Torën é um jogo gaúcho, desenvolvido pela Swordtales, e o primeiro título nacional criado com fundos arrecadados pela Lei Rouanet, juntando ao todo R$ 400 mil. O lançamento, finalmente, aconteceu em 2015, após quatro anos de promessas.
Tenho que admitir que, em grande parte do processo, não gostei do jogo. Passei o tempo todo grunhindo diante da tela por causa da frustração causada. Existem coisas ali que incomodam tanto, mas tanto, que me fizeram parar de jogar. Só retornei por que um amigo disse, após ouvir a descrição de que, onde parei, estava quase no final.
E valeu a pena seguir em frente.
Em seu final, Torën amarra toda a história confusa, e a sensação de vencer um antagonista como o Dragão é maravilhosa. A fábula termina com graciosidade, de maneira épica, que te faz sorrir. E eu amo jogos que me fazem sorrir. Porém, quando sentei para escrever essa análise, a primeira coisa que me veio à cabeça foram os bugs. Acho impossível alguém jogar sem se deparar com eles e, acredito que, para sempre, Torën será lembrado como um jogo bom, mas com falhas imperdoáveis.
Cria-se aqui um triste paradoxo. Vendo os jogos nacionais como são, além de toda a tradição de fazer games por aqui, tristemente Torën supera muitos! E, por muito tempo, talvez, servirá de base para o que o Brasil consegue fazer. Por isso, naturalmente, o perdoaremos por tudo, já que, ao mesmo tempo, ele impressiona com sua música fantástica e direção de arte fabulosa. Mas não creio que o mundo vai aceitar isso muito bem.
Torën conta a história da nova tentativa de uma guerreira chamada Moonchild de lutar contra um dragão. Sua derrota a faz retornar ao estágio de bebê, que amadurece e cresce subindo uma torre para lutar contra seu antagonista. O jogo todo trabalha com metáforas e imagens impactantes para contar sua história, e isso é bem legal de acompanhar. Porém, as cutscenes são meio estranhas, com animações muito duras que estragam o momento de assistir a história.
Os cenários são bem agradáveis e as escolhas de cor e efeitos de luz foram bem feitas, criando um clima ao jogo que, combinado com a música, faz tudo ter sentido. Se houvesse mais espaço para exploração, sem dúvida seria divertido ver mais de tudo aquilo. Contudo, a jogabilidade é bastante travada e, como disse, traz alguns bugs e situações tediosas.
Em seu final, Torën amarra toda a história confusa, e a sensação de vencer um antagonista como o Dragão é maravilhosa.
Por tédio, quero dizer que existem momentos de jogabilidade que são obrigatórios e são lentos, como uma animação da protagonista se equilibrando sobre um galho. Não é um desafio de equilíbrio, mas somente uma animação em câmera lenta durante a qual, caso você morra, terá que realizar mais algumas vezes.
A animação em que ela quase cai, por exemplo, é demorada e ocorre frequentemente durante o jogo. Não há como pausá-la e a única opção é esperar que ela acabe para, aí sim, retornar ao game.
Por ser um jogo em terceira pessoa, se esperava uma preocupação a mais com as costas da personagem, algo que não corre em Torën. O cabelo da protagonista fica entrando no corpo e a espada fica meio que voando nas costas, algo que aparece em primeiro plano o tempo todo.
Por outro lado, o antagonista é ímpar. O cara que criou o dragão sabia o que estava fazendo, e o fato de ser ele o único vilão ao longo do jogo é épico! Digno dos clássicos. Você tem que enfrentá-lo diversas vezes até, por fim, vencer. E quando isso acontece, é de forma magistral.
Falando como desenvolvedor que sou, vejo em Torën uma lição. Se ele fixou a linha de um “bom jogo brasileiro”, devemos nos esforçar mais para superá-lo e mostrar que podemos fazer melhor. Não sei se existe espaço e oportunidade para isso, mas podemos dar um jeito. Se a Swordtales conseguiu, mais pessoas podem, e devem, fazer jogos melhores. No final das contas, os dois pontos positivos de Torën tem é o fato de ser um jogo fácil e curto. Por mais que a arte e a música sejam maravilhosas, foi o nível de dificuldade e o tempo de duração que me fizeram jogar até o final.
O game foi analisado no PC, em cópia cedida pela Versus Evil.