Existem poucos jogos em que o velho dito popular sobre cair e levantar de novo se aplicam tão bem quanto em Trials Rising. O jogo da Ubisoft Red Lynx é parte de uma longa e relativamente menosprezada franquia da empresa francesa, sempre voltada aos grandes blockbusters e mundos abertos. Nesse mundo de motocross insano, entretanto, estão alguns dos maiores desafios colocados por ela.
No novo game, que nos leva para uma viagem ao redor do mundo, as apostas são maiores do que apenas o controle da velocidade e o equilíbrio. As provas, agora, assumem um caráter mais competitivo pois, além da gravidade, o jogador também estará enfrentando fantasmas controlados pela inteligência artificial e cumprindo objetivos firmados pelos patrocinadores.
Tudo em Trials Rising gira em torno da competição. Estamos rodando o mundo participando de eventos de habilidade, e não velocidade, em circuitos espalhados pelo globo. Começamos nos Estados Unidos, mas seguimos também à Europa e Ásia, com provas inspiradas em seus diferentes países, costumes e, também, clichês.
Trials Rising ainda é, em sua essência, um título incrivelmente desafiador e divertido, com a adição do modo Tandem Bike adicionando frescor e muito mais risadas à fórmula.
Dá para perceber certo cuidado em estabelecer esse tipo de cenário. Regiões mais montanhosas, por exemplo, apresentam pistas baseadas em saltos, com muitas subidas e quedas, enquanto lugares turísticos trazem corridas mais pirotécnicas ou cheias de efeitos. Um sistema de níveis controla o que vai sendo habilitado, enquanto os patrocínios indicam o que é preciso fazer para seguir em frente.
Dessa maneira, Trials Rising apresenta uma progressão semilivre. Está mandando mal em uma pista ou não consegue cumprir um objetivo específico? É possível seguir em frente sem completar essa fase, a não ser, claro, que ela seja uma das etapas finais das competições (com ideais simples de se atingir, justamente para evitar travamentos). No restante, basta se sair um pouco melhor em uma das outras para compensar o ganho em experiência e obter os níveis necessários para avançar.
Ainda assim, acredite, você vai querer encarar todas as pistas pelo menos uma vez devido à beleza dos gráficos, que estão entre os melhores da série. É difícil ver esse tipo de primor em um game com uma pegada descompromissada como este, mas os visuais estão lá, com chuva, elementos climáticos e também todas as bizarrices que acontecem pelos cenários aparecendo de maneira bastante bela. Isso sem falar na trilha sonora licenciada, com boas bandas de punk rock que dão o tom das provas em andamento, mas não roubam o protagonismo nem desviam a atenção.
O cuidado com a variação visual também aparece na gigantesca quantidade de roupinhas, capacetes, luvas e itens de personalização disponíveis. Isso, claro, também abre espaço para as malfaladas loot boxes, que em Trials Rising, seguem a mesma lógica de outros games competitivos: você ganha uma a cada subida de nível, com itens aleatórios, e também pode compra-las com moedas virtuais ou dinheiro de verdade.
Felizmente, esse aspecto está presente apenas na obtenção de itens estéticos, enquanto as motos necessárias para melhor adequação de performance somente podem ser ganhas por meio da jogatina em si. É o caminho usual das empresas para usarem as caixas surpresas como uma forma adicional de monetização sem quebrar as estruturas do jogo, o que não torna sua presença em um título de todo uma inconveniência.
Entra no caminho da diversão, entretanto, a pouca intuitividade de alguns menus e a tela poluída. Por mais que assuma um clima descolado e interessante em seu estilo, Trials Rising enche a vista do jogador com ícones, menus e opções, fazendo com que nem sempre seja fácil tomar uma escolha acertada do que fazer a seguir, nem entender exatamente quais pistas faltam ser completadas.
Não se espante se, por exemplo, habilitar uma nova liga internacional mas ela não aparecer no mapa. Às vezes, é preciso “ativar” a exibição dela em um menu lateral, mas em outros momentos, isso não é necessário. Na maioria das vezes, medalhas de caveira indicando a pontuação em uma prova aparecerão como indicação de que ela já foi completada, mas nem sempre.
O verdadeiro desafio e novidade de Trials Rising, e também as maiores risadas proporcionadas pelo título, estão no modo Tandem Bike. A porção “cooperativa” do título, entre aspas mesmo, coloca dois jogadores para trabalharem juntos, com um controlando a aceleração da moto e o outro sendo o responsável pelo equilíbrio.
Em um título que parece ter um grande foco na competição, os lags e os problemas no matcchmaking acabam sendo um erro complicado de se perdoar.
Ao encarar a modalidade, é melhor usar um joystick mais velhinho, pois você vai ter vontade de atirar ele na cabeça do coleguinha. Seguir em frente nas pistas se torna ainda mais difícil quando nenhum dos dois têm o controle completo sobre a motocicleta, ao mesmo tempo em que o modo se configura como um dos melhores do game justamente pelo mesmo motivo. Jogue com os amigos em casa e a garantia é de risadas.
Além disso, claro, Trials Rising tem seu modo multiplayer convencional, em que os fantasmas da campanha principal são substituídos por jogadores de verdade. É possível perceber certo lag, como em todo game de corrida, com jogadores travando pelo cenário ou tendo uma movimentação truncada, desaparecendo e aparatando novamente em pontos diferentes das fases.
Felizmente, não temos aqui uma competição direta, o que faz com que os problemas de conexão não atrapalhem. O grande método de distinção entre homens e garotos é o tempo e a quantidade de ressurgimentos, o que torna todo o lag, apenas, mais um ponto zoado, mesmo que não intencionalmente, entre tantos da experiência jocosa proporcionada por Trials Rising.
Não é legal, entretanto, perceber que a saúde dos servidores não anda muito legal quando o matchmaking demora bem mais do que o ideal ou as partidas são desconectadas abruptamente antes que os pontos e experiências resultantes de uma vitória sejam entregues. Em um título que parece ter um grande foco na competição, esse acaba sendo um erro complicado de se perdoar.
No básico e no que mais importa, porém, Trials Rising vence mais uma prova. Os belos gráficos, a trilha sonora bem selecionada e as pistas ao redor do mundo são cerejas em um bolo que continua tão divertido e desafiador como sempre, enquanto o modo Tandem Bike acrescenta uma brincadeira a mais para reunir os amigos sem precisar passar o controle.
O jogo foi testado no PS4, em cópia cedida pela Ubisoft.