O mundo de qualquer um depende da ordem. Para manter a sanidade mental, fazer com que as engrenagens continuem a funcionar e, principalmente, permanecer forte para lutar pelo que é certo. E, na maioria das vezes, essa ordem está relacionada àquilo que nos é mais sagrado, sejam amigos, família ou posição social. O que acontece, então, quando somos extirpados de tudo isso?
O terceiro capítulo de Batman: The Telltale Series, Nova Ordem Mundial, chega para provar que tudo será diferente. Se a série, como um todo, já vinha focando nos golpes que doem mais no personagem, agora, o episódio vem para quase que completar a desconstrução completa das bases que transformaram Bruce Wayne no Batman. São problemas que, mais uma vez, mostram que a habilidade no combate faz pouco diante de forças que parecem muito mais poderosas que o herói.
Na terceira parte, a história de Batman: The Telltale Series dá uma freada. Isso não quer dizer que coisas importantes deixem de acontecer, muito pelo contrário, mas sim, significa que a trama adquire um ritmo um pouco mais lento. Os diálogos e as relações entre personagens, aqui, ganham um peso especial na medida em que Bruce vai perdendo suas bases pouco a pouco.
Fica claro, mais do que nunca, que a Telltale possui uma história muito bem definida para contar, o que contrasta com sua proposta de escolhas e controle sobre o enredo.
Isso acontece, curiosamente, em um capítulo onde controlamos Batman bem mais. Isso, entretanto, não se traduz em uma grande quantidade de cenas de ação. Mostrando que a força bruta simplesmente não é a solução, o Homem-Morcego é colocado como o agente das atitudes e relacionamentos que o bilionário simplesmente não pode ter, em uma tentativa de, ao mesmo tempo, chegar ao centro de tudo o que está acontecendo e proteger sua própria posição.
Não é preciso dizer que não funciona e, ainda iniciante e diante de interesses bem mais complexos, o próprio Batman acaba se tornando um peão das circunstâncias, tanto quanto Bruce Wayne. A sensação, o tempo todo, é de estar apenas reagindo ao que vem pela frente, em vez de controlarmos o tradicional detetive inteligentíssimo. Ele existe, sim, e está lá, mas os eventos mostrados pela Telltale dão a desconfortável sensação de estarem acima das habilidades dele.
Esse desenvolvimento todo, felizmente, aparece aqui sem os problemas de performance que incomodaram bastante, principalmente, no capítulo anterior. Claro, ainda existem falhas na sincronia labial e algumas quedas na taxa de frames aqui e ali, mas em comparação com os dois primeiros episódios, a Telltale consegue, finalmente, colocar sua já arcaica engine para funcionar direito.
Enquanto a trama se entrelaça, entretanto, continuamos a perceber os graves problemas de localização que devem incomodar bastante quem não fala inglês. Falhas de tradução e sincronia, além de frases que aparecem na tela sem serem ditas pelos personagens, trazem certa confusão para os diálogos, além de, muitas vezes, não darem a noção exata do tipo de reação que será obtida a partir das escolhas de respostas.
Não é como, porém, se a Telltale fizesse escolhas que realmente importam, e aqui, isso fica mais do que claro. A origem do personagem Duas Caras não é spoiler para ninguém, mas no game, entretanto, ela não pode acontecer da forma como deveria de acordo com suas opções ao final do segundo capítulo. Isso, entretanto, não altera a espiral de loucura na qual ele termina envolvido. Os motivos, dependendo de sua escolha, simplesmente não fazem muito sentido.
Fica claro, mais do que nunca, que a desenvolvedora possui uma história muito bem definida para contar. Isso é bom, pois a trama é bastante interessante e com reviravoltas pouco previsíveis, algumas que começam a aparecer já neste terceiro episódio. Isso, por outro lado, contrasta com a proposta de escolhas e controle sobre o enredo fomentados pela companhia desde seus primeiros jogos. A fórmula está começando a cansar.
Tirando a bizarrice citada acima, Nova Ordem Mundial pega as armas apenas polidas do episódio anterior e as disparam com extrema violência na direção de Bruce Wayne. Ele, agora, está em uma situação que não apenas é imprevisível, como também o extirpa de praticamente tudo aquilo que via como concreto. E o trailer do próximo, exibido depois dos créditos, mostra que o que falta de desconstrução ainda vai acontecer.
Como em um bom seriado, o capítulo deixa os fãs ansiosos pelo próximo. E essa, ao lado da trama, acaba sendo o maior trunfo de Batman: The Telltale Series. Com capítulos interessantes, a desenvolvedora nos coloca como em uma partida bem jogada de poker: as cartas estão dadas e as chances de vitória não parecem grandes. Agora, é hora da última virada de carta, que vai definir se, e como, chegaremos à vitória.
O jogo foi testado no PlayStation 4.