Entre as modalidades do automobilismo, o rally está entre as mais desafiadoras de se controlar e, também, das mais divertidas de se assistir. São corridas que misturam alta precisão com uma sensação constante de que o ambiente está mais no comando do veículo do que o próprio piloto, uma realidade que quem já jogou os simuladores mais realistas da Codemasters, como Dirt Rally, sabe bem como é.
Para a desenvolvedora, inclusive, essa parece ser sempre uma questão. Os jogos da empresa, como os da série F1, costumam sempre pender mais para o lado da simulação, enquanto franquias mais casuais como Grid flertam com os amantes de Need for Speed e Forza Horizon. Dirt sempre caminhou entre esses dois mundos com os títulos numerados e spin-offs, às vezes pendendo mais para um lado do que para o outro. Até agora.
Dirt 5 é aquela banda que une todas as tribos, trazendo um apelo a todo tipo de jogador, ainda que o lado mais casual e despojado das corridas salte mais aos olhos. Quando se pega o controle ou o volante, entretanto, dá para sentir a simulação em ação, com o jogo trazendo avanços o suficiente para se tornar o ponto alto da franquia até aqui e, também, um dos melhores títulos de corrida da, agora, velha geração, bem como uma grande porta de entrada para os amantes da velocidade que já adquiriram um PS5 ou um Xbox Series X|S.
O desenvolvimento de um jogo focado na nova geração de consoles, mas ainda lançado para Xbox One e PlayStation 4, traz consigo algumas opções que normalmente não vemos nos vídeo games tradicionais. Logo de início, o jogador pode escolher entre um modo de performance, que fará ao máximo para atingir os 60 quadros por segundo em detrimento dos visuais, ou de qualidade, que faz com que o título rode a uma taxa menor, mas se torne muito mais bonito.
Dirt 5 se coloca como o ápice de sua franquia e um dos títulos de corrida mais legais dos últimos anos. Este não é o simulador absoluto de rally, mas é um grande expoente do gênero.
A escolha vai da preferência de cada usuário, enquanto Dirt 5 aparece muito bonito em ambos, apenas mais ou menos belo de acordo com a opção. Os efeitos de iluminação impressionam, assim como as cores e o estilo artístico de um jogo que nos leva a uma volta ao mundo por diferentes estilos de rally, pontuados pelas belezas naturais e características de cada nação, incluindo o Brasil e empolgantes descidas pelo clichê das favelas do Rio de Janeiro, aos pés do Cristo Redentor e com muita festa.
É de encher os olhos a movimentação da iluminação do Sol no painel dos veículos, enquanto o clima dinâmico pré-programado altera os visuais e também a pilotagem. A mudança de iluminação, a chuva apertando, a neve se acumulando na pista e outros aspectos fazem com que cada volta pareça inédita e diferente da anterior enquanto os faróis vão se acendendo, a mata fica mais escura e as poças de água se tornam mais presentes.
Mesmo nas versões básicas do PlayStation 4 e Xbox One, o trabalho visual impressiona e cria um conjunto coeso com o áudio, outra característica sempre elogiada da franquia. Em Dirt 5, o barulho do cascalho e das pedras batendo na lataria dos veículos soou como música aos nossos ouvidos, aumentando a imersão, principalmente, quando se usa as câmeras do interior dos carros. Fogos de artifício e os gritos de incentivo da torcida compõem um todo visualmente interessantíssimo, ecoando a Forza Horizon mas com características o bastante para ser memorável por si só.
Auxilia nesse aspecto de retenção a ótima trilha sonora e o trabalho de dublagem afinado, que vinha sendo alardeado pela desenvolvedora desde a divulgação do game. A presença de atores consagrados como Troy Baker e Nolan North nos papeis, respectivamente, do mentor e do rival do jogador ajudam a passar uma aparência de maior naturalidade para o conjunto, compondo um modo carreira fora do usual, com alguns elementos que soam como perfumaria, mas não destoam da volta ao mundo e do foco na pilotagem que é a essência de Dirt 5.
Dirt 5 é aquela banda que une todas as tribos, trazendo um apelo a todo tipo de jogador, ainda que o lado mais casual e despojado das corridas salte mais aos olhos.
São diferentes modalidades e estilos, com direito a corridas mais “tradicionais” ou provas em que acrobacias ou objetivos especiais definem o vencedor. Nesse sentido, a campanha serve como um caminho de progressão por todas estas opções e, também, como uma forma de firmar a região de cada pista, também, como o local em que provas de uma determinada modalidade acontecem.
A sequência apresentada é bem dosada, trazendo variação e uma crescente de habilidade, ao mesmo tempo em que dá certa liberdade para que o jogador pule algumas corridas ou perdoe um desempenho ruim. Como na maioria dos jogos de corrida da atualidade, boas posições e o cumprimento de objetivos especiais, como liderar por um certo tempo ou realizar drifts, garantem pontos extras e experiência que, junto com o próprio resultado após cada etapa, levam à compra de novos carros, adesivos ou pinturas.
Como dito, a progressão é aberta o bastante para justificar alguns desempenhos ruins, e rápida o suficiente para que quase sempre haja dinheiro para comprar um carro melhor, caso esse seja o problema. E em alguns eventos, veículos específicos e de “empréstimo” poderão ser usados, adicionando ainda mais à variedade de Dirt 5 e fazendo com que o jogador se interesse por explorar e aprimorar as próprias habilidades em diferentes disciplinas, mesmo que o título permita perfeitamente que ele se especialize apenas em um modo de competir.
Mesmo no PS4 e Xbox One, Dirt 5 não soa como uma versão capada ou reduzida, entregando o que há de melhor na experiência da Codemasters com a franquia.
Nesse sentido, também caminham as opções usuais de customização de experiência que temos nos games da Codemasters, com um ajuste fino de auxílios de pilotagem e sistemas eletrônicos do carro para tornar a experiência mais voltada para a simulação ou tranquila como um game arcade.
Como sempre comentamos por aqui, trabalhar com tais configurações também faz parte da experiência e da jornada do jogador, que pode se sentir pouco desafiado após um tempo de jogo, tornando as coisas mais crocantes aumentando a dificuldade ou desligando alguma ajuda, por exemplo. Mesmo no modo mais simples, já vai dar para sentir a forma como elementos do ambiente e o formato de cada pista modifica a pilotagem. Dirigir um carro em uma pista coberta de gelo, por exemplo, é uma experiência bem diferente de fazer isso no barro, enquanto a chuva, neve e outros elementos climáticos, como já comentamos, transforma tais condições em tempo real.
Vale a pena dar uma atenção especial a esse aspecto, que foi mencionado por cima quando falamos dos aspectos gráficos de Dirt 5. Dá para perceber, principalmente na campanha, como o clima dinâmico funciona de maneira roteirizada, com as mesmas mudanças acontecendo toda vez que iniciamos uma corrida. Perceber as engrenagens, entretanto, não remove de todo a magia de pilotar em um cenário em mutação, fazendo com que cada volta seja diferente da outra, e as habilidades adquiridas em uma pista tenham que ser retrabalhadas em outra.
Os desenvolvedores usam esse aspecto de maneira incrivelmente criativa e variada, fazendo com que até mesmo duas provas em um mesmo circuito soem diferentes pelas condições aplicadas. Novamente, entra em cena o fator de desafio aprimorado imposto pela Codemasters neste game e, também, a ideia de diversidade que uma modalidade de corrida tão arrojada é capaz de trazer.
Mesmo no PS4 e Xbox One, Dirt 5 não soa como uma versão capada ou reduzida, mas entrega tudo o que há de melhor na experiência da produtora com a franquia, ainda que o jogador tenha de encarar loadings consideravelmente maiores, em um incômodo minimizado pela ótima trilha sonora. Enfrentamos alguns problemas durante nosso processo de análise no console da Sony, como atualizações de sistema que deletaram, por duas vezes, nosso progresso — desde o lançamento, entretanto, isso não mais aconteceu.
Seja pela pegada de festival, pelo modo campanha cheio de possibilidades, pelas gincanas ou pelo desafio, ou tudo isso junto, Dirt 5 se coloca como o ápice de sua franquia e um dos títulos de corrida mais legais dos últimos anos. Este não é, claro, o simulador absoluto de rally, mas é um grande expoente do gênero que deve tornar a modalidade mais acessível e palpável, além de mais divertida do que sempre foi. É, também, o game perfeito para dar entrada em uma nova geração de consoles que, ao contrário desta que começa a chegar ao fim, levou algum tempo para encontrar seu caminho nas pistas mesmo com produtoras de renome trabalhando com o estilo.
O jogo foi testado no PS4, em cópia cedida pela Deep Silver. Esta análise também foi publicada no Canaltech.