2018 foi o ano em que a franquia Power Rangers completou 25 anos de história. Quem hoje está na faixa dos 30 anos se lembra do frisson da época, com uma produção americana que parecia o ápice dos tokusastus que assistíamos desde crianças na TV Manchete. Todo mundo, na escola, tinha o seu preferido e grupos de cinco se formavam, com crianças sonhando em receber chamadinhas de Alpha 5 no relógio.
Desde então, são mais de duas décadas de história, dezenas de temporadas e atores no papel dos guardiões da Terra. Eles já enfrentaram todo tipo de inimigo e passaram por diferentes transformações, enquanto, no mundo real, criavam e alegravam milhares e milhares de fãs. Power Rangers: Battle for the Grid, tenta soar como uma celebração disso tudo, mas faz inexplicavelmente pouco.
Lançado para PS4, Xbox One e Switch, com uma versão PC ainda no forno, o título chega com a proposta de ser acessível. Afinal, da mesma forma que a série dos heróis encantou crianças do passado, que hoje são adultos, ela continua tendo fãs pequenos ou não necessariamente inteirados no mundo dos jogos de luta. A ideia é simplificar a fórmula clássica do gênero e abrir a porta, entregando algo que poderia ser apreciado por todos.
O balanceamento de personagens e a fluidez na jogabilidade acabam sendo os poucos acertos de um título pouco inspirado e vazio de conteúdo.
Veteranos da indústria foram chamados para garantir o sucesso nessa tarefa aparentemente difícil, com nomes como Justin Wong e Daniel “Clockw0rk” Maniago, saídos direto do circuito competitivo dos games de luta para se envolverem diretamente. O balanceamento de personagens e a fluidez na jogabilidade, com isso, acabam sendo os poucos acertos de um título pouco inspirado e vazio de conteúdo.
A falta de elementos se percebe logo de início. Power Rangers: Battle for the Grid não tem um enredo nem um modo história, como se tornou comum nos títulos de luta recentes. Nem mesmo a tradicional modalidade Arcade apresenta um fiapo de história, servindo apenas como um randomizador de oponentes que são enfrentados em sucessão, ao longo de sete lutas, pelos personagens escolhidos pelo jogador.
Lutadores, no plural mesmo, já que o título empresta o estilo de equipes que ficou tão consagrado com a franquia Marvel Vs. Capcom. As batalhas acontecem em um estilo de três contra três, algo interessante e que acaba envolvendo trocas estratégicas de personagem e uma combinação de estilos. Cada Ranger possui suas próprias habilidades e modos de combate, adicionando um pouco de estratégia à fórmula.
Afinal, dá para montar uma equipe coesa, apenas com lutares de proximidade ou que usam espadas, ou misturar estilos, colocando um destes juntamente com outro baseado em projéteis e um terceiro focado em agilidade. Elementos igualmente presentes em jogos de luta baseados em equipes, que parecem interessantes também aqui.
Mas a graça termina antes mesmo de o jogador perceber tudo isso, quando nota que o pacote base de Power Rangers: Battle for the Grid conta com apenas nove personagens. Da série com 25 anos de idade, somente quatro eras são aproveitadas, com skins fazendo um papel troncho na tentativa de adicionar pelo menos um pouco de variedade.
Mesmo com gráficos bonitos e uma reprodução interessante de alguns personagens, Power Rangers: Battle for the Grid falha em impressionar.
E, então, ao observar a tela inicial, você percebe que, com destaque maior do que as artes e os próprios modos de jogo, está o anúncio da venda do pacote de DLCs do game. Por meio dele, recebemos instantaneamente uma nova skin para Jason, o Ranger vermelho, e mais outros três protagonistas em breve, levando o total de protagonistas a 12. Ainda assim, muito pouco.
E então você considera que o modo Arcade possui sete batalhas contra três personagens em cada — ou seja, antes da metade, e se o randomizador ajudar, você já terá enfrentado todos na terceira. Só que o sistema não ajuda e, em nosso período de testes, chegamos a enfrentar o mesmo Ranger seis vezes em sete lutas. A repetição é absurda, enquanto o marasmo acompanha toda a experiência.
Também por seu foco acessível, Power Rangers: Battle for the Grid não apresenta um grande desafio, mesmo com o jogador sentindo que a dificuldade aumenta a cada confronto vencido. Como enfrentamos os mesmos personagens o tempo todo, fica fácil perceber como a inteligência artificial trabalha e, sendo assim, prever os ataques ou jogar oponentes no corner rapidamente, acabando com a batalha rapidamente.
Também adotando um estilo visto em Marvel Vs. Capcom 3, aqui de maneira simplificada, o título da nWay também deixa de lado as tradicionais combinações de golpes. O “meia lua para a frente soco” não tem vez aqui, com pressionamentos simples de botões gerando ataques de diferentes potências e sequências de golpes, se encadeados, enquanto um dos botões de ombro executa especiais de acordo com o nível de uma barra específica.
Jogadores mais experientes encontrarão um pouco de método, enquanto os novatos não terão problemas em entender como tudo funciona. Isso é bom, mas, novamente, contribui para o marasmo dos combates quanto o button mashing também é uma alternativa interessante para a batalha. Felizmente, o trabalho de balanceamento foi bem feito e não existem combos infinitos ou personagens superpoderosos, com todos os Rangers sendo parelhos no poder de força e defesa.
Existem, sim, boas ideias durante os combates, como a participação dos Zords que lembram os velhos tempos de X-Men Vs. Street Fighter, com um inimigo gigantesco invadindo a tela, e os cenários também inspirados nas diversas eras do seriado. Ver Zordon ao fundo e lutar no Centro de Comando dá um quentinho no coração, mas as fases sofrem do mesmo problema dos personagens: são poucas e acabam sendo repetidas à exaustão.
E é só isso mesmo. O modo Arcade não possui chefes finais nem fases bônus, enquanto o pouco fator replay para quem joga sozinho aparece no modo online. No Switch, ainda, vale uma crítica específica e relacionada à inexplicável falta de suporte a Joy-Cons individuais, que depõem contra o ideal de acessibilidade doo título. Uma falta de cuidado com a versão e um elemento que, na realidade, denota a ausência de inspiração presente em todo o título.
Mesmo com gráficos bonitos e uma reprodução interessante de alguns personagens, Power Rangers: Battle for the Grid falha em impressionar. Mais do que isso, em sua estreia no mundo das plataformas de mesa, a nWay parece ainda desejar trabalhar como nos celulares, apresentando propostas vazias e para jogatina rápida, com a promessa de mais conteúdo e a expectativa de que os jogadores aguardem por ele.
Funcionaria se o game fosse free-to-play, mas não é o caso aqui. Na somatória, o título apresenta um valor menor do que a de games de “preço cheio”, mas mesmo isso não justifica o vazio de conteúdo e a ausência de modos interessantes, que poderiam dar mais corpo à proposta.
Estamos falando do aniversário de 25 anos de uma franquia longeva como poucas, que reúne fãs apaixonados com seus cosplays e atores que amam estar em contato com eles. Power Rangers: Battle for the Grid, entretanto, faz parecer que há muito pouco a ser comemorado.
O jogo foi testado no Switch, em cópia cedida pela nWay.