A câmera lenta, normalmente, é acompanha por imagens de puro glamour e epicidade. Seja em um filme de Tarantino, na série Matrix ou no clássico Max Payne, o tiroteio em slow motion se tornou quase que garantia de arrepios durante os filmes de ação, apesar de seu uso em demasia nem sempre se justificar. Esse, entretanto, não é o caso de My Friend Pedro. Aqui, quanto mais lento, bonito e sangrento, melhor.
O título produzido pela DeadToast Entertainment e publicado pela Devolver Digital carrega bem a marca de uma distribuidora que é reconhecida pelas ideias inusitadas e, também, pelos games cheios de estilo. E, em um ótimo ano de sua sempre apurada curadoria de títulos independentes, ela nos entrega um balé com armas digno das melhores produções do cinema, mas ao alcance e sob o controle de nossos dedos.
Pedro é a banana sorridente, um elemento expressivo que contrasta com o maluco mascarado que controlamos durante o game. Ele parece ter um controle do tempo maior do que a maioria dos oponentes, que na verdade, só estão ali para terem seus miolos explodidos na parede enquanto o protagonista segue adiante atirando, rodando, saltando e resolvendo enigmas simples.
O estilo acrobático é fundamentado por uma história do tipo “só vai”. Quando iniciamos o game, é como se pegássemos um filme de ação pela metade. O personagem principal acorda quando está prestes a se tornar carne moída por um grupo de mafiosos, mas não se pergunta, nem à banana que o acompanha, o que, exatamente está acontecendo. Parece mais um dia normal na vida de alguém acostumado à violência estilosa.
E então o jogador segue por uma sequência de frases curtas e com desafios crescentes, incluindo elementos de variação que dão um respiro não apenas necessário, mas brilham ao lembrar as ótimas fases bônus dos games do passado. Você aprende a usar uma das habilidades do protagonista, a câmera lenta, por exemplo, e então é presenteado com uma sequência de inimigos para assassinar um após o outro. Então aprende como resolver enigmas, ganha uma nova arma e assim por diante, do começo até o final.
O título da DeadToast, publicado pela Devolver Digital, carrega bem a marca de uma distribuidora que é reconhecida pelas ideias inusitadas e, também, pelos games cheios de estilo.
Mortes estilosas garantem pontos e as fases vão nos levando por diferentes ambientes que, também, marcam a alteração no estilo do jogo. Você ganha bônus por assassinar em sequência, mas também por utilizar elementos do cenário como bolas, frigideiras e superfícies em que os disparos podem ricochetear. Variar o estilo, aos moldes da série Devil May Cry, garante pontuação extra.
Há ainda um elemento de desafio, que pode ser ajustado de acordo com a vontade de cada jogador. Desde o começo, é possível escolher entre um mundo suave, no qual o habilidoso é você, ou um em que os oponentes são tão ferozes e bons de gatilho quanto, um desafio à parte principalmente quando se leva em conta que o conjunto de controles não é necessariamente o mais simples do mundo.
Não que as combinações sejam complexas ou sirvam como uma barreira, mas dominar um título como My Friend Pedro, que exige mirar com duas armas, saltar, usar a câmera lenta e ainda um botão para desviar, muitas vezes tudo ao mesmo tempo, não é tarefa exatamente das mais fáceis. Felizmente, a DeadToast garante que a experiência não seja punitiva e não existem, por exemplo, totais mínimos de pontos para que os estágios seguintes sejam liberados.
Dominar um título como My Friend Pedro, que exige mirar com duas armas, saltar, usar a câmera lenta e ainda um botão para desviar, muitas vezes tudo ao mesmo tempo, não é tarefa exatamente das mais fáceis.
Os casuais são abraçados tanto quanto os veteranos. My Friend Pedro é o tipo de game voltado para jogatinas curtas e despretensiosas como sua própria atmosfera e origem em um jogo produzido com Flash, em 2014. Em sua forma completa, digamos assim, não abandona as raízes, mas, obviamente, tenta fazer mais. Tais elementos justificam a escolha de plataformas já que, além do PC, somente o Switch recebe o título com cara de portátil, do tipo que você não vai querer que o ônibus chegue para continuar jogando.
Entretanto, essa viagem poderia ser bem mais proveitosa não fosse a quantidade insana de loadings. My Friend Pedro não é daqueles jogos que você vai esperar mais do que jogar, mas ainda assim, a tela de carregamento de arquivos será uma companheira tão frequente quanto o sangue escorrendo pelas paredes.
Estágios curtos, muitas vezes, são precedidos por pausas desse tipo tão longas quanto o tempo para completá-los, caso você seja habilidoso ou esteja retornando para obter uma pontuação melhor. É um aspecto problemático em um game focado no movimento e no balé com armas, que corta o clima, é claro, mas não interrompe a dança, por mais que ela não seja acompanhada por uma trilha das mais marcantes.
My Friend Pedro carece da excelência e cuidado exibido por outros títulos recentes da Devolver, como Observation ou, mais próximo deste, Katana Zero, dois que facilmente figurariam entre os melhores de 2019. Entretanto, nem sempre é preciso ser o melhor, com o título da DeadToast justificando cada elemento negativo com uma bela dose de beleza, disparos, fluidos e precisão. O protagonista, aqui, faz jus a seus antecessores do estilo, e merece seu lugar ao lado deles.
O jogo foi testado no Switch, em cópia cedida pela Devolver Digital.