo nas fases iniciais.
O tal caldeirão de ebulição que citamos no começo deste texto se estende também à dificuldade das batalhas em si, que se tornaram mais desafiadoras. Nesse sentido, aqui, surge uma mudança interessante, que permite escolher unidades e tropas a partir de um conjunto único, em vez de as agrupar por território. Enquanto isso facilita o gerenciamento, mas também adiciona um fator mental, que faz com que o jogador tenha que pensar bem na hora de alocar seus soldados.
Desta vez, porém, há mais maneiras de vencer e a superioridade em batalhas não é tão definidora quanto antes. Estamos falando de um momento conturbado da história europeia, em que a política e o domínio territorial importava tanto quando a supremacia em combate. Total War Saga: Thrones of Britannia trabalha isso gerando pequenas conquistas que devem ser cumpridas ao longo das partidas, levando os jogadores a um grande evento final.
Aos moldes de War, por exemplo, o jogo pode pedir que você conquiste um determinado número de territórios ou, então, trabalhe com alianças para alcançar uma forte condição diplomática. Outras vitórias podem vir pelas mãos do povo, caso você seja um líder adorado e que proporciona um ótimo governo.
Em alguns casos, entretanto, tais aspectos podem quebrar a jogabilidade ou interromper um fluxo de progresso que vinha sendo feito pelo jogador. Um objetivo de conquistar um total de territórios ou firmar alianças – um dos caminhos mais interessantes, inclusive, por conta de toda a intriga e traição envolvidas -, por exemplo, pode ser quebrado por missões fixas que envolvem até elementos místicos e religiosos, que acabam gerando uma vitória pela fama.
Um momento de ebulição na história da Europa, com uma paz extremamente frágil, foi o escolhido para aplicar novas dinâmicas à série Total War.
Soa como uma tentativa da The Creative Assembly de facilitar um pouco as coisas, mas sem tornar a jogabilidade efetivamente amigável. É como aquele professor do ensino fundamental que faz o possível para passar o aluno de ano mesmo que ele não seja tão bom assim, dando uma colher de chá quando, na verdade, a dificuldade do pupilo tem a ver com metodologia ou, nesse caso, jogabilidade.
Como sempre, tudo termina em um grande conflito, cuja aproximação é indicada por rumores de seguidores e líderes aliados. Outro aspecto tradicional da série Total War aparece aqui e tudo é muito bonito independentemente do ângulo de que se observa. De perto, a guerra é violenta e visceral, e de longe, o senso de escala proporcionado pela movimentação de tropas torna tudo bastante épico.
Chama atenção, também, o trabalho de otimização feito pela The Creative Assembly. O título não requer um computador tão robusto assim e, mesmo nos momentos de maior movimentação e combate, o desempenho não decepciona. As quedas nas taxas de quadros por segundo, por exemplo, são poucas e, dependendo de seu hardware, podem até passar despercebidas. O nível de detalhe é alto, como se espera da franquia, assim como o áudio que reflete muito bem a ferocidade das batalhas.
Os cenários também ganharam um trabalho dedicado e perceptível. No mapa do mundo, os elementos geográficos aparecem com destaque e fidelidade, enquanto, durante a guerra, a topografia fornece vantagens ou o inverso, com árvores, barrancos, subidas e descidas influenciando no comportamento das tropas e no andamento dos confrontos.
Total War Saga: Thrones of Britannia nem parece ter sido desenvolvido usando um motor gráfico que tem alguns anos de idade, mas caso deseje continuar nesse caminho mais novo, a The Creative Assembly pode enfrentar alguns problemas. Toda reformulação desse tipo pode ser encarada como uma boa hora para a entrada de um novo público, mas não é o caminho seguido por este título.
Tudo aquilo que fez com que os fãs se criassem está aqui, mesmo que com uma abordagem um pouco diferente e bem mais variada. A porta de entrada, porém, está apenas entreaberta. Quem está acostumado, com certeza, vai tirar de letra, apesar de se bater com algumas mecânicas, enquanto quem apenas se interessa por história e guerras virtuais pode acabar preferindo outra saga, que não a da Bretanha, onde se sintam mais bem recebidos.
O jogo foi testado em cópia cedida pela SEGA.