É sempre difícil seguir adiante em um mundo cujas convenções parecem tão solidificadas na mente das pessoas. A Telltale que o diga. Com o universo corrente da DC Comics nos cinemas e uma trilogia de incrível sucesso com o Homem-Morcego ainda fresca na cabeça dos fãs, soa um tanto quanto difícil inovar. Isso é algo que, entretanto, ela vem conseguindo fazer ao longo de toda sua saga com Batman, apesar de esse mojo, aparentemente, estar começando a chegar ao fim.
O segundo capítulo de Batman: The Enemy Within traz de volta o personagem confiante de vimos no primeiro episódio. Em “O Pacto”, mesmo diante de dilemas que envolvem os problemas de confiança com o Comissário Gordon e um novo, mas pouco convidativo auxílio prestado pela Agência, liderada por Amanda Waller, o Morcego ainda soa disposto a resolver tudo sozinho. Algo que ele logo percebe não ser o melhor caminho, pois do outro lado, está Bane.
O vilão sempre aparece acompanhado de más notícias para o herói, e aqui não é diferente. Logo nos primeiros momentos do episódio, Bane e Batman entram em um conflito que termina pior para o Homem-Morcego. Aqui, também, aparecem os primeiros sinais de que a inspiração da Telltale para esta saga pode estar chegando ao fim.
Desde sempre, a desenvolvedora vem caminhando em um terreno que é, às vezes, distante da noção que temos sobre os personagens e, em outros, incrivelmente próximo. Sendo assim, soa estranha a caracterização de Bane quase como um “luchador” mexicano, um brutamontes esquisito e até meio burro, que aparenta estar com certo controle sobre as coisas, mesmo que a gente não entenda muito bem os motivos.
É uma aparição bem diferente daquela que vimos recentemente nos cinemas, mas que também difere do background que une força e inteligência, como temos nos quadrinhos originais. Se há alguma inspiração nas páginas, e se formos ser puristas aqui, ela parece residir na recente série “Batman 66”, que trouxe para as revistas um visual inspirado na série do herói dos anos 1960. Ou seja, trata-se, quase, de uma paródia.
Quando o assunto é o Batman, inovar é sempre difícil. A Telltale vinha conseguindo, mas agora, parece que esse mojo está chegando ao fim.
Quando se continua a jogar o capítulo, porém, dá para entender um pouco porque o personagem foi mostrado de maneira tão estranha – e ela serve, única e exclusivamente, ao próprio roteiro. Mais uma vez, somos colocados em uma situação na qual o Batman não é o melhor curso de ação, pelos ferimentos que sofreu, restando Bruce Wayne como a única peça restante para que as engrenagens continuem a rodar.
Em O Pacto, isso se traduz em uma esquisita aliança com os vilões. Com a ajuda do Coringa, o milionário entra no covil das cobras e passa a auxilia-los, baseado em uma premissa meio fraca de que ele “não é tão bondoso assim”.
E, o mais impressionante de tudo, é que todos parecem cair como patinhos. Mais uma vez, isso faz sentido quando levamos em conta o brutamontes idiota em que Bane se transformou, mas nem tanto quando consideramos que o restante desse trio é composto por Sr. Gelo, um médico extremamente inteligente, e Arlequina, que pode não ter educação formal, mas se mostra uma bandida das mais espertinhas e cruéis.
Ao final das pouco menos de duas horas que levamos para finalizar o segundo episódio de Batman: The Enemy Within, ficou um gostinho amargo.
Aqui está o que pode ser o maior trunfo criado pela Telltale, mas também a verdadeira queda do morcego. Tudo, ao que parece, é um grande joguete do Coringa, que ainda não assumiu a faceta do palhaço e se assemelha muito com o manipulador que vimos na primeira temporada. Porém, ele brinca não apenas com Wayne, mas também com os vilões em si, que por algum motivo, também parecem depositar sua confiança nele.
Por outro lado, pode se tratar simplesmente de uma forma bem estranha de fazer com que a história continue mesmo com os ferimentos sofridos por Batman logo no início, além de uma maneira bisonha de aplicar o conceito de que a pancadaria não é tudo, que a gente vem acompanhando desde a primeira temporada. As cartas estão lançadas, e levando em conta o que vimos em termos de diálogo e encaminhamento em “O Pacto”, eu apostaria no pior.
O segundo capítulo passa longe dos momentos interessantes a que estamos acostumados, e tirando um diálogo bastante interessante entre Wayne, Arlequina e Coringa, o restante é incrivelmente previsível em termos de andamento e até conflitos. Temos, mais uma vez, uma decisão daquelas que soam definidoras, mas depois de tanto tempo, sabemos que suas repercussões provavelmente não serão nada profundas, como já é de praxe nos jogos da Telltale.
Este episódio de Batman: The Telltale Series também traz alguns dos mesmos problemas que estamos apontando desde a primeira temporada. Felizmente, desta vez, não encontramos os travamentos e quedas na taxa de frames durante a jogatina, mas em compensação, as legendas em português simplesmente não funcionaram na primeira vez que tentamos iniciar o game.
Foi necessário reiniciar o console para que o game reconhecesse a localização, que ainda aparece com os velhos problemas de sincronia e com legendas em inglês surgindo aqui e ali. Mais uma vez, elas surgem em momentos importantes da trama e podem atrapalhar o entendimento da trama por aqueles que não falam a língua.
Em “O Pacto”, vemos de verdade, e pela primeira vez, um universo que se torna cada vez mais rico e cujas apostas se tornam mais altas na medida em que o Batman ganha experiência e encara alguns de seus vilões mais perigosos. Ao mesmo tempo, entretanto, o capítulo é o primeiro sinal claro de cansaço por parte da Telltale, que parece estar começando a perder a mão em termos narrativos.
Ao final das pouco menos de duas horas que levamos para finalizar o episódio, ficou um gostinho amargo. Resta saber, agora, se a próxima bolacha desse pacote será melhor, e estávamos apenas diante de uma que veio meio esquisita, ou se ela vai confirmar que a embalagem, como um todo, veio imprópria, de fábrica, para o consumo.
O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Warner Bros. Games.