Desde minha última coluna, “Pilotando Robôs Gigantes”, não tirava da cabeça os bons momentos com Virtual On. A vontade de jogar era tanta que corri no Mercado Livre e arrematei uma cópia lacrada do game.

Mas não bastava jogar com o DualShock, a experiência tinha de ser completa. Assim me desafiei, não abriria minha cópia original de Virtual On Marz, do Playstation 2, se não fosse para jogar como se deve, com um controle Dual Sticks.

Sabendo que a Hori, conhecida marca de acessórios para games havia lançado a algum tempo atrás uma edição do controle para Playstation 3, corri ao Ebay para tentar encontrar algum maluco que estivesse disposto a se livrar de tal preciosidade. Minha busca foi em vão.

A solução então foi botar a mão na massa e construir o meu próprio Twin Sticks. Vou descrever abaixo todo o processo de confecção pelo qual trilhei por quase uma semana. Não encarem como um tutorial, minha experiência na construção desse controle me mostrou que imprevistos tem grandes chances de acontecer e planos terem de ser mudados no último instante.

Comecei já sabendo da viabilidade do projeto, graças aos desenvolvedores do game que tiveram o cuidado de colocar modos de controles idênticos aos do arcade, ou seja, utilizando os sticks analógicos do controle e os gatilhos e botões R e L. O desafio agora seria separar os 2 analógicos que vêm soldados numa mesma placa, porém, essa separação comprometeria o funcionamento do controle, já que se partiriam varias trilhas.

Pesquisando mais sobre o jogo acabei descobrindo que o desenvolvedores foram ainda mais generosos e incluíram um segundo modo de controle, onde os direcionais eram controlados pelo d-pad e os botões triângulo, círculo, quadrado e X. Isso caiu como uma luva, pois bastava um solda simples para utilizar as funções dos botões.

Com a viabilidade técnica aprovada, fui atrás de outro ponto fundamental do Twin Sticks: os direcionais em forma de manche. Rapidamente me lembrei dos primórdios da jogatina nos PCs, com aqueles joysticks que usava pra jogar Descent.

Corri para o Mercado Livre e pesquisei por joysticks antigos e encontrei o modelo QuickShot Warrior 5 QS-123.

Arrematei logo dois, cada um por R$ 10. Com o frete, eles saíram por R$ 25 cada. Porém, aqui começaram os contratempos. Não atentei para o detalhe de que esse modelo de joystick era analógico, o que quase me obrigou a ir atras de outros controle para concluir meus planos. Mas, felizmente, tinha em casa comandos de arcades que sobraram da última troca que fiz no meu “fliper”. Desmontei-os e utilizei somente os manches em conjunto com os comandos de arcade. O resultado foi esse aqui:

O passo seguinte foi uma visita à rua Santa Efigenia, a Meca dos games, eletrônica, equipamentos de som e iluminação na cidade de São Paulo. Fui atrás de um controle para PlayStation 2 e um adaptador para PS3, visando tornar o controle compatível com ambas as plataformas.

De quebra, já aproveitei para comprar botões para o controle. Eu tinha em casa botões de árcade sobrando, mas me veio à cabeça a ideia de dar um ar industrial/militar ao meu projeto, por isso optei por comprar botões em uma loja de eletrônica para equipamentos industriais.

Escolhi o botão tipo “chave” para ser o Start e o tipo emergência para ser o Select, que no jogo desempenha a função de reparo de emergência do seu mecha. Além disso, comprei também um bom ferro de solda. Mas não se engane: quando se fala em eletrônica menos pode ser mais.

Para trabalhar com soldas em placas de circuito impresso, recomenda-se utilizar um ferro de solda de 30 watts, no máximo 40 watts, para não correr os risco de estourar as trilhas da placa do seu controle. Além dele, comprei também estanho, um bom alicate para descascar fios, uma pistola de cola quente e uma fita zebrada, amarela e preta, já pensando na decoração. Não vou falar de preços, pois eles podem variar de estado para estado, mas acreditem, saiu mais barato do que se eu tivesse achado um controle da Hori, que em seu lançamento custava uns U$ 300.

Voltando para casa, fui para a parte, para mim, mais crítica: as soldas. Nunca fui muito bem nesse quesito, mas com um pouco de prática, fui pegando o jeito. Abri o controle de PlayStation 2 e separei a placa de circuitos, que é a unica parte que nos interessa.

Reparem na imagem, os círculos pretos mostram onde os fios devem ser soldados, os fios vermelhos são os positivos e os pretos os negativos.

Vou ressaltar aqui a importância da solda e da cola quente: quando for emendar fios, sempre utilize uns pingos de solda, isso evita que com o tempo a oxidação gere problemas de contato. Já a cola ajuda a segurar os fios no lugar, pois durante a montagem e soldagem, os fio se mexem muito, o que pode acabar partindo-os. Então, sempre que terminar uma solda e testar com um multímetro para saber se está tudo ok, coloque uma gotinha de cola quente pra manter tudo no lugar.

Terminada a parte das soldas, efetuei o primeiro teste, tudo ali solto mesmo. É importante nesse ponto, antes da montagem final, porque se existir algum problema, você não precisará desmontar tudo para fazer os reparos necessários.

Estando tudo em ordem, fui buscar a madeira para montar a caixa que sustentará a estrutura e as ferragens. Essa parte é bem simples, qualquer madeireira costuma ter retalhos de chapas de compensado que podem ser usadas no processo. No meu caso optei por construir uma caixa com 40cm de largura, 20cm de altura e 10cm de profundidade. Utilizei chapas de compensado de 10mm, elas oferecem uma boa resistência e não são muito pesadas.

Você pode juntar tudo com pregos e cola, mas eu prefiro usar parafusos, caso necessite de uma desmontagem. Aqui foi outro momento crítico da minha jornada, a furação. Utilizando uma serra copo e uma furadeira, fiz a primeira “versão” da tampa.

Porém, fiz furos pequenos, de forma que a movimentação dos joysticks ficou comprometida. Tentei aumentar o diâmetro dos furos e acabei estragando o trabalho que tinha feito. Uma vez que você fez o buraco, só conseguira aumentá-lo se tiver guardado o pedaço de madeira que saiu dele. Sem isso, é impossível segurar a furadeira na posição correta para aumentar o furo. Em suma, tive de comprar outra tampa para a caixa, por segurança comprei duas, mas acabou não sendo necessário.

Antes da montagem final, fiz a pintura utilizando esmalte sintetico na cor preta. Minha dica para esse passo é diluir a tinta com um pouco de tiner, isso facilita a aplicação e agiliza a secagem. Como aqui em São Paulo os dias andam muito frios, aqueci o forno por alguns minutos, depois abaixei a temperatura para o mínimo e coloquei as peças para secarem nele mesmo. Em 10 minutos, estavam todas prontas para a montagem.

Então depois de cinco dias de trabalho, eis aqui meu controle Twin Sticks.

Espero que vocês, entusiastas dos clássicos, se inspirem a produzir suas versões ou mesmo controles arcade, que seguem princípios parecidos. Mesmo existindo a possibilidade de comprar um controle pronto, se aventurar a produzir um pode ser muito divertido.

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