Com tantos jogos ambientados em guerras sendo lançados anualmente, às vezes é mais fácil se empolgar com as possibilidade de demolição dos cenários e simplesmente se esquecer das consequências que os confrontos causam em quem vive nas áreas de conflito. Em This War of Mine, no entanto, os desenvolvedores decidiram mudar esse foco ao colocar o jogador no controle de um grupo de civis sobreviventes, em vez dos típicos soldados que desembarcam na cidade apenas para completar sua missão para depois retornar à sua base.
A experiência é tão brutal quanto se pode imaginar. Afinal, enquanto se sobrevive às dificuldades impostas pela guerra, não há muito o que fazer para acabar com ela a não ser esperar que os combates acabem algum dia. E durante essa espera, muito pode acontecer.
Enquanto o exército e rebeldes lutam em toda a cidade de Pogoren, a única opção restante para os civis presos em meio ao conflito é aguardar e sobreviver. Durante o dia, quando os combates são mais intensos, o melhor a fazer é ficar em casa e ajeitar o pedaço para torná-lo mais confortável e mais próximo de um lar, apesar da dureza da situação.
Ao mesmo tempo, durante esse período é necessário gerenciar a comida (que nem todos os dias dá para todo mundo), cuidar de eventuais feridos e doentes, além de ainda produzir móveis e outros utensílios para tornar a vida nessas condições mais suportável.
Durante esses períodos, o jogo se assemelha a uma versão mais sombria de The Sims. Enquanto o dia passa, é preciso cuidar das necessidades de seus sobreviventes, buscando acabar com a sua fome e cansaço, por exemplo. A espera pelo fim do dia também pode ser entediante para seus personagens, então arranjar livros e ouvir o rádio são boas dicas para ajudá-los a manter-se sãos.
Quando o sol finalmente se põe, chega a hora de escolher alguém para vasculhar os terrenos próximos em busca de mantimentos. Como tudo é escasso, é importante visitar cada terreno vizinho em busca de comida, medicamentos e materiais para ajudá-lo a aguentar mais um dia.
Após decidir quem fica em casa (assim como quem dorme e quem toma conta do refúgio), o seu explorador parte para o local escolhido em busca de novos itens para o abrigo. Durante essas buscas, a mecânica de jogo se altera radicalmente, deixando de lado o gerenciador de tarefas para um interessante stealth.
Enquanto muitos jogos transformam a guerra em um show, This War of Mine nos lembra do outro lado: daqueles que não empunham armas e precisam achar um meio de sobreviver a esse inferno.
Como mais sobreviventes podem estar no mesmo local (e nem sempre outras pessoas podem agir pacificamente ao encontrá-lo), é preciso tomar cuidado a cada passo dado. Assim, antes de adentrar qualquer porta, é importante sempre tentar encontrar alguma pista do que se esconde atrás dela olhando através da fechadura ou prestando atenção nos sons a sua volta.
Ao mesmo tempo, a natureza do local também pode oferecer alguma ajuda sobre como se portar. Apesar de não tolerarem invasões em sua base, os militares podem trocar algumas de suas armas caso você leve algo que lhes interesse. No hospital, por outro lado, é mais provável que você vá ser bem recebido a qualquer momento (a não ser que você tenha sido descoberto tentando roubar seu estoque de medicamentos anteriormente. Você não faria isso, né?). De qualquer maneira, independentemente do seu destino, não se esqueça de voltar para casa antes que o sol se nasça novamente. Caso contrário, não será tão fácil retornar com a retomada dos conflitos.
Talvez o maior trunfo de This War of Mine esteja em como ele lida com alguns complicados questionamentos morais. No caso, ao longo dos dias, você será confrontado várias vezes com situações em que pode se arriscar para ajudar outros sem nenhuma recompensa imediata garantida. Ao mesmo tempo, oportunidades para se aproveitar de pessoas indefesas e tomar aquilo que não lhe pertence também aparecem aos montes e cabe a você decidir se vale a pena aproveitá-las em nome da sobrevivência.
Mais do que encontrar recursos, o game testa sua noção de moral e traz consequências bastante drásticas de cada decisão tomada. Na guerra, vale tudo — mas qual o preço disso?
Assim como jogadores diferentes reagirão de maneiras distintas a essas situações, seus personagens também fazem o mesmo. Para o rebelde foragido Roman, por exemplo, matar outras pessoas para ficar com seus pertences não será algo tão perturbador quanto isso será para a jornalista Katia.
Os reflexos de suas ações no seu grupo de sobreviventes (que podem sentir remorso ou contentamento de acordo com os acontecimentos) são também uma forma de trabalhar a complexa carga emocional que a situação apresenta. Afinal, por mais que a cidade esteja vivendo um período de caos, será que todos os seus moradores conseguem quebrar as regras tranquilamente e sair ilesos desta experiência?
Ao mesmo tempo, será que você também consegue esquecer que se trata apenas de um jogo e ficar tranquilo? Se a resposta para essa última pergunta for não, está tudo bem. Afinal This War of Mine está aí para incomodar e lembrá-lo de que, apesar de tudo, uma guerra não é uma brincadeira qualquer.