Muita gente ficou empolgada quando a Codemasters começou a dar indicações de que um novo GRID estaria por vir e, quando o anúncio finalmente acontece, esse sentimento foi substituído por surpresa com o fato de que o título ainda sairia para PlayStation 3 e Xbox 360. A nova geração já estava por aí, mas a missão da desenvolvedora era entregar o melhor da velocidade ainda nos velhos consoles, aproveitando-se de toda a experiência acumulada, antes de seguir em frente.
A promessa foi cumprida. GRID Autosport chegou às lojas trazendo uma jogabilidade variada, corrigindo erros do passado e, acima de tudo, dando um último respiro bastante digno para os fãs da velocidade, principalmente aqueles que ainda não compraram um PS4 ou Xbox One ou sentem falta de jogos de corrida nas novas plataformas.
Se você olhar a oferta de jogos da Codemasters lançada ao longo do tempo, verá que a empresa apresenta uma grande variedade de games. Além da série GRID, temos os títulos de rally da franquia Dirt, a corrida altamente técnica e veloz de F1 e até jogos de mundo aberto como Fuel e ou focados na zueira como Dirt Showdown. Em Autosport, é como se todos esses estilos se unissem em um só.
Logo de início, o jogador recebe uma breve introdução e, após a primeira corrida, já pode escolher entre cinco modalidades diferentes de automobilismo. Temos desde as corridas de rua, com seus drifts e eventos especiais, até os monopostos e sua direção leve, rápida e extremamente apurada, passando por provas mais longas, corridas com carros de passeio e veículos tunados.
Cada “disciplina”, como é chamada, exige um tipo diferente de jogabilidade e cuidado com o carro, e é quase como se o título mudasse completamente a cada modo escolhido. Você pode até estar disputando provas nas mesmas pistas, mas o estilo entre cada modalidade é completamente diferente, o que contribuiu para uma bem-vinda variedade e abrangência.
Essa variação se reflete até mesmo na forma como o jogador observa cada corrida. É claro, isso vai de cada um, mas existem momentos em que a melhor pedida é a visão da traseira do carro, enquanto em outros, é essencial ter o mesmo olhar do piloto e participar da corrida com a vista de dentro do carro – um dos retornos mais pedidos pelos fãs, atendido prontamente pela Codemasters.
Cada estilo é dividido em temporadas, que simulam a ascensão de um piloto desde as categorias de base até o topo do mundo do automobilismo. E acredite, elas são muitas, proporcionando muitas e muitas horas atrás do volante, com desafio, complexidade e dificuldade crescente, na mesma medida em que o piloto vai aprimorando as próprias habilidade.
Antes de começar a correr, o jogador deve escolher entre equipes de patrocinadores, que fixarão as missões de cada temporada. Aqui vale um porém, já que muitas vezes, o jogador tem a opção entre apenas duas escuderias e fica preso aos veículos determinados por elas. A ideia é limitante e acaba deixando o jogador na vontade de experimentar o grande rol de veículos disponíveis em GRID Autosport.
Ao criar GRID Autosport, a Codemasters não quer ir nem tão ao norte, nem tão ao sul. Apesar do objetivo ser a reprodução de uma carreira no automobilismo, a ideia não é ser tão técnico quanto nos games da série F1, por exemplo, nem abraçar a galhofa de Dirt Showdown ou Need for Speed e criar títulos mais arcade. O meio termo é um terreno espinhoso, que pode resultar em um jogo sem identidade, mas é um enrosco do qual a empresa conseguiu sair.
A jogabilidade foi criada de forma que os pilotos mais técnicos, daqueles que têm volante em casa e brigam por tempos nos rankings online, tenham vez, assim como os novatos que só querem correr um pouquinho e se divertir. Basta saber mexer com as opções disponíveis, que não são muitas, e personalizar a experiência como melhor lhe convêm.
Isso se dá por meio de alterações na dificuldade, que se traduz em mais ou menos habilidades para os oponentes, bem como ajustes na jogabilidade, os famosos “Assists”. É possível ligar ou desligar os freios ABS, o controle de tração, a linha que indica o momento de frear e o melhor caminho pela pista e até mesmo as informações exibidas na tela. Em casos mais extremos, dá também para ativar um auxílio automático nas curvas ou até mesmo a redução automática da velocidade, permitindo que os mais braçudos joguem apenas controlando o acelerador e o volante.
Há, porém, um incentivo ao aperfeiçoamento, que se dá na forma de multiplicadores de experiência. A cada corrida, o jogador obtém um determinado número de pontos de acordo com sua posição e os objetivos alcançados. Esse total pode ser aumentado caso o usuário esteja com assists desligados ou uma maior dificuldade configurada para os oponentes. A ideia é que o jogador, aos poucos, vá desligando as assistências até chegar ao nível mais alto de pilotagem, sendo recompensado de acordo com isso.
Tudo isso é bastante interessante, porém, fica faltando um pouco mais de graduação. Ao contrário de F1 2013, GRID Autosport permite apenas que auxílios como a assistência em curvas, por exemplo, sejam ligados ou desligados. Ou seja, ou o jogador segue com essa função no máximo ou aprende a se virar sem ela. Um sistema em que esse tipo de coisa pudesse ser reduzida aos poucos faria muito bem à jogabilidade.
Esse tipo de radicalismo também se reflete na assistência de freios, com a qual é impossível obter um bom tempo na qualificação e ultrapassar os oponentes na prova, a não ser que a dificuldade esteja em Very Easy. Mais uma vez, o título se configura em um passeio onde praticamente só se usa o volante ou, caso contrário, você terá que bater muitas vezes até aprender coisas como pontos certos de frenagem ou como trabalhar a linha ideal da pista.
Dessa forma, GRID Autosport pode se tornar uma experiência punitiva para os novatos, que verão pouco incentivo para crescer em um jogo que praticamente não possui uma curva de aprendizado. Justamente o oposto de sua proposta principal, que é mostrar um piloto de seus primeiros passos até a consagração.
A risada tipicamente brasileira tão conhecida das internets vale perfeitamente para descrever o modo online de GRID Autosport. Foram anos e anos de games lançados e, até agora, a Codemasters ainda não encontrou uma maneira de conter a ação dos engraçadinhos, deixando-os livres para estragar a corrida de quem deseja pilotar direito pelas pistas virtuais.
As competições conectadas até são interessantes, com objetivos específicos e diferentes do game “normal”, com um sistema de compra venda de carros que lembra até Gran Turismo. Mas tudo isso vai completamente para o buraco quando se vê um adversário literalmente passando por cima de você com o carro. Ou, o que ocorre ainda mais frequente, simplesmente brotando do chão na sua frente devido ao lag, que acaba de invalidar sua ultrapassagem e, junto com ela, toda a corrida.
Apesar do pouco tempo desde o lançamento do game, existem grupos de jogadores online dedicados exclusivamente a estragar a corrida dos outros, seguindo nas pistas em contramão ou obstruindo completamente o asfalto com seus carros. Caso você consiga ultrapassar esses “bullies” digitais, inicia-se uma série de desconexões em massa que acabam encerrando a partida.
São problemas que poderiam ser resolvidos de maneira relativamente simples, com a implementação de um sistema de reputação, por exemplo. Inexplicavelmente, a Codemasters dá essa bola fora mais uma vez e acaba prejudicando um dos aspectos que mais traria longevidade a GRID Autosport.
Diante de propostas mais recentes como Forza Motorsport 5 ou os vindouros Driveclub ou Project CARS, por exemplo, muitos poderiam pensar que GRID Autosport acabaria defasado, sendo pior do que poderia ser. Isso é uma mentira absoluta e, com o game, a Codemasters mostra tudo o que aprendeu em todos os seus anos de existência.
Os gráficos, claro, não apresentam a beleza que poderia existir no PS4 e Xbox One, mas não deixam devendo em nada a outros games do PlayStation 3 ou Xbox 360. Existem serrilhados aqui e ali, problemas de texturas acolá, mas o conjunto visual é de primeira e efetivamente impressionante, como poucos vistos na história dos consoles.
Na mesma medida em que os gráficos de GRID Autosport são um ponto de destaque, o áudio é completamente o inverso. Fica difícil não se chatear com os sons de motores pouco diferentes entre si, que não refletem o funcionamento real dos veículos e, muitas vezes, se parece mais com um zumbido. Ponto para o cuidado com modifica-los de acordo com a visão escolhida para a corrida, mas ainda assim, mesmo sem ser um simulador, o título poderia apresentar mais realismo nesse quesito.
Mas, acima de tudo, fica a sensação de que a Codemasters aprendeu com os erros do passado e, cada vez mais, faz por merecer o posto entre as principais desenvolvedoras de games de corrida do mundo. A empresa sabe onde agradou e percebe aquilo que não agradava aos fãs, tentando melhorar a partir disso.
GRID Autosport, apesar de ser um jogo da geração passada, não carrega esse ar. Muito pelo contrário, é a prova da competência de sua desenvolvedora e o fim de uma corrida de muita competência para nossos velhos consoles, além de um olhar de esperança sobre o que o futuro nos reserva. Então, vamos acelerar pela última vez e ficar ansiosos para a próxima temporada.
Este game foi analisado no PlayStation 3.