Pode-se dizer que a Capcom já fez jogos de todo o tipo: futebol, luta, RPG, aventura, mas o mundo ainda não tinha visto o próximo passo experimental da gigante do entretenimento: um jogo de advogado! Reviver esses anos dourados do Game Boy Advance é a proposta de Phoenix Wright Ace Attorney Trilogy, que traz de volta o simulador de encontros adaptado para o mundo da advocacia.
São títulos de investigação nos quais o mais importante é prestar muita atenção nos diálogos (e entender o inglês), peça chave para pegar os mentirosos pelos detalhes. Com o Vade Mecum em uma mão e o Google Translator na outra, vamos conhecer mais sobre o famoso Phoenix Wright, que já era meme antes de ser modinha.
No primeiro jogo, lançado em 2001, você está na pele do novato Phoenix Wright (os nomes são adaptações em inglês dos trocadilhos em japonês, por isso, não estranhe). A cada título, enquanto a mecânica parece não evoluir muito, a experiência do personagem aumenta. Ele tem plena confiança nos ensinamentos de sua mestra, que o inspirou a defender os inocentes falsamente acusados e virar a mesa para encontrar o verdadeiro culpado, disfarçado de testemunha ou vítima.
Antes de mais nada, é uma série sobre embates intelectuais e até psicológicos, pois você realmente vai se ver tenso ao fazer uma escolha entre aceitar a afronta das testemunhas ou promotore,s que contestarão cada virgula dita, enquanto um juiz meio inocente avalia tudo.
Apesar de o jogo ser ambientado no Japão, não é preciso saber muito da cultura nipônica pra entender o que se passa, principalmente devido ao excelente trabalho de adaptação (para o inglês). Alguns termos jurídicos estão presentes, mas são acessíveis para os leigos, pois não é nada que não se veja nas novelas, seriados e programas de TV, como “Chaves” e seu Pede Mais Um (Perry Maison) ou o filme “Advogado do Diabo”.
Ser corajoso nunca foi tão necessário em um jogo que não tem combates ou monstros. Muitas vezes, o argumento final depende de você apostar todo o caso em uma evidência que nem sabia ter.
Dada a inocência do protagonista atrapalhado, ele sempre estará sendo assessorado nas audiências e o jogo tem um sistema de tutorial, em cada versão, muito inteligente, sem parecer repetitivo e que conta como parte da história. A trama é completa e muito bem estruturada para os três games, que podem ser jogados com muita liberdade, com exceçeção dos primeiros capítulos de cada um.
Quem ficou assustado ao ler termos como “embate intelectual”, “advogado” e similares não precisa se preocupar, pois o jogo é muito amigável para quem nunca nem o viu, poupando os erros básicos iniciais. Ao mesmo tempo, os títulos ditam também os limites para os mais arrojados, ensinando que não dá para adiantar o expediente por já se ter compreendido toda a trama, para incriminar direito o verdadeiro larápio.
A primeira coisa a se perceber é que está tudo em HD, e não pixelado como no Game Boy Advance. O segundo aspecto óbvio da remasterização está nos efeitos sonoros e músicas, com vozes que acabaram sendo valorizadas, por serem poucas. São os clássicos “OBJECTION!” e “TAKE THAT!”, que comprem o objetivo de tornar os julgamentos dinâmicos.
O alívio cômico também faz parte do processo, pois são muitos assassinatos e sangue, e como os ambientes do jogo variam entre prisões e tribunais, com armas do crime, certidões de óbito e revisões de ataques letais, esse aspecto segura bem pra não deixar tudo “dark” demais.
Os comandos são bem simples e, para curtir o jogo, basta saber ler, mesmo. O ritual do júri é sempre o mesmo: se apresentam as provas e ambos os advogados têm o mesmo material oficial. Cabe à defesa conseguir mais evidências que supostamente ajudariam seu cliente, depois confrontar o relato das testemunhas para achar furos ou incoerências, mesmo que sejam do investigador.
Por fim, confrontar isso com uma evidência coletada e, assim, encurralar quem estiver agindo de má fé, mesmo que seja o juiz. Mesmo ele, às vezes, pode ser ludibriado por uma garotinha singelinha e seus decotes e piscadelas, que deixam a justiça menos cega.
A trilogia abandona o aspecto pixelado do Game Boy Advance e traz tudo em HD, além de valorizar as vozes e efeitos sonoros que marcaram a série Phoenix Wright.
Se existe um defeito neste jogo é que cada episódio é muito comprido, podendo levar de 20 até 45 minutos antes de um ponto de save. Por isso, se planeje para jogar para não perder o progresso por falta de tempo. Imagino quem jogou no portátil deve ter ficado furioso quando a bateria acabava no meio de um julgamento.
O fator replay se perde após a primeira jogada, com a segunda sendo como reler um livro. São poucas partes em que é possível pular, obrigando o jogador a prestar atenção para não ter que refazer tudo, caso falhe em sua missão.
Tirando isso, a satisfação de colocar nas grades o verdadeiro pilantra é muito grande, assim como a recompensa pessoal ao descobrir detalhes em evidências como fotos, descrições ou conversas gravadas. Esses são os fatores que dividem o “Culpado” do “Inocente”, e como o jogo tem muitas reviravoltas, não fique (muito) decepcionado ao ver um caso encerrado escorregar por entre os dedos.
Muitas vezes, o argumento final depende de você apostar todo o caso em uma evidência que nem sabia ter. Ser corajoso nunca foi tão necessário em um jogo que não tem combates ou monstros.
Com um remake maravilhoso e bem-feito de uma história fechada e concisa, Phoenix Wright Ace Attorney Trilogy chega praticamente a todas as plataformas atuais, incluindo o Nintendo 3DS, com todo o carisma e inteligência que um jogo de advocacia precisa, interessante e cheio de poses e reviravoltas favoráveis. No processo, o protagonista ganha muito a empatia do jogador.
Um título feito para gamers ou não, com enfoque na argumentação e dialética. Bom para quem gosta de exercitar a cachola e perfeito para aqueles que adoram procurar furos de roteiro em filmes, quadrinhos e afins. Jogue e julgue por você mesmo, só não vale dizer que é ruim, ou farei uma OBJEÇÃO!!
O jogo foi testado no PC em cópia cedida pela Capcom.