Briga de egos e uma “limpeza na casa”. São esses os motivos por trás das recentes ondas de demissão e saídas de pessoal-chave em diversos estúdios da Sony. Apesar do que muitos teóricos da conspiração possam afirmar, todos os fatos não estão conectados entre si e decorrem dos mais diversos motivos.
Toda a história foi contada por Pete Dodd, que é conhecido por publicar informações sobre os bastidores no fórum especializado NeoGAF. Apesar de nem sempre resultarem em confirmações, as informações costumam ser corretas e têm origem em diversas fontes dentro do mercado de games, que, claro, preferem não se identificar.
Vamos por partes:
Sony Santa Monica e Evolution Studios
O estúdio responsável por games como God of War e PlayStation All-Stars Battle Royale foi um dos atingidos pela recente onda de demissões, que atingiram pelo menos uma dezena de pessoas em diversos estúdios de desenvolvimento da Sony. A falta de eficiência dos trabalhos mais recentes da produtora foi a razão para a retirada de tanta gente do quadro de funcionários, incluindo o diretor do terceiro game de Kratos, Stig Asmussen.
O motivo teria sido o gasto de quase US$ 100 milhões em um título de terror futurista, aos moldes de Dead Space, que acabou sendo cancelado por estar bem abaixo dos padrões de qualidade da Sony. O game seria um projeto pessoal de Asmussen e teria um conceito criado antes mesmo do lançamento de God of War III.
A popularidade do exclusivo do PlayStation 3 teria dado ao diretor carta branca para escolher uma equipe e tocar um projeto que teria falhado três vezes em testes de qualidade, sendo reiniciado do zero todas as vezes. O lançamento estava previsto para acontecer neste ano, mas a Sony acabou perdendo a paciência com um de seus principais nomes e cortando o financiamento para o game, juntamente com boa parte de seu pessoal – muitos deles membros da equipe de desenvolvimento de God of War III.
Asmussen, apesar de ter saído no mesmo momento em que o passaralho pousou na Sony Santa Monica, não teria sido demitido. Ao diretor, a Sony teria oferecido uma posição na equipe liderada por Cory Barlog. Ele não estaria disposto a dar aquilo que considerava ser um passo atrás em sua carreira e acabou pedindo as contas, deixando a empresa.
Motivos do tipo explicam também as demissões na Evolution Studios, responsável por Driveclub. Segundo as fontes ouvidas por Dodd, Col Rodgers teria sido demitido nessa leva devido ao descumprimento dos prazos previstos pela Sony. O título de corrida, que deveria ser o expoente das capacidades sociais do PlayStation 4 em seu lançamento, está tão atrasado que nem mesmo tem uma data de lançamento ainda.
Rodgers, porém, veio a público exigir desculpas. Segundo ele, motivos totalmente pessoais – uma doença grave diagnosticada em seu filho e a distância de 350 km separando sua casa da desenvolvedora Evolution – teriam o levado à demissão. Agora, ele se prepara para abrir seu próprio estúdio independente, a Big Red Switch Games.
O NeoGAF, porém, foi implacável com Dodd. As afirmações falsas feitas a respeito de Rodgers repercutiram mal sobre todas as revelações feitas por ele e causaram seu banimento definitivo do fórum, mesmo após as desculpas postadas por ele. O restante das afirmações, conforme verificado pelo site VG247, seriam verdadeiras.
Naughty Dog
Uncharted 4 teria sido o principal motivo para a saída dos diretores Amy Hennig e Justin Richmond. Aqui, há quem diga que o principal vetor da confusão teria sido o diretor criativo Neil Druckmann, mas Dodd não entra nesse mérito, afirmando apenas que diferenças criativas teriam tirado a dupla da empresa.
No caso de Hennig, o conflito foi gerado justamente pelo enredo e clima geral do game, que não estava seguindo um caminho que a escritora julgava adequado. Richmond também estaria insatisfeito pelo mesmo motivo e acabou recebendo uma proposta melhor da Riot Games, seguindo então para a equipe responsável por League of Legends.
Dodd afirma que não existem rancores entre os envolvidos. Hennig estaria prestes a abrir seu próprio estúdio de desenvolvimento com outros parceiros de Naughty Dog e da própria Sony, enquanto Richmond estaria confiante de que fará um bom trabalho na Riot, uma perspectiva que seria compartilhada pela própria companhia.
Reorganização estrutural da Sony
As dispensas também ocorrem em um momento oportuno, quando a Sony começa a se recuperar financeiramente após uma quase quebra global e um faturamento bagunçado com o PlayStation 3. Agora, a empresa começa a lucrar com seu console da geração passada ao mesmo tempo em que vê o PS4 ganhando mais e mais terreno. Por isso, é hora de apostar nas garantias de sucesso e “cortar a gordura”.
Tudo acontece, propositalmente, pouco antes do fim do ano fiscal 2014, que se encerra nesta segunda-feira (31). Sendo assim, quando divulgar seus resultados, a empresa pode dizer a seus acionistas que está trabalhando para “limpar a casa” e garantir uma operação mais eficiente e barata. A ideia geral é não permitir a repetição dos mesmos erros que macularam o PS3 em seu lançamento, aumentando o custo de desenvolvimento de jogos e dificultando a chegada de bons lançamentos ao mercado.
Motivos semelhantes teriam, no passado, motivado o fechamento da Zipper Interactive (de MAG e SOCOM 4). No Japão, uma reestruturação semelhante também estaria acontecendo, com jogos em estágio médio de desenvolvimento sendo cancelados e produtores recebendo cartas de demissão. Jogos caros e trabalhos longos são termos proibidos na companhia.
Foi justamente essa segurada nos gastos que acabou causando a saída de Jack Tretton. O executivo estaria frustrado com a incapacidade de alcançar níveis mais altos dentro da própria Sony e acabou recebendo ofertas externas de maiores atribuições e salários mais altos. A empresa japonesa não foi capaz de oferecer uma contraproposta favorável, o que acabou resultando na saída pacífica do antigo diretor da plataforma PlayStation.