Generation Zero sabe construir o clima de um bom jogo de terror de fim de tarde. Porém, ele também parece ser mais um game genérico de tiro em primeira pessoa que te obriga a andar pelo mundo, coletar itens para sobreviver e avançar por um cenário semiaberto. É um título comum, mas o inimigo agora é outro.
O jogo começa explicando como você chegou na ilha, indicando que você precisa encontrar sobreviventes. O clima de terror é construído magistralmente, lembrando muito a primeira cena de The Last Of Us, e trazendo um mundo familiar, mas em que algumas coisas parecem levemente fora do lugar. À noite, a solidão e o medo, tudo amarrado por um design de som bem elaborado.
Um dos grandes pontos de Generation Zero é o fato de ele se passar na Suécia. Isso cria uma situação curiosa, em que áudios e textos do mundo estão no idioma local. Parece algo ignorável, mas isso causa a mesma estranheza de jogar Persona, onde tudo é em japonês. Uma missão diz para você ir até uma localização que é impossível saber onde é, pois não conseguimos ler placa alguma. É um mundo estranho e, nós, não suecos, somos estranhos a ele também.
Tudo se complica quando falamos do contexto de Generation Zero, que nos coloca na Suécia desde a Segunda Guerra Mundial. No começo, conhecemos os processos que levaram o país à catástrofe que está sofrendo agora: uma invasão de robôs assassinos.
Esqueça zumbis lentos e rápidos, gritos guturais e choramingos infantis em salas escuras. O que dominou a Suécia foram robôs inteligentes que caçam humanos. Parece que os desenvolvedores pegaram aqueles monstros descolados de Horizon: Zero Dawn, os enfraqueceram um pouquinho para serem justos, e os colocaram nos dias atuais.
Esse inimigo inteligente e mecânico parece criar uma nova possibilidade de terror e aventura. Dentro desse mundo estranho, tais criaturas são suas únicas companhias. E elas estão nos piores lugares, cuidado da entrada de casas seguras ou no meio da estrada que você precisa passar. O jogo cria situações tensas para se resolver e todo recurso pode ser útil.
Generation Zero é um jogo genérico com ideias inovadoras, que parece um bom jogo de terror de fim de tarde. Só que o inimigo, agora, é outro, e essa mudança é muito bem feita.
Generation Zero tem grandes momentos de “Ahá!”, aquela sensação de conseguir usar as regras do game a seu favor para sair de uma situação tensa e delicada. Algo como jogar um sinalizador de mão ou explodir um botijão de gás para atrair os inimigos para um lado, seguindo para outro. Rádios ligados podem ser usados para atrair a atenção deles e usar essas mecânicas de inventário para mudar o comportamento do mundo é sempre interessante.
Contudo, tudo isso só funciona pois existe um risco real. Os combates são de puro perigo. Claro que é difícil morrer de verdade, pois o jogo não é sobre punir o jogador que cometeu um vacilo, mas sim, explorar esse mundo. Então, é possível ser pego por uma criatura, mas ainda manter a chance de combate.
A dificuldade está no fato de os robôs serem absurdamente chatos! Elas te caçam enquanto conseguirem te ver e quando param , seguem patrulhando a área, em vez de voltarem para o ponto original delas. O jogo te coloca nessa tensão sobre o que fazer e como sair dessa situação da melhor forma possível.
Outra parte interessante do jogo é como a narrativa se constrói. O começo lembra um jogo de mundo aberto de terror: “bem-vindo, tem uma casa ali, entre nela e dê uma procurada pra ver se rola alguma coisa”. Lá dentro, encontramos algumas pistas de onde podem estar sobreviventes, em alguma região da ilha com um nome sueco, em uma casa de nome sueco. Ótimo, por sorte o mapa diz onde está a região, mas ela é enorme! “Bom, acho que o jogo é sobre isso, vamos procurar”.
E assim você acaba se metendo em Generation Zero. Ao explorar, encontra carros em um acidente, quebrados e tombados, uma tragédia que aconteceu ali. Vasculhando a cena, logo se descobre que é possível abrir as portas e o porta-malas e, no banco do motorista, você encontra uma mensagem de voz de um cara dizendo que iria voltar para casa pegar o rifle dele para caçar esses bichos. Uma missão surge no seu log de missões: para onde será que essa carro estava indo? Isso atiça os instintos detetivescos de qualquer um.
Se a batida foi assim, esse carro deveria estar vindo nessa estrada e, logo, o outro só poderia estar indo para… e Ahá! Vamos ver se consigo achar esse rifle! Esse tipo de construção é muito bem feita, com as áreas sempre dando pistas do que está acontecendo no mundo ou alguma localização que possa ter algo interessante. Cabe ao jogador explorar e achar os lugares, mas, claro, sempre existem essas máquinas inteligentes e caçadoras para atrapalhar o caminho.
Outra coisa interessante é a passagem de tempo, com ciclos de dia e noite que afetam a visibilidade e podem, ou não, ajudar na exploração. Contudo, mais do que isso, também existem mudanças climáticas. Olhando o horizonte, dependendo da situação, relâmpagos começam a surgir, depois a garoa chega e, finalmente, a chuva pesada. Os sons ficam difíceis de se ouvir. Uma nova situação muito orgânica acontece, agora é preciso se adaptar novamente.
Generation Zero é um jogo genérico com ideias inovadoras. Sem dúvida precisamos esquecer os zumbis, pois o mundo já está cheio deles, e robôs são muito mais versáteis do que criaturas mortas. Eles podem ter metralhadoras nas costas, voar, pular, correr e qualquer outra ideia que seja praticamente mágica que a tecnologia consiga gerar.
O jogo lembra muito o primeiro arco de The Last of Us, com aquele clima de tensão e você dentro de uma casa vazia. A jogabilidade é gostosa, controles bem feitos e o cenário, muito bonito. Tudo em Generation Zero é de alto nível e qualquer fã de jogos de tiro, sobrevivência e exploração se sentirá bem-vindo nessa ilha sueca infestada de robôs malignos.
O jogo foi testado no PS4, em cópia cedida pela THQ Nordic.