Eu estou há quatro dias com um PlayStation 4. E, há quatro dias, tento estrear meu console com um jogo de nova geração, sem sucesso. Uma mistura de falhas de design, problemas de conexão e, me atrevo a dizer, incompetência, impedem que eu faça isso.

O primeiro jogo que baixei foi Strider, que joguei por alguns minutos. Mas não achei justo começar na nova geração com um título que eu já tinha experimentado antes. Então, decidi comprar a versão digital de Watch Dogs, um jogo que me chamou bastante atenção pelas mecânicas e ideias, apesar de eu estar perfeitamente ciente de todos os seus problemas.

Baixei o jogo e me surpreendi com um download bastante pequeno, de menos de 4 GB. Logo pensei nas promessas da Sony de um jogo que baixaria e seria instalado durante a jogatina e achei interessante a ideia. Enquanto eu esperava, começou o primeiro capítulo da minha trama de frustração.

Toques involuntários

Enquanto esperava o download, explorei rapidamente os menus de configurações, entendi basicamente como funciona a interface e deixei o console em stand by. Notei então três bipes, depois mais três, seguidos de mais e mais e mais. Rapidamente, suei frio, já que sons desse tipo normalmente indicam um console em falecimento.

PlayStation 4

Desliguei o aparelho e notei que os bipes continuavam. Chegando mais perto, ouvi os mecanismos internos do console disparados, como se ele estivesse tentando ejetar um disco, sem parar. Enquanto temia pela necessidade de lidar com trocas de produtos nos péssimos sistemas de atendimento brasileiros, procurei pela internet e descobri que o problema, mais do que extremamente comum, se trata de uma falha no design do PlayStation 4.

Entre menções a problemas de aterramento no sistema elétrico, consoles recebendo energia fantasma e até incompatibilidades com funções HDMI de algumas TVs, percebi algo que parece ter resolvido as coisas por aqui. O PS4 tem um pé de borracha em sua parte inferior, um material mole que, quando em contato com uma superfície, muda sua forma e acaba encostando na parte inferior do botão eject. Dei alguns toques na peça, mudei sua posição e, por fim, acabei arrancando-a completamente. Sem sucesso. A única opção? Deixar o console em pé, ou então, com um bom pedaço de sua parte frontal sem o apoio de um móvel, uma alternativa perigosa.

Aqui, aliás, abro parênteses para falar de umas ideias esquisitas que encontrei enquanto pesquisava a solução. Uma sugestão bastante constante era desligar o cabo de força do aparelho, gerando um óbvio efeito – ele deixa de disparar o eject pois está desligado da energia. Palmas a todos os envolvidos.

Outros sugeriam que os jogadores afetados pelos problemas abandonassem completamente a mídia física constantemente ejetada e apostassem apenas em jogos digitais. Porque, claro, dá para conviver de boa com um console novo que não para de tentar cuspir um disco inexistente, esperar que os mecanismos internos se autodestruam e embarcar de vez na distribuição digital. Sério gente…

Cadê a internet?

Estou recebendo visitas familiares em casa e, assim, achei melhor deixar a TV grande da sala à disposição. Peguei meu PS4, então, e liguei no meu monitor TV que uso para trabalhar e fui jogar Watch Dogs. Mas antes, bora conectar a internet no Wi-Fi para acessar a experiência completa. E aqui, mais um problema: o console não consegue localizar minha rede.

Mais uma vez, vi que esse é um problema comum de incompatibilidade entre alguns modens e o console. No que acredito ser o problema, o PS4 não consegue localizar conexões de 5 GHz, então, não é localizada nem que eu insira os dados da rede manualmente. Sou noob, não sei mudar essa configuração em meu roteador, então, nada de internet sem fio por aqui. Minha única alternativa é alternar o mesmo cabo de internet que uso para trabalhar com o console.

E agora vamos jogar (ou não)

Tudo certo. Console com internet, televisor ligado, nada disparando e eu finalmente ia jogar. Iniciei o game, uau, tudo muito legal, gráficos, Aiden Pearce, hackear coisas, fugir da polícia. Ótimo, agora vai. Ao melhor estilo Jonas Marra, usei meu celular para causar um blecaute e estava conseguindo fugir sorrateiramente do estágio quando fui interrompido.

Nova geração e uma péssima primeira impressão

Não era ninguém me chamando, nem o telefone tocando. O jogo precisava terminar de ser instalado e, com isso, eu tinha que esperar mais. A barra de progresso caminhava vagarosamente, eu tinha que trabalhar no dia seguinte, estava cansado e não deu. Mais um dia sem jogar.

No dia seguinte, enquanto trabalhava, pensei em ligar o console e deixa-lo instalando o game. Tudo estaria ponto quando eu terminasse. Mas, ao dar uma olhada no progresso, percebi que o status não havia saído dos 26% mesmo após quase duas horas de jogo rodando. E aqui, a culpa é da Ubisoft.

Não existe nenhuma indicação de que o game ainda está sendo baixado. Pelo contrário, a palavra “Instalar” dá a entender que todos os arquivos foram copiados e que o game está apenas realizando as operações necessárias para rodar. Não. O resto do download era necessário para que eu continuasse jogando. E não havia nenhuma informação sobre isso. Nem mesmo uma mensagem de erro para me avisar que eu estava esperando igual um otário e não existia internet disponível para que o processo fosse realizado.

Mas, acima de tudo, me senti enganado. A ideia era facilitar a minha vida permitindo que eu começasse a jogar antes do fim do download. Tudo muito legal, não fosse o fato do trecho disponível ser curto demais para o pedaço de Watch Dogs liberado. O resultado foi o oposto, uma frustração ainda maior.

Seria muito mais honesto me fazer aguardar o download completo. Ou, então, fazer bom uso da função e baixar um trecho significativo do jogo, e não dez minutos de jogatina, de forma que eu não encontrasse a barreira do download tão cedo e tivesse realmente a sensação de estar vivendo no futuro.

Várias vezes, conversei com amigos sobre os jogos digitais, se eles são, ou não, artigos de coleção. Li que esse problema não acontece com títulos físicos, o que me leva a cogitar fortemente a compra deles no lugar dos games pela PSN. Pelo jeito, essa ainda não é bem a hora das prateleiras ficarem vazias. Pelo menos, enquanto as empresas não aprenderem a lidar com as coisas direito.

Eu amo a tecnologia. Amo a possibilidade de jogar vídeos do meu tablet para a tela da televisão, e dali para o meu celular. Adoro a ideia de usar um console que me permite jogar, baixar outros títulos e transmitir tudo ao vivo. Mas, até o momento, a nova geração está me fazendo ter muita saudade dos velhos e bons cartuchos. Mas pelos motivos errados.

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