Ser a sequência de um sucesso é sempre cruel. A cobrança para um novo espetáculo chega com antecedência e, por mais que o resultado seja bom, a expectativa exagerada – injustamente – o derruba. Assassin’s Creed III sofreu com isso antes e sofre novamente agora, em uma remasterização que “ninguém pediu”, dizem.
O argumento é uma bobagem. É sempre bom ter a opção de conhecer as bases que fizeram Assassin’s Creed ser o que é. Rever a história de Ratonhnhaké:ton – ou apenas Connor – e Haytham Kenway sob o filtro atualizado reforça um ponto talvez perdido lá atrás quando o título ainda era novidade. O primeiro capítulo da trilogia das Américas já era bonito originalmente e, na remasterização, conseguiu manter firme a boa impressão. Ao caminhar com os personagens pelas ruas de Boston, desta vez, percebe-se mais coisas ocorrendo ao mesmo tempo no entorno.
É algo que, de certa forma, rejuvenesce os jogos antigos da franquia, ainda que o cerne deles esteja fixado na geração passada. Em Assassin’s Creed 3: Remastered, assim como na remasterização de Rogue, esse conceito melhora não apenas as animações, mas também o gameplay, o tornando um jogo relativamente mais fácil.
Isso vale para todo o seu conteúdo. O remaster vem acompanhado do excelente DLC A Tirania do Rei Washington, e do jogo completo Assassin’s Creed: Liberation – anteriormente exclusivo do finado Vita, e, em 2014, portado para os consoles e PCs. Isso justifica, assim, o download pesado do pacote de pouco mais de 60 GB.
Ainda que ambos os jogos estejam mais bonitos, o que é obviamente já esperado, contudo, a dublagem reaproveitada do terceiro jogo da saga dos assassinos ainda é bastante sofrível. E alguns bugs já velhos conhecidos dos jogos da Ubisoft, vez ou outra, aparecem para dar o ar da graça.
Apesar disso, o maior destaque que o título possui consta intacto. Sua história mais intrínseca e reduzida em escala, considerando o embate milenar entre Templários e Assassinos, ainda é o melhor que o game pode oferecer. O jogo é feito, quase que exclusivamente, para os jogadores que não o conhecem.
Abstraindo, claro, que ele se trata de um remaster – algo que é sempre bom lembrar -, Assassins Creed III: Remastered é fundamental para o fã da série devido ao desenrolar da história paralela de Desmond Miles e por apresentar de uma maneira mais aprofundada um dos mais carismáticos personagens da franquia, que não consta na capa.
Diferentemente da trilogia do Ezio, com toda a sua grandiosidade focada em um único personagem, a trilogia da América, como um todo, muda o tom narrativo que Assassin’s Creed passa a trazer aos seus próximos títulos. E ao jogador que desbrava os novos jogos sem discernir bem sua origem, conhecer os detalhes da relação Templários-Assassinos – aspecto forte tanto neste jogo quanto em Rogue – aqui há um bom material para aprofundar-se na dualidade entre os dois inimigos misturados numa relação complicada de pai e filho.
Assassin’s Creed III é, possivelmente, o mais intimista entre os jogos da franquia, até menos épico. O que fez dele ser considerado erroneamente um jogo sem carisma. Contudo, ter Haytham Kenway como personagem jogável, o princípio dos combates navais – obviamente melhorados nos jogos seguintes –, o foco na Revolução Americana e o próprio crescimento e amadurecimento de Connor como assassino provam que de falta de carisma o título não sofre.
Poder rever esses tópicos na remasterização, que acentuou os bons detalhes e melhorando o gameplay – apesar da dublagem capenga puxando pra baixo –, e aproveitar na geração atual quase todos os jogos da série é um bom caminho para conhecer cada vez mais os mantras do credo, enquanto, desta vez, salta-se do alto das árvores com tomahawk em punho sobre o templário infeliz.
O jogo foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Ubisoft.