Poucas coisas nesse mundo comemoram o aniversário de 30 anos, principalmente em um setor tão competitivo quanto o do entretenimento, em que propostas são rapidamente esquecidas pelos fãs e substituídas pelo próximo grande lançamento da vez. Mas quando se fala em Street Fighter, o caráter de clássico é indiscutível, assim como o carinho dos fãs pela saga.
Não estamos falando de um dos precursores dos jogos de luta, mas sim, de um título que definiu o gênero, algo que a Capcom, nos anos 1980 e 1990, era algo que a Capcom estava acostumada a fazer. E quem tem a minha idade se lembra do frenesi que foi a chegada de Street Fighter II, com seus gráficos incríveis (para a época) e uma jogabilidade diferente de qualquer coisa que tínhamos visto antes.
É justamente essas sensações que a Capcom deseja trazer de volta com Street Fighter 30th Anniversary Collection. As coletâneas não são novidade quando se fala da franquia, mas a ideia aqui é voltar os olhares aos fliperamas e às casas em que o gênero nasceu e respira até hoje, desde a competição amiga entre a molecada até a entrada no circuito competitivo, com os controles que remetem à jogabilidade dos arcades.
O valor desta coletânea está em sua história, que mostra a evolução da Capcom ao longo dos anos até tornar Street Fighter uma das franquias mais queridas do mundo.
O resultado, claro, é tão dourado quanto os próprios games sempre fora, com a comodidade de que, agora, eles podem ser jogados no conforto do lar, sem que precisemos nos deslocar para os velhos ambientes com cheiro de cigarro ou gastar fortunas em fichas para chegar até o final. E, acredite, isso não vai ser tarefa nada fácil.
Ao converter os títulos do fliperama para as plataformas domésticas, a Capcom preservou absolutamente todos os seus aspectos, com exceção dos gráficos, que aparecem com uma leve suavizada e filtros que simulam a experiência dos velhos monitores CRT. A dificuldade, aspecto que transformava as máquinas em verdadeiras papa-fichas, está intocável, principalmente nos dois primeiros títulos da franquia.
A coleção é composta por seis jogos que, na realidade, se multiplicam em 16. Isso porque, ao apresentar um verdadeiro passeio por 30 anos da franquia de luta mais importante de todos os tempos, a Capcom também quis mostrar sua evolução ao longo das eras, com a adição de personagens, melhorias em termos de performance e jogabilidade e, acima de tudo, o relacionamento sempre próximo com a comunidade e o atendimento ao feedback dado por eles.
Essa questão evolutiva se reflete em diferentes aspectos da coletânea. Nos games mais antigos, é possível perceber a baixa contagem de frames por segundo e, também, os problemas com as hitboxes dos games originais, que faziam com que os jogadores tivessem que contar com a própria habilidade tanto quanto com a sorte. Jogando os relançamentos de Street Fighter II em sequência, por exemplo, dá para perceber a Capcom aprendendo mais e mais a cada iteração, com um resultado que vai ficando cada vez melhor.
Partimos de uma jogabilidade mais lenta e com meia dúzia de personagens para o ritmo bem mais acelerado e desafiador da série Alpha, chegando ao ápice no terceiro game da série, onde boas sequências de golpes deram origem a alguns dos momentos mais clássicos da história dos e-Sports. E, agora, qualquer pessoa pode reviver tudo isso.
O acesso acaba sendo a principal característica da Street Fighter 30th Anniversary Collection, principalmente no que toca o primeiro jogo da franquia. Enquanto todos que vieram depois tiveram inúmeras versões em consoles, relançamentos e até remasterizações, o game que originou tudo permanecia com um caráter meio obscuro, apesar de já ter contado com versões para o Wii, PS2 e PSP, por exemplo. Essa coletânea, porém, marca o lançamento mais acessível do velho jogo – e prova também porque ele ficou para trás.
Ao converter os títulos do fliperama, a Capcom preservou absolutamente todos os seus aspectos, com exceção dos gráficos, que aparecem com uma leve suavizada e filtros.
Seu valor, aqui, aparece na forma da gênese de um fenômeno que dominou o mundo e reforça o valor histórico da 30th Anniversary Collection. Como jogo, porém, ele não é dos melhores, apresentando um desafio desleal e controles que não respondem nada bem. É um título para ser jogado algumas vezes e deixado de lado, enquanto o valor da coletânea, de verdade, está nas sequências, principalmente Street Fighter II, esse sim, um clássico atemporal.
Reforçando ainda mais seu caráter documental, a coletânea acompanha ainda uma série de galerias de imagens e textos, com um passeio pela história da franquia. Uma linha do tempo apresenta, ano a ano, os lançamentos e eventos importantes, enquanto artes conceituais exibem os esboços de personagens e cenários, bem como propostas iniciais para os títulos e itens descartados.
Além disso, como novidade, a Street Fighter 30th Anniversary Collection adiciona um modo online a alguns de seus jogos, também de forma a simular a experiência dos arcades, em que estamos jogando a somos desafiados. Street Fighter II: Hyper Fighting, Street Fighter II Turbo, Street Fighter Alpha 3 e Street Fighter III: 3rd Strike são os jogos que contam com o recurso conectado.
A experiência, entretanto, não foi das melhores. Talvez por ainda estarmos jogando em um período anterior ao lançamento, houve demora na localização de partidas. Quando elas aconteciam, o lag era perceptível, principalmente nos títulos mais velozes, um fator que acaba atrapalhando bastante.
Indo além de seu caráter antológico e documental, ainda, a Street Fighter 30th Anniversary Collection é parte de um esforço que a Capcom vem fazendo, também, com Resident Evil, de forma a garantir que o maior número possível de jogos de uma mesma saga esteja presente em uma única plataforma, de forma mais simples e organizada. É, ao mesmo tempo, um passeio pela história e, também, uma bela porta de entrada para os novatos que quiserem conhecer mais.
É esse o grande valor desta coleção, além, claro, da reprodução fiel dos títulos como em seus lançamentos para arcade. Ao focar nos fliperamas, a desenvolvedora deixa de lado alguns recursos exclusivos e interessantes dos lançamentos para consoles para focar na pura experiência de combate, nos lembrando de tempos mais simples, mas não menos competitivos. Afinal de contas, foi por causa disso que todos nos apaixonamos por Street Fighter.
O jogo foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Capcom.