Eu realmente queria ter gostado de Assassin’s Creed Chronicles: Rússia. De verdade. Ao trazer um período histórico tão marcante e próximo de nós, personagens conhecidos, um estilo visual diferenciado e todas as respostas de que precisávamos, o terceiro game da trilogia da Ubisoft tinha tudo para ser o melhor dessa série iniciada lá na China. E, de certo modo, ele é. E é curioso ver como, ao mesmo tempo em que o jogo pega tudo aquilo que há de bom nos títulos anteriores, ele ainda consegue falhar em ser divertido.
E a razão para isso é simples. A cada lançamento da linha Chronicles, a gente percebia algumas mudanças aqui e ali nas situações apresentadas, mas a estrutura não evoluía. O estúdio até podia colocar novas situações aqui e ali para tornar as coisas menos repetitivas, mas os jogos ainda se mantinham presos aos mesmos problemas e, com a chegada do último capítulo da franquia, isso fica ainda mais evidente.
Rússia simplesmente não aprende nada com os tropeços de China e Índia, o que faz com que aquilo que deveria ser o impactante fechamento da trilogia se torne algo enfadonho e sem vida. Ele até tenta ser interessante, mas não ousa corrigir suas falhas, se mantém tão engessado quanto seus antecessores e peca naquilo que é mais importante para um jogo, a diversão.
Assim como nos Assassin’s Creed Chronicles anteriores, Rússia insiste em manter o jogador preso a todo o instante. Há um único modo de superar um desafio e isso faz com que tudo fique bastante limitado, tornando o jogo uma cansativa sequência de tentativa e erro. Qualquer deslize para fora do caminho imaginado pela produtora representa fracasso. Não há espaço para o improviso, como acontece na linha principal da série.
É um level design pobre que mata aquilo que há de mais interessante na franquia. E nem a desculpa de que é um game plataforma com ênfase no stealth cola, já que o gênero permite essa liberdade. O que há aqui é uma preguiça de criar múltiplos caminhos por onde o jogador pode seguir, forçando-o a executar tudo de uma única forma. E, depois de três jogos, esse engessamento se torna insuportável — o que justifica o atraso desta análise.
E é muito triste ver isso acontecer aqui. Assassin’s Creed Chronicles: Rússia tinha tudo para ser o melhor game da linha. Ambientado em meio à Revolução Russa, no início do século XX, o jogo traz uma história mais próxima de nós e os personagens mais interessantes. Nikolai Orelov é um ótimo assassino, com boas motivações e um desenvolvimento convincente. Porém, ele acaba sendo completamente ofuscado pela apatia geral do game.
Assassin’s Creed Chronicles deveria ser um respiro à série, mas parece que a própria Ubisoft subestimou o projeto e tratou-o como algo menor, o que fica evidente neste fechamento.
Nem mesmo a adição de uma segunda personagem ajuda a quebrar esse gelo. É muito interessante ver a princesa russa Anastácia (sim, aquela mesma) tendo sua ligação com os assassinos e com os jogos anteriores, mas ela não adiciona nada à jogabilidade. Na verdade, ela se torna ainda mais limitada, já que possui menos movimentos do que Nikolai, o que apenas agrava o engessamento do game.
Além do momento histórico mais próximo de nós e dos personagens interessantes, ele traz também o visual mais impactante até agora. A Ubisoft soube utilizar o estilo visual do país, combinado com a presença das fábricas e de todo o contexto, para criar um efeito sombrio e tenso que diz muito sobre o período retratado. As próprias animações, que simulam cartazes da época, se encaixam muito bem dentro da proposta.
Porém, nada disso é capaz de sustentar um game que vem repetindo os mesmos erros pela terceira vez seguida. Ele não evolui e não corrige seus problemas, o que torna tudo mais cansativo. Ele está longe de ser o pior da série, mas é o que mais demonstra esses sinais de esgotamento da fórmula. Depois de três jogos presos às mesmas amarras, chega uma hora em que é impossível seguir em frente. E é uma pena que isso tenha acontecido aqui.
É curioso ver como, ao mesmo tempo em que o jogo pega tudo aquilo que há de bom nos títulos anteriores, ele ainda consegue falhar em ser divertido.
Assassin’s Creed Chronicles deveria ser um respiro à série cuja fórmula já vinha demonstrando sinais de cansaço. Era uma boa ideia de como explorar o mesmo universo de diferentes formas. Porém, não basta apenas uma boa sacada: é preciso saber executá-la. E Russia é apenas mais uma vítima dessa preguiça criativa que acompanhou toda a linha.
Você percebe o potencial existente ali em vários momentos, mas também nota como nada daquilo é aproveitado. Parece que a própria Ubisoft subestimou o projeto e tratou-o como algo menor, o que fica evidente neste fechamento. O resultado é o que vemos por aqui: um jogo sem vida, cansativo e que não empolga e nem diverte. Tentativa e erro não é algo ruim em um game, contanto que o jogador tenha a liberdade de tentar e errar da forma como ele quiser. Forçá-lo a seguir um único caminho é erro crasso e que não só acaba com a experiência como vai contra tudo aquilo que a própria série sempre pregou. Assassin’s Creed Chronicles: Rússia vai contra o seu próprio credo: nem tudo é permitido.