Se os lançamentos anuais parecem ser o grande problema de Assassin’s Creed, os DLCs se revelam como o verdadeiro elo frágil da série. A cada novo lançamento, somos brindados com uma expansão meia-boca e que parece ter sido feita a toque de caixa apenas para estender o game por mais algumas horas, por mais que esse período extra esteja longe de ser minimamente divertida. Basta olhar o que tivemos nas últimas edições para confirmar esse triste cenário.
Porém, assim como Syndicate conseguiu resgatar a confiança dos fãs com a franquia, seu primeiro DLC foge dessa infame regra e traz uma expansão que realmente vale a pena ser conferida. E não apenas por trazer a figura icônica e misteriosa de Jack, O Estripador para a mitologia dos assassinos, mas pelas novidades introduzidas à mecânica e também pela ousadia como esse episódio nefasto da História foi incorporado ao game.
Temos, enfim, o melhor DLC de Assassin’s Creed em anos — não que isso seja algo muito difícil de acontecer, na verdade.
Temos, enfim, o melhor DLC de Assassin’s Creed em anos — não que isso seja algo muito difícil de acontecer, na verdade.
Jack The Ripper se passa vários anos após os eventos de Sindicate. Só que isso não significa que a cidade passou por grandes transformações. Na verdade, a capital britânica parece ter piorado desde que vimos os gêmeos Frye pela última vez. E parte disso está exatamente na figura de Jack, O Estripador.
Com poucas informações sobre ele além de seu prazer mórbido em matar prostitutas na calada da noite, toda a polícia londrina segue em perseguição à sua figura — ainda mais quando os seus métodos se assemelham tanto aos dos assassinos que a gente conhece. E é aí que vemos o retorno de Evie e Jacob, que voltam de uma temporada na Índia muito mais velhos, habilidosos e com alguns truques a mais na manga.
Em Jack The Ripper, os protagonistas contam com novas formas de atuar em meio à multidão, atacando seus inimigos de modo a intimidar quem estiver à sua volta. Um novo medidor de pânico é adicionado e, dependendo do modo como você parte para o combate ou dos equipamentos utilizados, pode evitar um confronto direto simplesmente ao brincar com o psicológico deles.
É o tipo de recurso que difere bastante do que estamos acostumados a ver na série e adiciona novas camadas estratégicas às missões. E se trata de algo tão simples e interessante que não é de se duvidar de que veremos algo assim aparecendo futuramente na franquia, uma vez que isso destaca ainda mais o fator stealth que Syndicate resgatou.
No entanto, brincar com o medo alheio ganha novos contornos principalmente quando passamos a controlar Jack. Sim, o famoso Estripador é um personagem jogável dentro do DLC e isso deixa as coisas ainda bem mais interessantes. Em termos de jogabilidade, ele se difere bem pouco daquilo que Jacob já fazia, sendo apenas um pouco mais brutal em sua movimentação. Ainda assim, os momentos em que ele protagoniza a história roubam a cena exatamente pelos efeitos e pela transformação pelo qual o jogo passa.
Jack The Ripper é um DLC bastante completo, servindo como uma ótima expansão para quem procura algumas horas a mais de exploração na Londres Vitoriana de Assassin’s Creed: Syndicate. Ao todo, são 10 missões a mais na campanha principal, além de uma série de outras tarefas secundárias. Isso garante algumas boas horas a mais por entre as ruas da capital britânica e seus edifícios superpovoados.
E, como estamos falando de um dos assassinos mais misteriosos de todo o mundo, isso significa que você vai passar um bom tempo bancando o Sherlock Holmes por aí. Em sua jornada em busca do Estripador, será preciso desenvolver seu lado detetivesco para analisar as cenas do crime em busca de provas. E esses são os momentos mais divertidos de todo o extra.
Essas investigações lembram bastante aquilo que vimos em outros games, sobretudo na série Batman: Arkham, em que o jogador precisa recriar os momentos do ataque para entender o que aconteceu. E isso envolve utilizar praticamente todas as habilidades dos heróis, como a agilidade de escalar construções para ver tudo a partir de um ângulo diferenciado quanto se aproveitar da visão aquilina para enxergar o que pessoas não conseguem.
Isso traz uma variedade muito interessante à toda jogabilidade, já que nem tudo se limita apenas a matar um alvo ou invadir um local. Na verdade, esses momentos mais tradicionais dentro da série Assassin’s Creed são os pontos mais fracos de todo o DLC. Em Jack The Ripper, você sente em vários momentos que o game está enrolando apenas para que a campanha dure alguns minutos a mais. E o resultado é apenas uma fadiga e uma vontade de largar tudo pela metade. Muitas dessas missões poderiam ser muito mais curtas que não iam prejudicar em nada o andamento da trama e o ritmo ia ser bem melhor.
Na verdade, ao fazer isso, a Ubisoft poderia ter se dedicado um pouco mais à sua história. Ainda que tenhamos um contexto bem peculiar, Jack The Ripper tropeça ao não saber explorar isso de uma maneira interessante em termos narrativos. Ele consegue deixá-lo curioso e intrigado em muitos momentos, mas entrega o ouro logo cedo e acaba com todo o clima de mistério. O que poderia ser uma grande história de investigação com direito a enormes reviravoltas se torna algo previsível e que termina sem mais nem menos. Não é preciso entrar em detalhes, mas é impossível não se decepcionar com a forma como tudo se conclui.
A principal estrela é a jogabilidade. A Ubisoft conseguiu renovar alguns elementos e adicionar novas camadas de estratégia.
A impressão que fica é que tudo foi terminado às pressas e, no fim, a figura do Jack, O Estripador é apenas desperdiçada em mais um personagem histórico que surge sem grandes impactos à série. Há um enorme potencial, mas que não é bem aproveitado para enriquecer a trama.
Mesmo deslizando na parte narrativa, Jack The Ripper é uma excelente expansão para o que vimos em Assassin’s Creed: Syndicate. Ele consegue se aproveitar muito bem dos ótimos elementos do game original e dar continuidade ao game. Rever os irmãos Frye mais velhos é uma sacada muito boa e nos ajuda a ter uma noção do que aconteceu com eles após vencerem os templários em Londres — além de ligar com elementos que podemos ver em outros jogos.
No entanto, a principal estrela desse DLC é a jogabilidade. A Ubisoft conseguiu renovar alguns elementos e adicionar novas camadas de estratégia. Brincar com a figura de Jack, O Estripador e usar isso para colocar intimidação e controle do medo na mecânica foi um grande acerto, ainda mais ao valorizar o stealth e os elementos estratégicos do jogo.
Assim, por mais que Jack The Ripper não seja algo memorável, tem pontos muitos bons e ousadias que o despontam como o melhor DLC de Assassin’s Creed até agora. Ele expande de verdade o game, adiciona novos elementos e não tem medo de arriscar. Poderia ser melhor caprichado em sua trama e na forma como ela é conduzida, mas ainda vale as horas adicionais pelas ruas de Londres.