A Sledgehammer Games assumiu o novo capítulo da franquia Call of Duty com, ao mesmo tempo, uma missão e uma responsabilidade: revitalizar as coisas. Por mais que a série ainda seja sinônimo de sucesso de vendas e carregue o título de principal produto de entretenimento da história, ela andava mal das pernas, tanto nas prateleiras quanto em influência.
Cabia à desenvolvedora acabar com tudo isso, quando a Infinity Ward, com Call of Duty: Ghosts, já havia afirmado a mesma coisa. Ninguém acreditava. E isso, talvez, tenha sido o principal trunfo da empresa, já que as expectativas baixaram e, por mais que estivesse no comando de um título de tal porte, a desenvolvedora teve um caminho semi-livre pela frente.
E o resultado é um dos melhores Call of Duty dos últimos tempos. Levando a franquia para um futuro não tão distante, Advanced Warfare apresenta uma mistura de realismo e alta tecnologia, muitas vezes errando nessa conta, mas acertando quase sempre quando o objetivo é entregar uma aventura épica e um tiroteio de tirar o fólego.
Não tem como começar a falar de Call of Duty: Advanced Warfare sem falar de um dos principais nomes atrelados ao título: Kevin Spacey. O ator consagrado, vencedor de dois Oscars, empresta sua aparência, voz e interpretação ao vilão Jonathan Irons, que está no comando do maior exército privado do mundo e acaba acreditando que, com todo seu poder, pode ditar os destinos do mundo.
Ele encabeça um elenco composto por veteranos da indústria como Troy Baker – emprestando pela primeira vez sua própria aparência a um personagem -, Gideon Emery e Angela Gots, entre outros, no que é um trabalho primoroso de captura de movimentos, interpretação virtual e, acima de tudo, ambientação. No PC e consoles da nova geração, a qualidade das cutscenes é tão grande que, às vezes, se tem a impressão de estar assistindo a um filme de verdade.
Nas cenas de jogabilidade, também, a situação é frenética. Temos momentos de tiroteio em cima de carros em uma estrada, explosões que lançam estrutura para todo lado e uma perseguição entre soldados até o topo de um edifício abandonado, isso sem falar no tradicional modo multiplayer, que traz a ação de sempre, agora fortificada pelo exoesqueleto. Tudo isso pontuado por um trabalho sonoro impecável, que será sentido de maneira impressionante por quem tiver fones ou um sistema de qualidade em casa.
Tecnicamente, Call of Duty: Advanced Warfare é um jogo bem próximo do perfeito, sem problemas de desempenho, belos gráficos e parte sonora impecável. É claro, certos comprometimentos tiveram de ser feitos para garantir que o jogo funcionasse também no PS3 e Xbox 360, mas o primeiro desenvolvimento feito com a nova geração em foco fez muito bem à franquia. Pelo menos em termos visuais e sonoros, o título traz uma qualidade que há muito não se via, não apenas na série, mas também nas plataformas de nova geração.
É impossível não sentir que, em alguns momentos, a Sledgehammer passou da conta no futuro de Advanced Warfare.
A grande novidade da jogabilidade de Call of Duty: Advanced Warfare é a introdução do exoesqueleto, uma tecnologia militar que está sendo desenvolvida de verdade e tem o potencial de modificar totalmente o cenário da guerra. Como ponto central do enredo, o game usa e abusa desse recurso, tendo segmentos ligados a ele em praticamente todas as fases.
São três tipos diferentes de exos, cada um com funções diferentes. Durante a campanha, você explorará todos eles e, no modo Survival, poderá escolher o que melhor se encaixa com seu estilo para enfrentar as hordas de inimigos. Além dos saltos altíssimos e da força sobrehumana, o esqueleto biônico também garante mais resistência aos tiros, permite ficar invisível e controlar drones à distância. Tudo, garante a Sledgehammer, baseado em tecnologias militares de verdade.
Mas se engana quem pensa que o título é apenas usar superforça e sair pulando por aí. Muito pelo contrário, em um toque surpreendente, a Sledgehammer Games inclui também elementos de furtividade, como uma fase em que chegar atirando para tudo o quanto é lado simplesmente não é opção. Tal momento é curto, e não funciona exatamente bem com a jogabilidade de Call of Duty, mas ainda assim, é mais uma ideia interessante que, com certeza, veremos sendo aprimorada na série.
Nesse sentido, vale citar também as QTEs, que aparecem em quantidade moderada e servem para pontuar, principalmente, as cenas de ação mais intensas. Aqui, as habilidades do exoesqueleto brilham bastante, mas é difícil não acabar incomodado, principalmente, com o tamanho dos prompts na tela. Eles são pequenos e, na cor branca, podem acabar se confundindo com o cenário cheio de elementos, fazendo com que o jogador morra de bobeira simplesmente por não enxergar o comando a ser pressionado.
Apesar de todo o esforço em fazer com que o título parecesse verossímil e realista, é impossível não sentir que, em alguns momentos, a Sledgehammer passou da conta no futuro de Advanced Warfare. Esse exagero e a vontade de mostrar tecnologias que sejam “massa, véio”, inclusive, acabam tornando anticlimático todo o segmento final do jogo. Na necessidade de se superar a cada fase, o game acaba exagerando e transforma o que deveria ser uma intena e frenética corrida pelo destino do mundo em um tiroteio sem sal e pouco memorável.
Não dá para esperar um enredo profundo de um game da série Call of Duty, é claro. Mas também não dá para dizer que ele não tem cenas que ficam na lembrança, como a morte de Ghost ou a cena em que saímos das profundezas do oceano para darmos de cara com uma Nova York destruída, logo no começo de Modern Warfare 3.
Acima de tudo isso, Call of Duty ainda mantém sua identidade. Ao contrário do que muitos comentaram antes do lançamento, não temos aqui uma mera cópia de Titanfall ou uma tentativa de ser Halo.
Em vez disso, Advanced Warfare tenta ficar gravado na lembrança dos jogadores por meio de tentativas óbvias de chocar, como a cena do enterro, logo no início, que causou controvérsia na imprensa internacional. Em vez de mostrar ao jogador o horror da guerr, ou a maneira como ela pode chegar às portas das nossas casas quanto menos esperamos momentos como estes soam patéticos e não passam de tentativas vazias de deixar o jogador estarrecido, sem obter sucesso nisso.
O que se vê aqui, no final das contas, é uma oportunidade perdida, em praticamente todos os aspectos que compõem a narrativa. Temos temas atuais e um cenário bastante semelhante e derivativo dos dias de hoje, além de um elenco de estrelas e gente de extrema competência. O resultado disso, porém, passa longe de ser reflexivo, apavorante ou qualquer coisa do tipo.
O maior beneficiado com toda essa onda futurista, porém, é o modo multiplayer. É curioso notar como algo aparentemente simples, como a presença dos saltos duplos proporcionados pelo exoesqueleto, é capaz de mudar completamente a jogabilidade, juntamente com uma boa construção de cenários.
Agora, os inimigos podem vir de qualquer lugar – e não estamos falando apenas dos humanos no multiplayer, mas também daqueles oponentes controlados pela IA no modo Exo Survival. Assim, é preciso mirar para cima, para os lados e em praticamente todas as direções, algo que tornou um tiroteio que já era frenético em algo simplesmente insano.
Tecnicamente, Call of Duty: Advanced Warfare é um jogo bem próximo do perfeito, sem problemas de desempenho, belos gráficos e parte sonora impecável.
Na mesma medida, matar também se tornou mais fácil. O exoesqueleto chega para dar poder aos jogadores novatos, juntamente com um sistema de matchmaking apurado. Durante nossos testes, pudemos notar algumas falhas no respawn, com oponentes nascendo lado a lado, mas tais ocasiões são raras e, com certeza, serão corrigidas em atualizações futuras.
Acima de tudo isso, Call of Duty ainda mantém sua identidade. Ao contrário do que muitos comentaram antes do lançamento, não temos aqui uma mera cópia de Titanfall ou uma tentativa de ser Halo. Advanced Warfare carrega a identidade da série que representa em praticamente todos os seus aspectos. É sim, uma evolução.
Mas, ao contrário do que a própria Activision afirmava antes do lançamento, não é uma renovação da franquia. Pelo contrário, ainda temos aqui o bom e velho Call of Duty que, apesar dos erros graves, está mais vivo do que nunca. Desde Modern Warfare 3 a franquia não tinha um game tão bom e divertido de se jogar, e é justamente esse o grande ponto positivo aqui. No final das contas, o que os fãs queriam não era uma modificação da franquia, e sim, um retorno das bases que todos aprenderam a gostar. E nessa prova, Advanced Warfare é aprovado com louvor.
O jogo foi analisado no PlayStation 4 e em cópia cedida pela Activision.