Anunciado em julho como uma das grandes novidades da Brasil Game Show 2014, o Pavilhão Indie promete ser um dos principais espaços de exibição para os desenvolvedores independentes nacionais. Ao lado de empresas de peso e com total acesso a executivos e pessoas importantes do mercado, os pequenos poderiam fazer novos negócios e, acima de tudo, expor seus títulos para o público que sempre lota a maior feita de jogos eletrônicos da América Latina.
Mas a iniciativa não parece estar caindo muito bem junto a seus principais interessados – os próprios desenvolvedores. Após uma série de críticas e matérias publicadas na imprensa, o designer Andre Asai, da Loud Noises! Games, tornou pública sua resposta à BGS em relação ao aluguel de um estande que, para ele, de incentivo aos indies não tem nada.
Dear BGS, this is my public response for the "Pavilhão Indie" conundrum. pic.twitter.com/2A7PT1ip35
— Andre Asai (@asaifactory) 6 agosto 2014
No email divulgado, o designer critica, por exemplo, a exigência de CNPJ para aluguel de um estande e o preço alto, que seria de R$ 3,5 mil, por um espaço de 4 m². Mais do que isso, afirma que existe uma certa pressão para que os produtores aceitem a ideia já que, “se essa ‘maravilhosa’ abertura aos indies brasileiros não for bem sucedida, ela não será repetida ou repensada para 2015”.
“É uma clara tentativa de lucrar em cima dos desenvolvedores, coisa que [a feira] já faz há anos”, disse Asai, em entrevista ao NGP. “A intenção é vender uma chance ao [produtor de jogos], ainda que de forma artificial e com poucas chances de retorno. Mas eles falam como se fosse uma oportunidade imperdível”.
Já tendo atuado também como organizador de eventos, o desenvolvedor afirma estar ciente das dificuldades envolvidas na produção de algo desse nível, como os altos preços praticados nos espaços expositivos, o que teria, inclusive, gerado a onda recente de ocupação de locais abandonados na cidade de São Paulo para eventos culturais. “Por outro lado, os preços dos ingressos e o número de patrocinadores mais do que cobririam a potencial perda de dinheiro em ceder um pouco de espaço ou cobrar um valor mais condizente com a nossa situação.”
Para Asai, porém, o buraco é mais embaixo. Segundo ele, a Brasil Game Show nunca foi um evento parte do calendário do desenvolvedor independente. “Tradicionalmente, a feira nunca deu a menor importância [para os indies], o que é ok”, afirma. “O público frequentador da BGS também nunca foi do tipo de se importar [com isso]”.
Segundo ele, a Loud Noises nunca teve o interesse em expor no evento por não ser uma empresa, não contarem com o orçamento e, acima de tudo, não terem títulos em um estágio interessante para uma demonstração. Atualmente, a produtora tem uma equipe principal de três pessoas e trabalha em dois títulos, Laut e Head Blaster, ambos para PC.
Sendo assim, por que então divulgar a questão a todo o público? Asai disse já estar discutindo com outros desenvolvedores independentes há algum tempo sobre o assunto, apontando principalmente a dificuldade de se obter informações oficiais sobre preços e condições. Nos últimos dias, porém, afirmou ter se sentido pressionado pela organização da BGS a tomar uma decisão. Daí a ideia de apresentar uma carta pública com sua opinião pessoal, apoiada pelos outros integrantes da Loud Noises.
Apoio real ou fantasia?
Voltando à questão do suporte aos indies, Asai faz uma brincadeira, afirmando que seria mais barato alugar um trailer e estacioná-lo nas proximidades da BGS, expondo os títulos independentes usando marketing de guerrilha. Além disso, cita eventos internacionais como a PAX, por exemplo, que teria valores menores que os da BGS e uma possibilidade de retorno muito maior. Ainda, apresenta uma visão bastante negativa sobre as oportunidades que poderiam ser proporcionadas pela feira brasileira.
Ele critica, por exemplo, os dados apontados pela organização – que espera receber mais de 250 mil pessoas e dois mil jornalistas que, na opinião de Asai, não darão a mínima para os indies nem publicarão cobertura na imprensa sobre o assunto. Também comenta sobre as supostas oportunidades de negócios, dizendo que a maioria dos investidores presentes na BGS são empresas de meios de pagamento, anúncios ou publicadoras mobile, de pouco interesse para quem está fora do meio dos celulares.
Além disso, cita o exemplo da Devolver Digital, que esteve presente na Brasil Game Show do ano passado, com um pequeno estande onde estavam presentes títulos como Hotline Miami 2. “Pouca gente foi, ninguém os mencionou e eles não fizeram parceria com ninguém durante a feira”, lembra. Segundo ele, Heavy Bullets, título do brasileiro Terri Vellmann, foi pulicado pela companhia após um contato feito pela internet, e não no evento.
Mais do que isso, o designer aponta que ainda não existe um evento brasileiro que conecte o desenvolvedor independente ao grande público. “Sinto que estamos consideravelmente isolados do restante da comunidade internacional e as movimentações praticadas até o momento para atrair o interesse estrangeiro são feitas com um pensamento deficiente”, diz. “Não temos exatamente lideranças eficientes no nosso setor e estamos sofrendo por isso, embora o cenário futuro seja otimista.”
Resposta oficial
Procurada pelo NGP, a assessoria da Brasil Game Show também deu declarações sobre os problemas apontados por Asai. Em nota, a organização do evento afirma que está, de fato, fazendo algo para beneficiar os indies e que criou o Pavilhão como uma forma de fortalecer o mercado nacional, devido à sua posição como maior feira de games da América Latina.
A BGS nega a informação de que teria mantido informações em sigilo aos expositores, mas diz que a divulgação do valor dos estandes não é uma prática comum. Segundo ela, muitas vezes, as próprias empresas participantes preferem preservar os dados sobre os valores pagos pelos espaços no evento.
Ainda, explica não poder oferecer valores menores que os praticados atualmente devido aos altos gastos estruturais de um evento tão grande, além dos custos envolvidos na criação do próprio Pavilhão Indie.
A Brasil Game Show acontece na cidade de São Paulo entre os dias 8 e 12 de outubro deste ano. Os ingressos já estão à venda.