Wolfenstein Youngblood é a nova produção da Machine Games, a mesma de The New Order e New Colossus, juntamente com a Arkane, da série Dishonored. Não exatamente uma sequência, não exatamente um spin off e tampouco uma DLC do jogo anterior, pois é vendido separadamente, ainda que por um preço reduzido, e parece servir como um campo de experiências da desenvolvedora, que introduz elementos nunca vistos antes na franquia, com resultados discutíveis.
As duas maiores novidades são a introdução de elementos de RPG para melhorias de personagens e armas, e o foco em uma experiência multiplayer cooperativa. Pela primeira vez na franquia, é possível jogar a campanha principal com um colega, e se você tem a versão deluxe, convidá-lo mesmo que ele não tenha o game.
Além disso, em vez do conhecido B.J. Blazkowicz, você assumirá o papel de uma de suas duas filhas, Jess ou Soph. Se essa sentença te soou estranha, já que o último jogo termina com a esposa do protagonista, Anya, ainda grávida, é porque Youngblood dá um salto considerável no tempo, levando a batalha contra o Quarto Reich para os anos 1980.
Apesar da aparência jovial e ingênua, as irmãs Blazkowicz são devem em nada ao pai no que se diz respeito à capacidade de derrubar nazistas durante o jogo, pois o arsenal e mecânicas de combate dos jogos anteriores da Machine Games permanecem praticamente inalterados nessa nova entrada da série, com algumas adições por conta do elemento cooperativo e a inexplicável restrição de poder usar apenas duas armas leves ao mesmo tempo, e não espingardas ou metralhadoras.
Em termos de gameplay, ambas são exatamente as mesmas, com a diferença de que Soph começa com uma escopeta enquanto Jess inicia com uma metralhadora. Durante a campanha, não há restrições sobre o que cada uma pode carregar e todo o inventário, assim como as próprias personagens, podem receber diversos upgrades para customizar sua experiência, ganhando dinheiro e pontos de experiência por matar nazistas e completar missões.
Como estamos falando de Wolfenstein, o ideal é favorecer os upgrades focados em combate de perto e melhorar a resistência da personagem contra ataques corpo a corpo. Esse elemento de RPG se torna essencial no endgame, quando quase todos os inimigos têm uma blindagem pesada e precisam de uma quantidade absurda de balas para serem derrubados, como também carregam armas que podem derrubar as protagonistas em segundos.
Essa situação, na verdade, é mais comum que o esperado, mesmo quando os inimigos são de um nível igual ou superior ao de seu personagem. Em Youngblood, tanto as protagonistas como os adversários contam com um nível de experiência, determinando se você está preparado ou não para invadir um determinado território. Ainda assim, mais de uma vez, é possível se deparar com inimigos muito mais fortes mesmo tendo a evolução pedida, algo sinalizado pelo ícone de uma caveira, que indica um oponente muito mais forte.
Wolfenstein Youngblood não é exatamente uma sequência, spin off ou um DLC do jogo anterior, parecendo servir como um campo de experiências da desenvolvedora, que introduz novos elementos com resultados discutíveis.
O resultado é armadura destruída em questão de segundos e a necessidade de fazer side quests antes de retornar à missão principal. Essa dificuldade é bem desbalanceada em algumas instâncias, mas é a maneira que os desenvolvedores encontraram de exigir que você e seu colega (de preferência uma pessoa, e não a IA) trabalhem de maneira coordenada durante o combate. Enquanto um serve de distração para os inimigos, o outro pode ter um ângulo melhor para acertar pontos fracos nas hordas de oponentes, por exemplo.
Em tese, essa ideia funciona muito bem quando outra pessoa está jogando com você, mas na experiência singleplayer, com uma IA te acompanhando, muitos combates tornam-se mais complicados do que deveriam ser. A começar que sua parceira não tem um senso de preservação tão forte, se colocando em situações arriscadas para ser resgatada, pois agora além de sua morte obviamente causar o final do jogo, a morte de sua irmã também pode acarretar em um fim prematuro da sua visita a uma das bases nazistas parisienses.
É tão frequente a IA colocar-se à frente dos inimigos mais poderosos que, em certa altura da campanha, já me preparava para atrair os inimigos para longe dela e então resgatá-la. Não apenas isso, mas caso as irmãs estejam em andares diferentes do cenário, o jogo tentará “teletransportar” a IA para próxima do jogador, mas como esse sistema tem um pequeno atraso de resposta, posso estar a caminho de subir um elevador e o jogo colocar minha parceira no andar inferior, fazendo com que não tivesse tempo de resgatá-la e perder todo o meu progresso.
Por fim, esse sistema também torna quase impossível alguns combates contra chefes, pelo fato de não existir um sistema pelo qual você pode controlar o posicionamento da IA, sempre a colocando perto de seu personagem. Assim, chefes que exigem que uma das irmãs sirva de distração, enquanto a outra consegue um ângulo melhor dos pontos fracos, tornam-se muito mais difíceis de se eliminar por algo que o jogador não pode controlar.
Não apenas durante o combate, mas o level design de Youngblood foi adaptado para atender mecânicas cooperativas, algo semelhante ao visto em Resident Evil 5, na qual algumas ações necessitam que os dois estejam presentes simultaneamente, garantindo também que nenhuma das irmãs se distancie demais uma da outra. Encontrar um disquete com a senha da porta, ou então acessar um computador para então repassar a senha para seu colega são atividades que dão um respiro necessário em meio aos combates intensos em locais fechados.
Falando em level design, o jogo também difere de seus antecessores nesse aspecto, com um mundo aberto fragmentado em vários setores, em detrimento da experiência linear que era vista em outros jogos da série Wolfenstein. No novo game, Paris ainda é controlada com mão de ferro pelos nazistas e nunca faltam alvos para descarregar munição, com vários postos de controle espalhados que são resetados toda vez que você deixa o mapa.
Existem diversos corredores e prédios a serem visitados, assim como colecionáveis e side quests a se fazer, podendo ocupar-se apenas com isso durante umas boas horas, reflexo de um trabalho bem feito e das influências da Arkane Studios, empresa que já demonstrava aptidão nesse departamento com a franquia Dishonored.
Uma das melhores coisas no retorno da franquia sob as mãos da Machine Games foi o cuidado em criar uma história que vai além de apenas matar nazistas, como também entregar personagens cativantes com os quais você se importasse, mas, infelizmente, isso não se repetiu em Youngblood. Com o tempo reduzido de jogo, você mal consegue interagir com a resistência francesa nas Catacumbas, o seu local seguro para abastecer munições e outros itens.
A baixa contagem de horas não seria de todo ruim se fosse melhor utilizada, pois alguns pontos da trama, como os nazistas desenvolvendo uma tecnologia capaz de mudar o clima, são mencionados mais de uma vez e nunca realmente abordados. Talvez isso esteja ficando aberto para um futuro Wolfenstein 3…
Não apenas isso, o desaparecimento de B.J. Blazkowicz, que levou as irmãos dos EUA para a guerra revolucionária em Paris, é resolvido muito rápido e acaba mal explicado. Novamente, parece servir apenas para introduzir mais ideias e contextos que não são desenvolvidos neste game.
Se toda aventura é uma jornada, Wolfenstein: Youngblood parece mais uma parada rápida no banheiro antes de retornar com a história de verdade. O game parece um prólogo para o que pode vir em um futuro Wolfenstein, mas pouco tem para justificar sua existência. As irmãs são uma adição interessante, mas em questão de personagens novos, é só isso.
Temos o mesmo combate fluido e caótico de sempre, mas envolto com uma dificuldade desbalanceada para compensar que são duas pessoas cometendo a matança ao mesmo tempo, o que se torna impraticável quando é uma IA controlando a outra personagem, incapaz de se mostrar à altura da coordenação exigida durante a campanha. Se o futuro da série está na experiência cooperativa, a Machine Games tem muito o que consertar para tornar esse experimento bem-sucedido.
O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Bethesda.