Um dos principais méritos da série Batman produzida pela Telltale foi a exibição de um personagem que vai além da capa. Se na primeira temporada os ataques que mais doeram foram os que atingiram quem está por baixo do manto, na segunda o Morcego se vê em um ensejo no qual sua atuação como Bruce Wayne parece ser mais significativa do que qualquer soco desferido pelo seu alter-ego.
Recuperando-se um episódio anterior bastante fraco, o terceiro capítulo, Máscara Partida, apresenta um bom miolo para uma série dedicada inteiramente à história, mas que vinha pecando justamente nesse aspecto. As alianças bizarras entre personagens e representações que não fazem sentido retornam aqui, mas agora, são o cenário de um jogo de cartas que deixa tanto o jogador quanto o próprio Wayne intrigados.
A grande surpresa, aqui, acaba sendo o retorno de uma história que não é necessariamente consistente, mas sim, que apresenta a profundidade e a relevância a que os fãs já se acostumaram. Menos preocupada em chocar e mais em desenvolver o mundo que criou, a Telltale diminui o ritmo e joga muito do foco nas relações entre seus protagonistas.
Isso nos leva, por exemplo, a mais momentos em que Wayne precisa tomar decisões morais ou tem sua lealdade colocada sob fogo. Afinal de contas, ele está disfarçado no covil dos vilões e isso o leva a ter que assumir certas posturas de forma a manter a farsa, ou então, colocar tudo a perder para fazer o bem. Como sempre, estamos falando de Telltale, então, não espere opções que efetivamente mudem as coisas, mas sim, momentos de dúvida que trazem profundidade a toda a situação.
O retorno de uma velha aliada, a Mulher Gato, só complica ainda mais as coisas. Aqui, estamos falando de uma conta que, agora, envolve também sentimentos pessoais e até um pouco de bobice da parte do protagonista – e também dos roteiristas – que não conseguem escrever um diálogo entre os dois sem que exista a abordagem do sentimento romântico. É claro, isso é muito forte entre eles, e a dupla, aparentemente, não sabe a hora de parar.
Retornaram também os diálogos interessantes entre Bruce Wayne e John Doe. Novamente, um dos pontos mais interessantes da temporada é o fato de o protagonista saber menos que o jogador nesse caso – você sabe que aquele homem bizarro de cara pintada é o Coringa, mas mais ninguém tem essa informação. Chega a ser surreal, mas também, muito interessante, sabermos que, muitas vezes, é ao lado dele que precisamos agir e contar.
Outro segundo momento estrelado é a troca entre Arlequina e Wayne, já no final do capítulo. É aqui que, mais do que nunca, surge um dos grandes propósitos da Telltale ao colocar o milionário no meio de seus maiores inimigos. Ele não apenas está confiante de suas capacidades e desconhece os inimigos, mas, também, pode estar em um jogo criado por eles.
Recuperando-se do anterior, o 3º capítulo de Batman: The Enemy Within apresenta um bom miolo para uma série dedicada inteiramente à história, mas que vinha pecando bem aí.
O roteiro nunca deixa exatamente claro se a rival acredita ou não nas palavras do herói ou se, efetivamente, comprou a história de que o mocinho se voltou para o lado do mal. Estaria ela encantada por ele ou apenas criando mais um joguete para conquistar não apenas sua afeição, mas também a do jogador?
É uma pena que, justamente neste momento, os problemas de localização a que já estamos acostumados desde o começo dessa série também apareçam. Textos em inglês aparecem no lugar do português, enquanto a versão em nosso idioma apresenta alguns erros que podem dificultar a vida do jogador.
Esse aspecto vem para fechar com chave de cocô um capítulo que, durante todo o tempo, parece evoluir também em níveis técnicos. Os detalhes visuais melhoraram e os personagens principais apresentam boas expressões faciais, apesar de falhas na sincronia labial e movimentação. A textura de couro nas roupas de Wayne e Arlequina parecem ter recebido um cuidado todo especial, por algum motivo.
Máscara Partida termina com um cliffhanger, sim, mas não daqueles que deixam o jogador roendo as unhas. Pelo contrário, temos aqui algo que parece lembrar bastante o seriado de Batman dos anos 1960, com Adam West, mais uma demonstração das diferentes fontes nas quais a Telltale bebe para criar suas tramas.
Mais do que isso, entretanto, o capítulo representa um retorno da empresa às suas bases. Não é suficiente para afastar o gosto amargo deixado pelo anterior, que criou a trama meio esquisita que continuamos acompanhando, mas serve para evoluir a história bizarra já criada. Mais uma vez, terminamos do mesmo jeito, com a expectativa de um caminho muito bom ou de uma ruindade sem tamanho. Resta saber por qual rota a Telltale vai seguir a partir daqui.
O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Warner Bros. Games.