Em torno de uma fogueira, sem abrigo e sem alimento, abandonados para morrer em local gélido e inóspito, um grupo de sobreviventes discute suas alternativas e relembram as situações que os trouxeram até aquele momento infortuno. Assim, sem esperanças, começa Gods Will be Watching, um point-and-click minimalista que vai te fazer passar muita raiva.
Como a própria desenvolvedora o define, trata-se de um jogo sobre decisões difíceis onde o bem e o mal não existem ou pouco importam. Diálogos sarcásticos em meio a cenas de tortura e mutilação são comuns no jogo, e colocados de forma muito bem amarrada com a trama, de forma que não soam forçadas.
A ambientação futurista aliada ao excepcional trabalho de arte pixelada concede ao game um visual único.
Sobreviver a uma sessão de tortura ou escolher qual refém deve viver ou morrer são apenas alguns dos exemplos de situações que o jogador será colocado. Através de rápidas escolhas, terá de impor sua vontade e arcar com as consequências.
A dificuldade também é um traço marcante aqui. Com frequência, recebemos na tela a mensagem de fracasso e somos convidados a repetir a última cena inteira. Prevendo o incômodo que isso causaria ao jogador, a desenvolvedora colocou logo na tela inicial uma mensagem: “Por favor não nos odeie muito…”
Logo na primeira missão do jogo, somos colocados em meio à invasão de uma instalação cientifica, com o objetivo de roubar dados de um computador. No papel do Sargento Burden, somos encarregados de controlar a situação onde quatro pessoas são mantidas reféns, um soldado armado guarda a porta principal, dois hackers tentam invadir o servidor sem disparar nenhum alarme enquanto soldados de elite a todo momento querem invadir o local.
Conforme o trabalho dos hackers avança mediante nossas ordens, os soldados de elite se aproximam da porta para invadir. Então, ordenamos que nosso soldado dispare para afastá-los. Isso faz com que os reféns fiquem nervosos, nos obrigando a deixar de dar atenção à segurança e a invasão de computador e acalmar, gritar, chutar ou executar alguns deles para evitar alguma reação ou fuga, de forma que sirva de exemplo aos demais.
Você vai morrer muito, se frustrar muito e ficará sem saber o que fazer diversas vezes
Essas ações se alternam uma após a outra, deixando tudo mais tenso, até que os dados do computador sejam roubados, todos os reféns morram ou a sala seja invadida pelos soldados de resgate. Se falhar em roubar os dados, e isso vai acontecer muito, o processo começará desde o início.
A ambientação futurista aliada ao excepcional trabalho de arte pixelada concede ao game um visual único e, só por isso, já merece aplausos. A linguagem corporal dos personagens é muito bem conduzida, a fim de demostrar toda carga emocional de cada cena.
Colocando o usuário em situações extremas, o game tem como objetivo fazer com que o jogador tome decisões em frações de segundos, sem chance de analisar muito o contexto. Isso, para um adventure point-and-click, tende a ser muito frustrante.
Trata-se de um jogo sobre decisões difíceis onde o bem e o mal não existem ou pouco importam.
As ações são tomadas através de menus de repostas ou de interações tais como conversar, gritar, chutar ou atirar. É aí que o fator sorte passa a fazer parte do jogo. Por exemplo, logo no inicio, uma mesma sequência de ações do jogador pode levar tanto ao sucesso como ao fracasso da missão, sendo a reação dos outros personagens em cena totalmente aleatória. Isso torna a jornada um tanto frustrante, pois o sentimento que temos é que por mais que entendamos a situação e o que deve ser feito, o jogo não nos recompensa por nada de forma imediata, e ficamos somete a mercê da sorte.
Você vai morrer muito, se frustrar muito e muitas vezes ficará sem saber o que fazer. Mas, se ainda assim a história (muito boa e bem amarada, por sinal) te cativar, você apreciará uma experiência bastante única. É certo que a recompensa demora a chegar, mas ela está lá, só precisa ser alcançada.