Realidade virtual não é necessariamente um termo novo. Conhecemos esse conceito já há algumas décadas, mas foi só nos últimos anos que o vimos se materializar, tornando-se algo palpável. Acompanhamos de perto o desenvolvimento do Oculus Rift, o surgimento do HTC Vive e a Sony mostrando o então Projeto Morpheus. Dos três, tive a oportunidade de experimentar o Vive e o PSVR, experiencias que contribuíram muito na minha decisão de investir R$ 3.500,00 nessa brincadeira (Nos EUA, o aparelho custa U$ 499,99).
É inegável a superioridade dos adversários em relação ao produto da Sony, porém, o PlayStation VR conseguiu algo que, a meu ver, é um feito. Ele tornou a experiencia mais acessível, primeiro por ser um acessório compatível com qualquer PlayStation 4, segundo por utilizar recursos já existentes como a câmera e o Move e por fim, oferecer o custo mais baixo.
Vale ressaltar que o PSVR é muito mais amigável para uma experiência “doméstica”, sendo possível usá-lo em um ambiente não muito espaçoso como um quarto ou sala pequena. Isso se dá pelo uso da câmera, que acaba gerando algumas limitações. Enquanto no Vive você pode se mover de forma um pouco mais livre, graças a sensores que devem ser colocado em lados opostos, a cinco metros de distancia entre eles, quase que formando um ambiente, no PSVR é fundamental que você esteja no raio de visão da câmera, entre 1,5 e 2 metros. Sempre que você sair dessa área, um sinal surgirá na tela, dizendo de que é necessário voltar. Isso acaba dando essa sensação de que o aparelho é mais amigável ao uso em lugares mais apertados.
Falando um pouco da construção, o que mais impressiona é a leveza. A Sony conseguiu desenvolver um produto sólido e, ao mesmo tempo, extremamente leve e confortável. A parte interna tem um acabamento almofadado e emborrachado, uma sabia decisão, pois facilita muita a limpeza, já que suar é algo comum dependendo do estilo do jogo. O formato de tiara é muito eficiente e faz com que os óculos em si fiquem pendurados em frente aos olhos, assim não sentimos o peso deles sobre nosso rosto. Visualmente, o PSVR alem de robusto, é muito bonito, parece algo saído dos filmes de ficção cientifica. Com os leds azuis acessos, instantaneamente nos lembramos do filme “Tron”.
Todo o cuidado que a Sony teve na elaboração do dispositivo se reflete, inclusive, na embalagem. Uma bela caixa, com abertura suave, lembrando os produtos da Apple, que segundo a lenda, são projetadas para oferecer uma experiência ao consumidor, não apenas abrigar seu badulaque high-tech. São caixas dentro de caixas, muitos cabos, mas com um manual simples e objetivo. Contando com fios devidamente numerados, o passo-a-passo da montagem rola de maneira simples e intuitiva. Em minutos, tudo está montado e pronto para sua imersão no mundo virtual. O kit também inclui uma unidade de processamento exclusiva para o funcionamento do PSVR, sua fonte de alimentação dedicada, um fone de ouvido e uma flanelinha para limpar as lentes, coisa que temos que fazer com frequência, já que é muito comum encostar as lentes na testa e engordura-las completamente.
Por falta do bundle de lançamento, tive de comprar todos os itens separados, isso não afetou o custo, porém, acabei não recebendo o game PlayStation VR Worlds, uma coletânea de experiências para testarmos as possibilidades do aparelho. Acabei recebendo Batman Arkham VR no lugar e um disco de demos que acompanha o kit. Os jogos são um ponto importante na hora de comprar seu VR. Inicialmente, pensei ter me dado bem trocando Worlds VR pelo Batman, mas diante da experiência curta que o game do morcegão oferece, me senti lesado. Além de que os preços dos títulos por aqui não são muito convidativos; achei jogos sendo vendidos por até R$ 300, sem bonequinho, mapinha, manteiga, nada!
O Playstation VR não é a melhor experiência de realidade virtual disponível atualmente, mas sem dúvida, é a mais acessível.
Por alguns instantes, pensei se deveria gastar dinheiro com os Moves, e felizmente, optei por pegá-los. Eles são parte fundamental nas experiências com mais imersão, como Batman Arkham VR, onde cada controle representa uma mão. Há momentos em que precisamos girar os punhos ou fazer movimentos bem específicos e os controles respondem bem.
Porém, existem alguns problemas de tracking, isso acarreta em tremeliques chatos, que não chegam a atrapalhar nos jogos, mas causam estranheza. Outro ponto negativo dos acessórios é quando nos viramos de costas para a câmera e o tracking se perde, eles tentam se apoiar apenas nos dados fornecidos pelos giroscópios, porém, isso não funciona bem, causando movimentos estranhos e abalando um pouco a imersão.
Em jogos onde utilizamos o controle tradicional tudo corre bem. Porem é um pouco frustrante quando você esta dentro de uma Ferrari, observando minuciosamente os detalhes do painel, retrovisores, estofamento, mas na hora de pilotar não temos um volante na mão. Mas, em contrapartida, pilotar um robô gigante é mais plausível e bem prazeroso. Na parte sonora, um bom fone de ouvido faz a diferença, e os que acompanham o kit são bem básicos, têm excelente isolamento, mas são fracos. Mesmo com o volume no máximo, você ainda sente necessidade de um pouco mais de potência.
Graficamente, os mais exigentes podem se decepcionar com o “poder” do PSVR. Naturalmente, o PlayStation 4 já esta atras dos PCs e os jogos do aparelho acentuam isso ainda mais. Entretanto, a imersão é algo tão impressionante que acaba passando por cima desse detalhe. É como em jogos de mundo aberto, que geralmente têm seu potencial gráfico reduzido em troca de uma mundo imenso e “ilimitado”.
Algo que não tenho como não mencionar são os enjoos e desconfortos causados pela ilusão do movimento. Em jogos com ação rápida como RIGs e Driveclub VR, o desconforto causado pelo motion sickness é real e atinge boa parte das pessoas. O jeito é insistir, nos primeiro 10, 15 minutos ele sempre aparece, mas conforme vamos jogando, a sensação diminui. Fica aqui o alerta, se possível, teste antes de comprar. Acredito que essas sensações são bem pessoais e variam de pessoa para pessoa. Para mim a diversão acabou por superar o desconforto.
Vale ressaltar que o PlayStation VR é muito mais amigável para uma experiência “doméstica”, sendo possível usá-lo em um ambiente não muito espaçoso como um quarto ou sala pequena.
Fazendo uma análise do começo da “era da realidade virtual”, dá para concluir que se trata de uma experiência que agrega muito valor. Infelizmente, o futuro ainda é incerto, e existe uma certa dificuldade de se encontrar o PlayStation VR nas prateleiras, o que pode significar uma boa aceitação pelos consumidores ou receio da Sony em produzir muitas unidades. Mesmo sendo a alternativa mais barata disponível, ainda é uma experiência cara, mesmo para os padrões americanos.
Tanto o Oculus Rift quanto o HTC Vive recebem constantemente vários títulos. É claro que desenvolver para o PC, além de mais fácil, é mais barato, e para o PSVR, é necessário ter o Kit de desenvolvimento da Sony. Resta então é esperar a adesão das grandes produtoras. No final de janeiro, será lançado um dos maiores, senão, o maior titulo fazendo uso dos recursos do aparelho, Resident Evil 7. Com certeza, ele será usado como parâmetro para medir a recepção do publico e para saber se jogos grandes deverão seguir utilizando os recursos.
Por fim, se você é entusiasta de novas tecnologias, tem dinheiro para bancar um passatempo caro, vai fundo e abrace a realidade virtual. Se não, pode esperar até que a tecnologia se torne mais acessível. Até o momento, o PlayStation VR não tem nenhum titulo fundamental ou system seller. Enquanto isso não acontece, sempre dá para se divertir na casa de um amigo que tenha o PSVR ou mesmo em alguns estabelecimentos que oferecem jogatina VR cobrando por tempo, nos moldes da velhas locadoras de game. O Playstation VR não é a melhor experiência disponível atualmente, mas sem dúvida, é a mais acessível.