Quase uma década depois do original, nove jogos da série principal, uma outra dezena de derivados e um período sabático de dois anos desde o último título lançado, Assassin’s Creed retorna prometendo uma reformulação e atualização da franquia. O objetivo era erradicar a fórmula cansada da série, mostrando a origem da irmandade de assassinos e abrindo as portas para novos jogadores.
Neste capítulo, estamos na pele do guerreiro Bayek, pertencente à ordem dos Medjai, que significa “Guerreiro de Deus – Protetor dos Homens”, a guarda pessoal dos Faraós, que por sua vez são tidos como filhos e representantes dos deuses no mundo. Os combatentes gozam de respeito e admiração dentro da sociedade egípcia, seguindo um código de conduta honrado e de respeito por seus irmãos de armas.
Diante de uma conspiração dos altos sacerdotes contra o Faraó e os próprios Medjai, Bayek é forçado a renunciar a todos seus juramentos da ordem, abandonar seu lar e amigos, forjar alianças inusitadas e se reinventar como guerreiro a fim de buscar vingança para si e sua ordem. Porém, toda essa informação só fica clara quase na metade do jogo, ponto extremamente falho no que diz respeito a imergir o jogador no mundo que rodeia Bayek e expor suas motivações.
Logo de início, em uma CG, vemos Bayek em seu posto de guarda Medjai, contemplando o Faraó Ptolomeu adentrando a cidade de Siuá. Na sequência, já em outro tempo e lugar, o guerreiro assassina um dos altos sacerdotes enquanto exclama juras de vingança e de negação contra seu posto de guarda.
As mudanças na jogabilidade aproximam Assassin’s Creed Origins das convenções vistas atualmente em RPGs ocidentais, tais como The Witcher 3 e Horizon: Zero Dawn.
Então, não mais que de repente, somos jogados em uma arena para enfrentar um guerreiro que se declara guarda costas do alto sacerdote que acabamos de ver ser morto. Após a luta e depois de passar por algumas tumbas, nos encontramos, aparentemente, com um antigo amigo de Bayek e descobrimos que, entre a cena do Faraó chegando a Siuá e o momento atual, se passou quase um ano.
Diante da confusão inicial, de tantas informações aleatórias jogadas em diálogos com personagens que aparentemente são queridas e importantes para o protagonista, mas que, para o jogador, não passam de aleatórios, fica bem difícil se importar com as motivações iniciais da trama.
Sendo de longe o mais belo e mais bem detalhado game da série, Assassin’s Creed Origins abusa das ferramentas da engine proprietária da Ubisoft, a AnvilNext 2.0. Com isso, foi criado um ambiente vasto e totalmente explorável até onde a visão alcança, repleto de construções que, ao menos para um leigo em arquitetura da época, representam muito bem o antigo Egito e a forma como a civilização da época ocupava o Vale do Nilo.
Quando se pensa no Egito, automaticamente nos lembramos das enormes pirâmides presentes na região, legado da era em que os Faraós reinavam. Seus respectivos túmulos, saqueados e depredados ao longo dos séculos, aqui são representados na época em que sua beleza arquitetônica ainda resplandecia.
As cidades e localidades, sejam elas pomposos templos ou humildes vilarejos, são sempre cheias de vida, com seus moradores e ocupantes atarefados e convincentemente se movendo de um local para outro. Até mesmo crianças, que em jogos anteriores foram ignoradas, aqui estão presentes como qualquer outro habitante da cidade.
Por incrível que pareça, mesmo as áreas desérticas entre as localidades, por onde nos deslocamos a pé, a cavalo ou com camelo, são belíssimas, com dunas que se movem com o vento, oásis e acampamentos de bandidos com tesouros escondidos. Até mesmo as miragens estão muito bem representadas no jogo.
Já as áreas navegáveis são claramente de outro título da franquia, Assassin’s Creed IV: Black Flag, mas aparecem de forma simplificada. Nada surpreendente, uma vez que Origins foi desenvolvido pela mesma equipe.
A jogabilidade da série Assassin’s Creed sempre foi, apesar de funcional, bastante burocrática e repetitiva. Nos jogos mais recentes, até mesmo alguns comandos como a escalada foram automatizados, visando simplificar a navegação, o que fez também com que a repetição ficasse ainda mais evidente.
Origins consegue trazer atualizações bem-vindas à série, mas não é tão original assim diante do potencial da franquia.
Diante da confusão inicial e de tantas informações aleatórias jogadas em diálogos, fica difícil se importar com as motivações da trama.
Ao mudar isso tudo, Origins se aproxima mais das convenções vistas atualmente em RPGs ocidentais, tais como The Witcher 3 e Horizon: Zero Dawn, no que diz respeito a como se interage com o mundo e seus NPCs.
A árvore de evolução de habilidades do personagem, que já tinha sido vista no titulo anterior, Assassin’s Creed: Syndicate, aqui é maior e mais variada, se valendo tanto dos pontos de experiencia adquiridos como também da grande quantidade de armas e equipamentos disponíveis, todos dependentes do nível do personagem.
Uma das grandes mudanças na jogabilidade é a presença da águia de estimação Senu, que substitui o sistema antigo, onde víamos a silhueta dos inimigos através das paredes. O animal sobrevoa nossa área de ação, marcando inimigos e encontrando materiais e itens importantes, infelizmente, com uma interface incoerente com a temática do restante do game.
Os equipamentos e armas agora podem ser encontrados, comprados ou até construídos mediante a aquisição de materiais específicos. Uma vez no menu, é possível comparar atributos, vantagens e desvantagens de cada item, como em qualquer RPG, mas, mais uma vez, a interface de navegação pelo menu peca e muito na acessibilidade e funcionalidade, falha recorrente em toda a série.
Sem dúvida, a mudança mais notória na jogabilidade está na forma como os combates se dão, muito mais ágeis e dinâmicos, variando suas animações dependendo do armamento empunhado, mas não a forma como se joga. O combate montado também está bem divertido e bonito de se ver.
Assassin’s Creed Origins faz bom uso do tempo em que esteve fora dos holofotes e consegue trazer atualizações bem-vindas à série, se aproximando de outros títulos de peso mais atuais. Porém, com um potencial tão latente nas possibilidades da série, não é tão original assim, carecendo de novidades e não apenas adaptações de mecânicas já conhecidas. A dublagem brasileira presente também deixa a desejar, se distanciando da qualidade de títulos anteriores.
Origins é um bom jogo, mas faltou um pouco para nos proporcionar aquele sentimento de “caramba, estava com saudade de Assassin’s Creed”.
Assassin’s Creed Origins foi analisado no PS4, em cópia cedida pela Ubisoft.