O mundo dos video games normalmente é associado aos jovens, por mais que diversas pesquisas recentes apontem para um aumento na idade média do jogador. Mesmo assim, tais estudos mostram uma demografia que gira em torno dos 30 anos, ainda longe da visão que temos de pais ensinando coisas aos filhos. A trajetória de muitos de nós, porém, diz o contrário.
Não são raros os casos de pais que jogavam video games aos filhos ou os fizeram gostar de uma franquia em especial. Também são frequentes os casos em que o mundo dos jogos, como um todo, foi apresentado aos pequenos por eles. E por mais que tecnologias anti-sociais como o Oculus Rift tentem mudar isso, algumas de nossas memórias mais carinhosas com esse mundo remontam à jogatina compartilhada com os pais.
É por isso que nesse Dia dos Pais, o NGP decidiu fazer algo diferente e dar voz não apenas aos nossos redatores, mas também aos próprios leitores, para que eles contem memórias e histórias de um passado em que a vida era mais fácil e os jogos, compartilhados com quem nos deu vida. Feliz Dia dos Pais a todos.
Durval Ramos
“Como meu pai tem 93 anos, é bem difícil pra ele entender muitas coisas desse mundinho dos jogos, tanto que é comum ele achar que estou vendo algum filme ou TV. E um dos episódios mais marcantes disso foi quando eu estava jogando Uncharted 3, mais ou menos na época da instalação das primeiras UPPs no Rio e a TV transmitia incessantemente isso tudo.
Eu estava em alguma parte qualquer de tiroteio, ele entrou na sala e ficou parado olhando pra TV e soltou um ‘Ainda tão mostrando essa merda aí?’. Eu não entendi o que ele quis dizer, e foi então que ele me explicou que não aguentava mais ver a cobertura da invasão do Morro do Alemão, sendo que eu só tava dando uns tiros com o Drake em um cenário qualquer.
Outra coisa é que meu pai é ex-combatente, tendo ido pra Itália durante a Segunda Guerra. E eu lembro que o lançamento de Medal of Honor no PSOne foi um marco exatamente por ser um FPS bem mais realista. Tanto que eu aluguei o jogo na época e fui todo pimpão mostrar pra ele. A reação: ‘Não era assim essa bosta. Tá tudo errado’. E saiu.”
André Ceraldi
“Eu tinha um N64 e adorava International Superstar Soccer. Em um período de férias na praia, levei o console e o jogo pra lá e meu pai ficou admirado com os gráficos, disse que era bem bonito e ficou me assistindo jogar por mais de uma hora. Eu, pivete de 12-13 anos sem noção, nem perguntei se ele queria jogar também.
Acontece que teve uma hora que um dos meus amiguinhos da rua me chamou, eu pausei o jogo e fui ver o que era. Quando voltei uns 15 minutos depois, a partida que eu tinha recém começado e estava 0x0, estava estranhamente no fim do primeiro tempo e com o computador vencendo por 3×0 (eu era viciadão, jogava sempre no maior nível de dificuldade). E meu pai lá, sentado na mesa da sala, fazendo as coisas dele como se nada tivesse acontecido.”
Ana Cruz
“Meu pai nunca jogou, mas ele gostava de assistir. Teve um dia em que ele viu eu, meu irmão e alguns amigos, foi quando jogamos pela primeira vez Resident Evil. Ele não fazia ideia do nome do jogo, então chamava “o jogo da cobra”, pois era na parte da cobra que ele viu todo mundo passando raiva, pois só morríamos. Depois que foi comprado o PlayStation para a família, ele ficava perguntando: ‘vocês ganharam da cobra?’ ou ‘quando vão jogar aquele jogo da cobra?’ Era bem divertido.
Felipe Demartini
“A adaptação do jogo das Tartarugas Ninjas do arcade para o NES é, até hoje, reconhecida como um dos games mais difíceis de todos os tempos. Era também um dos meus jogos preferidos quando criança, e eu sempre jogava ele junto com o meu pai. Eu de Donatello, ele de Leonardo.
Terminamos o título algumas vezes juntos, ou então, chegamos bem perto disso, morrendo ao fazer alguma cagada na batalha final contra o Destruidor e seu clone. E, até hoje, eu não consigo finalizar o game sozinho – pelo menos, sem usar cheats. Assim não tem graça, e sem meu melhor companheiro do lado, menos ainda.
Não jogávamos só as Tartarugas, mas com certeza, foi o game que mais compartilhamos. Não sei se ele realmente gostava de tudo aquilo, ou fazia apenas para me ver feliz, mas a verdade é que ele se divertia muito também. Tanto que, até hoje, quando conheço um jogo legal ou acho um trailer interessante, faço questão de mostrar a ele para ouvir a mesma reação de sempre ‘Nossa, eu jogava isso com você, era tudo desenhado, e agora parece um filme!’”
Leonardo Afonso
Imagem: Lawrence McKee
“Uma frase: ‘Essa porcaria vai estragar a TV’”
Rafael Gazzarrini
“Até os meu quatro ou cinco anos, meu pai tinha uma locadora de cartuchos para video games com um amigo dele, motivo pelo qual eu tive um Nintendo antes mesmo de saber ler. Uma das minhas memórias mais antigas (talvez a mais velha de todas) é a de estar sentado no chão, ao lado do meu irmão do meio, escutando as explicações do meu pai sobre Space Invaders – e eu entendia apenas que devia atirar naquelas ‘mosconas’ que eram os aliens e que não devia puxar o fio de controle.
Nunca fui bom nesse jogo, mas até hoje tento ultrapassar o recorde dele, nem que seja através da versão chinesa vinda com o DVD aqui de casa.”
Jefferson Demuth
“Cara, que saudade. Joguei Atari pela primeira vez com meu pai em 1988, ficávamos às tardes do final de semana jogando os games da época. Um bom tempo depois, jogamos Side Pocket (SNES) também. Hoje não tenho mais esse parceiro para jogar comigo, mas no meu coração, lembro muito desses momentos que não têm preço e espero um dia em que eu também possa jogar com meus filhos.”
Jorge Colognesi
“Quando meu filho André era menor, com uns quatro anos de idade, queria jogar o PsOne que a gente tinha. Ele ficava chorando muito porque não conseguia jogar Hot Wells. Então o que eu fiz: desconectei o controle dele, e eu jogava escondido, com ele achando que era ele. Se empolgava, dizia que jogava muito. Fui tentar fazer isso depois com um sobrinho meu de seis anos, com o controle de PS3, ele falou que sabia que não estava jogando. Perguntei como e ele falou: ‘A luz do controle não está acesa, tio’.”
Felipe Arruda
“Minha memória é mais afetuosa do que engraçada. Um dia voltei da escola e me deparei com um Master System novinho. Esse presente do meu pai para nós foi o único console que tivemos no ano de lançamento do produto. Eu nem sabia que existia um video game melhor do que o Atari e pirei quando vi aqueles jogos tão elaborados. Acho que foi o console que mais aproveitei.
Meu pai nunca gostou muito de video games, mas era só conectar a Light Phaser e colocar o cartucho de Rambo III que tudo mudava. Como só tínhamos uma pistola, o combinado era passar adiante a vez de jogar a cada Game Over. Meu irmão e eu respeitávamos a regra, mas meu pai gostava tanto do jogo que só nos passava o gatilho depois de três ou quatro derrotas. No fundo, a gente achava graça e nem reclamava. Era bacana ver o pai se divertindo com um brinquedo nosso.”
Diego Corrêa
“Atualmente tenho 16 anos e lembro muito bem de todos os consoles que meu pai me deu quando eu era criança. Ele não tinha condições de me dar os video games da época e sempre me dava um da geração passada, sempre adorei e nunca reclamei, muito pelo contrário. Vejo que fui uma criança de sorte, pois tive a oportunidade de ter consoles da velha guarda mesmo não sendo de sua época.
Já faz um tempo que meu pai não se interessa mais por games, porém eu tenho uma ótima lembrança de uns dez anos atrás que certamente ele não deve mais se lembrar. É com o jogo Dino Crisis 2, do PlayStation. Ele trabalhava de madrugada, então tinha que dormir de dia e só tinha um pouco de tempo para jogar comigo a noite. Ele jogava o game todos os dias, eu só assistia porque morria de medo.
Até hoje ele não sabe quase nada de inglês e em várias partes do jogo demorava muito para saber o que tinha que fazer, tanto que ele ficou muito tempo preso na ilha inicial. Para mim, ele fez um feito histórico que ninguém que eu conheça já tenha feito, que é matar TODOS os dinossauros da ilha, de tantas vezes que ele passava pelo mesmo lugar lugar, os bichos pararam de renascer, ficando o cenário totalmente vazio.
Demorou muito pra ele conseguir pegar a bateria para ligar um barco que iria nos tirar da ilha, mas depois disso ele não teve muitos problemas para zerar o jogo. Recentemente, tive a oportunidade de jogar Dino Crisis 2 novamente e não demorei nem quatro horas para fecha-lo. Porém, essa experiencia nem chega perto da que eu vivi com meu pai, ao qual tenho que agradecer muito por tudo o que fez e ainda faz por mim até hoje.”
Guilherme Andrade
“Lembro do dia que jogamos NBA 2K14. Tava dando um couro nele, aí do nada ele fez umas três cestas seguidas de dentro do garrafão dele! Ganhei por 127 a 16. Apesar do couro, aproveitamos muito e isso serviu para fortalecer um pouco nossa relação. Video games sempre ajudam nisso.”